Super Seducer – Análise

Será que existe uma espécie de guião que podemos seguir num encontro para assegurar que temos sucesso com as mulheres? Richard La Ruina, o autor de vários livros sobre encontros, acredita que sim, apresentando-se a ele próprio como um exemplo de alguém que foi melhorando com o tempo e aprendendo como lidar com as mulheres, engatando com sucesso várias mulheres nas discotecas de Londres. De acordo com a sua autobiografia, disponível no seu site oficial, perdeu a virgindade aos 21, mas não teve mais sucesso com as mulheres até aos 25 anos de idade, até que ouviu falar de algo chamado “PUA Training”. O significado de PUA é “Pick-Up Artist”, que em português se traduz por um artista do engate. Depois de vários livros, Richard La Ruina virou a sua atenção para um novo formato, os videojogos, e assim surgiu Super Seducer.

Super Seducer é mais um filme interactivo, no estilo de Night Trap para a Sega Saturn, do que propriamente um videojogo. Foram gravadas cerca de oito horas em vídeo para compor todas as cenas. No total são dez cenas, cada uma numa situação completamente diferente da anterior. Em cada cena terás que realizar as escolhas correctas, com objectivo de convencer o teu alvo a dar-te o número de telefone ou até a ir contigo para casa. Faças a escolha certa ou errada, Richard La Ruina, o teu treinador de engate, aparece sempre para te explicar porque razão a tua escolha está certa ou errada. A promessa de Super Seducer é que depois de chegares ao fim, não importando a tua idade ou aparências, serás “capaz de atrair e manter mulheres que antes pareciam inatingíveis”.

Ao longo dos vários capítulos vais aprender a abordar e a falar para mulheres na rua, numa discoteca, no escritório e no café. Também há episódios sobre como transformares uma amiga em namorada e como lidares com um primeiro encontro. Como videojogo, Super Seducer é capaz de vos colocar a rir desesperadamente com algumas das respostas e abordagens. Podemos tentar espreitar por debaixo da mini-saia, começar a esfregar as nossas partes privadas ou até insultar o alvo do engate, insinuando que é uma prostituta. Obviamente que estas decisões estão erradas, mas não deixa de ser divertido escolhê-las e ver o resultado. Ri-me bastante enquanto jogava apenas por causa da das respostas “à javardo”.

Como simulador de engate, Super Seducer é questionável. Não me chamo Richard La Ruina, não escrevi nenhum livro sou engate e não me considero um especialista de engate, mas estou armado de uma coisa que todos deviam ter: senso comum. É altamente improvável, para não dizer impossível, que depois de terminarem Super Seducer sejam capazes de convencer qualquer mulher a sair convosco, muito menos uma estranha que está a atravessar a passadeira, como mostra o primeiro capítulo. O próprio Richard La Ruina admite no site oficial que só depois de seis meses a treinar para se tornar num artista do engate é que começou a ter resultados.

“É altamente improvável, para não dizer impossível, que depois de terminarem Super Seducer sejam capazes de convencer qualquer mulher a sair convosco”

Depois há que ter em conta que cada caso é um caso e nem todas as mulheres vão reagir exactamente igual como no jogo. Se queres mesmo aprender a lidar com mulheres, o melhor é mesmo começares a tentar. Super Seducer pode dar-te algumas directrizes, mas não mais do que isso. Por vezes reparei em ambiguidade por parte das personagens, que reagem de formas inesperadas. Quando uma das mulheres perguntou se éramos gays porque estávamos bem arranjados, confesso que fiquei perplexo. Se estivéssemos na idade da pedra, até compreendia, mas hoje em dia acredito que toda a gente se arranja minimamente quando é para sair à noite (ou simplesmente para sair de casa), já para não falar que a pergunta vem carregada de preconceito contra os homossexuais.

Há outras situações bizarras, como as duas mulheres que aparecem deitadas na cama ao lado de Richard La Ruina quando se acerta na resposta. É como se as mulheres fossem tratadas como um objecto, e não anda muito longe da verdade. Pessoalmente, gostava de saber a opinião das senhoras. Para um jogo que supostamente nos ensina como interagir e ser apelativo para as mulheres, há uma falta enorme de feedback do sexo oposto. No final, a lição que se retira das técnicas de engate é tenham confiança em vocês e não façam nada de estranho, pelo menos enquanto ainda estão na aproximação e negociação. O resto é uma conversa normal entre duas pessoas em que se pergunta sobre aquilo que gostam de fazer, o que estudaram, ambições para o futuro e, se houver clique, uma troca de elogios e depois talvez algo mais.

Podem chegar ao final dos capítulos em cerca de 6 horas, isto se não perderes tempo a ver o resultado de todas as decisões (tirando aquelas mais parvas, não vale a pena). Depois de jogar, não me sinto mais sábio nem um mestre do engate. Não há como negar que existem coisas que vos podem tornar mais apelativos: ser simpático, demonstrar empatia, saber conversar e perceber quando é o momento certo para escalar a intimidade. No entanto, não existe uma fórmula nem muito menos um livro de instruções a seguir. Aliás, acreditar que uma mulher é um simples quebra-cabeças que vocês conseguem resolver com algumas técnicas é desesreitador. Como videojogo, Super Seducer tem momentos divertidos apenas graças à estupidez associada a algumas respostas. Como simulador de engate, é limitado e potencialmente ofensivo.

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