Nights of Azure 2 – Análise

A chegada de Nights of Azure 2 é um momento muito especial, pelo menos para aquele pequeno grupo de pessoas que adora as experiências que a Gust nos vai apresentando. Experiências essas que já partilham suficientes traços em comum para permitir definir uma personalidade para este estúdio Japonês. Celebrizada essencialmente através da série Atelier ao longo dos anos, a Gust começou a expandir a sua criatividade com novas propriedades intelectuais, como Blue Reflection em 2017 e Nights of Azure em 2016. A aposta em experiências focadas em protagonistas femininas, com temáticas reais e actuais combinadas com mundos de fantasia, tem fascinado o seu público. Nights of Azure 2 é mais uma aposta nesse sentido e uma curiosidade ainda maior, graças à versão Switch.

Nights of Azure 2 é o primeiro jogo da Gust na Nintendo Switch e marca uma espécie de transição. As versões PS Vita dos seus jogos não mais chegam ao Ocidente e os futuros jogos chegarão em simultâneo à híbrida da Nintendo. Para quem gosta de desfrutar dos títulos da Gust em modo portátil, esta é a primeira amostra do que conseguem fazer na Switch e uma forma de incentivar o estúdio a apostar nesta plataforma. Tal como o original, a sequela chegou à PS Vita no Japão e teve de se estruturar de forma a ter em conta as fraquezas dessa plataforma, logo não surpreende que Nights of Azure 2 combine muito bem com a consola da Nintendo, especialmente em modo portátil. É um jogo que desde a nascença teve em conta a existência de uma versão portátil. A existência dessa versão PS Vita no Japão poderá ser desde logo um sinal alarmante que a sequela não cresceu o suficiente no seu tom e ambição, sacrificados para acomodar uma plataforma mais fraca, sem esquecer o curto espaço de desenvolvimento.

Tal como o original, este é um conto de sacrifício e amor entre mulheres que tentam impedir o fim do mundo sem sacrificar as pessoas que mais amam. Nights of Azure 2 aborda os mesmos temas do original e a Gust conseguiu simplificar o enredo, algo que resulta numa experiência mais fluída e fácil de compreender. Entre o habitual fan-service e personagens cliché, Nights of Azure 2 consegue bons momentos e ficamos sempre a pensar se por entre os momentos infantis e de embaraço, não estarão a ser abordados temas sérios. Muito mais directo e focado, o enredo de Nights of Azure 2 perde menos tempo com personagens secundárias tontas e foca-se no que interessa. A Gust também colocou o papel dos Servos em segundo plano e focou-se na apresentação de mais personagens de suporte em torno de Aluche, a protagonista.

“A linha entre RPG de acção e Musou é muito ténue em Nights of Azure 2, mas a Gust implementou várias mecânicas RPG para mais profundidade.”

Tendo em conta que o jogo pode ser terminado em cerca de 10 horas, não admira que a experiência se sinta tão focada e com menos rodeios. Por um lado reforça o valor de Nights of Azure 2, mas pelo outro poderá sentir-se como um jogo curto. Algo que a Gust tenta resolver isso com missões secundárias e a evolução dos Servos ou das personagens de suporte. Em Nights of Azure 2 terás de, tal como o primeiro, gerir o tempo de cada incursão, caso contrário serás chamado de volta para o Hotel e a lua fica mais escura, assinalando o iminente domínio completo dos demónios. Nights of Azure 2 é um jogo mais dinâmico e até divertido do que o original, mas poderá assumir-se como um jogo menos profundo. Em vários momentos, senti que estava a jogar um Musou e não propriamente um RPG de acção, sentindo que as mecânicas RPG foram simplificadas para favorecer uma experiência de maior ritmo.

Nights of Azure 2 recupera os Servos do primeiro (as criaturas que te acompanham e combatem a teu lado), mas colocou-as em segundo plano e dá primazia às parceiras de combate. Na sua demanda para salvar Liliana da Rainha da Noite, Aluche contará com diversas camaradas que lutam a seu lado (controladas pela I.A.) e são estas o grande destaque deste Action RPG. Quanto mais lutam a teu lado, mais forte fica o laço entre Aluche e essa amiga, permitindo desbloquear habilidades e ataques devastadores, específicos dessa personagem. Alguns Servos permitem aceder a novos locais nas masmorras e alguns até se transformam em armas com atributos únicos, ramificando a experiência mas sem tirar o maior foco na acção rápida. Os golpes executados por duas personagens tornaram-se numa das principais bases da experiência e marcam esta corrida contra o tempo pelo mundo de eterna noite.

Onde as experiências da Gust continuam a revelar as suas origens humildes é na vertente tecnológica e escala dos projectos. Nights of Azure 2 volta a insistir em locais básicos, relativamente despidos, separados por zonas, o que força constantes interrupções na acção ao transitar entre áreas. A qualidade gráfica é relativamente básica para os padrões actuais, mas o que mais magoa a experiência é a constante interrupção na acção, por mais rápido que seja o carregamento. Para um jogo cujo sistema de combate é rápido e com uma personagem que corre pelos cenários a grande velocidade, estas áreas divididas têm um impacto negativo na experiência geral.

Nights of Azure 2 é um jogo característico da Gust. Está repleto de personagens adoráveis, neste caso exclusivamente mulheres, roupas inacreditáveis cujo único propósito é promover a sensualidade destas personagens, apresenta um gameplay fácil de aprender com algumas mecânicas mais profundas e uma qualidade técnica inconsistente. Comparado com o primeiro, a sequela simplificou o enredo e o sistema de combate, mas isto até resulta numa experiência mais agradável. No entanto, ficou um jogo mais curto, mais ligeiro nas mecânicas RPG e cuja vertente técnica continua a ser insuficiente. Esta é a Gust que conhecemos e adoramos, mas já está na hora de subir a parada.

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