Sea of Thieves – Análise

Confesso que Sea of Thieves era um daqueles jogos que me fazia ansiar pelo seu lançamento, há muito que eu e alguns amigos procurávamos um jogo de aventuras com piratas, imaginando o potencial cooperativo de uma tripulação a trabalhar em conjunto para desenterrar tesouros, enriquecer e passar dias a beber rum e a desfrutar do sol de paragens mais tropicais. Claro que tudo isto tinha também como base a nossa experiência em títulos como Guns of Icarus, onde o trabalho em equipa é essencial para o sucesso. E, vamos admitir, poucas coisas são mais satisfatórias nos videojogos do que um grupo de amigos a ultrapassar obstáculos e cumprir objetivos.

poucas coisas são mais satisfatórias do que um grupo de amigos a ultrapassar obstáculos…

Sea of Thieves, da Rare, chegou com todas essas promessas e mais algumas, revelando um mundo luxurioso e magnificamente recriado, onde iríamos vestir a pele de um pirata e partir para alto mar para viver um sem número de aventuras e desventuras, enfrentando os rudes golpes das ondas em troca de um punhado de relíquias e ouro.

As primeiras horas de jogo corresponderam quase na totalidade às nossas expetativas, envolvendo-nos no misticismo da atividade e num mundo cuidadosamente desenhado para oferecer grande versatilidade em termos de abordagem. O mar é traiçoeiro mas apaixonante, e isso a Rare conseguiu retratar na perfeição, adornando o gameplay com o seu ciclo dia/noite que oferece algumas das imagens mais belas que alguma vez um videojogo nos ofereceu, algo bem personificado pelos gloriosos pôr-do-sol depois de um dia a trabalhar no convés.

O jogo faz muito pouco para explicar-nos o que fazer, por isso cabe-nos usar a imaginação e bom senso para descobrir onde recolher missões, como operar uma navio na perfeição e trabalhar o nosso sentido de orientação. Mas é aí que reside a sua maior beleza. O simples ato de colocar um Galeão em movimento é extremamente gratificante, uma vez que envolve todos os elementos da tripulação. O Capitão no leme, marujos a subir a descer as velas, outros atentos à sua direção para aproveitar o vento, e, de preferência, alguém dedicado a examinar o mapa, oferecendo preciosas indicações sobre os caminhos a traçar para levar a cabo as missões que recolhemos de três facções distintas. Uma vez em movimento, invade-nos aquela sensação de aventura e imprevisibilidade, afinal de contas, estamos a partir para o desconhecido e não sabemos muito bem que perigos vamos encontrar.

Uma vez em movimento, invade-nos aquela sensação de aventura e imprevisibilidade…

Aquilo que nos leva a içar a âncora são esses três tipos de missões. A facção Gold Hoarders pede-nos para encontrar tesouros enterrados, a Order of the Souls desafia-nos a encontrar e matar Capitães já perecidos e trazer de volta os seus crânios, e a Merchant Company está apenas interessada em usar-te como uma espécie de UPS dos mares, transportando e entregando animais. Para além de alguns encontros ocasionais que nos levam a encontrar loot valioso perdido no fundo do mar e em algumas ilhas mais ou menos suspeitas, pouco mais há para fazer em termos de quests. Levar a cabo as missões faz subir a nossa reputação junto das respetivas facções, com o objetivo último de nos tornarmos em Piratas Lendários, e, claro, recebemos em troca ouro para poder gastar em items e missões

Porém, estes items são apenas cosméticos, servindo para adornar a nossa personagem e navio, sendo que algum deles têm um custo extremamente elevado. Se pensarem no assunto, vão ter de repetir vezes sem conta o mesmo tipo de missões para obter a unidade monetária in-game que vos permite comprar pernas de pau, palas, ganchos, velas e outros enfeites para o Galeão. As Voyages (o nome que é dado às missões), vão crescendo em termos de dificuldade e complexidade, mas, tirando algumas alterações à abordagem, passado pouco tempo, tudo começa a parecer mais do mesmo. Estabelece-se uma rotina, que faz com que o sistema de progressão seja muito desinteressante, especialmente se os items cosméticos não forem a vossa praia, como é o meu caso.

Este facto acarreta vários problemas. Se não fazemos questão de ter ouro para comprar cosméticos, a diversão do jogo chega do seu mundo partilhado, no qual podemos encontrar outros navios tripulados por jogadores, gerando-se momentos de tensão enquanto tentámos perceber se vamos ser atacados ou não, ou enquanto decidimos se temos alguma hipótese de os afundar. É neste aspeto que o jogo brilha realmente, o crescendo de tensão, as potenciais negociações, a escolha de uma tática de ataque e aquele momento em que é disparada a primeira bala de canhão fazem-nos ferver o sangue e atingir altos níveis de adrenalina.

Existe todo um elemento tático, e é isso o melhor que o jogo tem para oferecer.

Afinal de contas, não se trata de uma batalha só pela batalha, está em jogo também a possibilidade de ficar com o loot dos adversários, ou afundar como o Titanic. Um momento inesquecível colocou a minha tripulação a decidir-se por um ataque lateral a um Galeão que estava de passagem, e foi delicioso assistir à azáfama de companheiros a correr para atenderem às suas respetivas funções, com o Capitão a dar ordens, claro, resultando no afundamento do outro barco, e numa sensação de que éramos realmente piratas, os mais temidos daquelas bandas.

Verdade seja dita, o grau de diversão que o jogo nos oferece depende muito das pessoas com as quais estamos a jogar. Tive a sorte de encontrar jogadores com mais experiência, que me ensinaram os básicos de Sea of Thieves e me convidaram para ser um membro permanente da sua tripulação. Noutras alturas, encontrei grupos descoordenados onde cada um fazia mais ou menos o que lhe desse na real gana, e ficou claro que o jogo não premeia a desorganização. E é exatamente nestas batalhas navais que isto mais se nota, onde realmente interessa o grau de habilidade e criatividade dos elementos que ocupam o mesmo Galeão, porque o jogo oferece várias possibilidades para cumprir um mesmo objetivo. Existe todo um elemento tático, desde a sabotagem às abordagens mais diretas, passando por ataques mais tresloucados que envolvem barris de pólvora, e é isso o melhor que o jogo tem para oferecer.


Continua…

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