MLB The Show 18 – Análise – Portugal ainda a descobrir o basebol

Os americanos conseguem transformar qualquer modalidade desportiva, por mais desinteressante que seja, num espectáculo, e isso acaba por distingui-los. Há umas décadas, viam o futebol como um jogo aborrecido, mas hoje é diferente. Já enchem estádios, acolhem alguns dos maiores jogadores (apesar de estarem já em final de carreira), vibram entusiasticamente sempre que acontecem golos de bandeira, e começam a olhar para o futebol europeu de outra forma. Depois há as modalidades que são suas, das quais nunca abdicam; a NBA, a final do Super Bowl, o basebol, entre muitas outras. Por cá é ao contrário, só algumas minorias acompanham os desportos norte-americanos de maior envergadura. Basta abrir um dos três diários desportivos. Cerca de 90% dos conteúdos versam sobre futebol. As intrigas e polémicas, as arbitragens e as crónicas de um presidente inimputável (perdoem-me os adeptos do Alvalade, mas para um clube com aquela História, mereciam muito melhor) ocupam um jornal de uma ponta à outra.

Por isso é que chegamos aos jogos olímpicos e participamos apenas nalgumas modalidades, nas quais só um punhado – se tanto – de atletas tem algum sucesso. São recebidos como heróis no aeroporto, depois de rejubilarmos com a selecção de futebol e festejarmos em Lisboa ou no Porto mais um campeonato nacional. Se o basquetebol ainda tem algum destaque, o basebol é como uma modalidade extraterrestre. Não há campos adequados e ninguém joga com um taco a correr entre as bases. É verdade que é um jogo com regras muito especiais, que requer atenção e conhecimento para ser percebido e desfrutado, mas quando bem disputado consegue proporcionar momentos de grande emoção.

1 Visualmente, MLB The Show 18 é o mais forte da série, com destaque para a animação dos atletas e luminosidade.

Assim, MLB The Show 18 dirá pouco à maioria dos leitores do Eurogamer e provavelmente passará ao lado. Talvez alguns de vós (a avaliar por cima) saibam que esta é a mais recente edição de uma série exclusiva da SCE, cujo original remonta a 2006, lançado para a PlayStation 2 e produzido pelo SIE San Diego Studio, pai e senhor da série. É uma produção particularmente dirigida para o mercado norte-americano e para os países onde o basebol está implementado como grande modalidade, mas com o foco apontado aos EUA dado ser o jogo oficial da MLB, a maior liga de basebol, com todos os seus atletas, lendas e comentadores.

Esta produção desenvolvida anualmente apresenta algumas características cruciais: o seu elevado realismo, uma descrição muito precisa da modalidade, com todas as equipas e atletas modelados ao mais pequeno detalhe e um grau de complexidade significativo. É neste último ponto que The Show acaba por criar algumas entraves diante de uma audiência desconhecedora da modalidade. Apesar dos imensos “tutoriais” disponíveis para quem começa a jogar pela primeira vez, é imprescindível um conhecimento deste desporto, sob pena de não se fazer ideia daquilo que acontece em campo, ainda que grande parte dessas regras sejam transmitidas na fase inicial se optarem por jogar na opção principiante.

Acontece que o jogo é algo omisso em proporcionar um rápido conhecimento da modalidade, pressupondo que o utilizador seja um conhecedor das regras elementares. O basquetebol ou golfe são mais simples, embora o basebol, na realidade, também o seja, mas há muitas regras secundárias que fazem a diferença e ajudam a separar aqueles que desfrutam do jogo dos que tiram o seu máximo proveito. Para os americanos, MLB está no topo das preferências, e por isso é desenvolvido com a sua audiência em mente. Para eles é do melhor.

2 O editor dos jogadores é muito completo e permite recrear qualquer pessoa.

Esta é a terceira edição desenvolvida para a PlayStation 4. Robusta e sólida em termos de conteúdos, contempla várias opções (precisam de aproximadamente 50 GB de espaço no vosso disco), embora o primeiro aspecto a destacar-se seja o quadro dos visuais, apontado ao elevado realismo, aproximando-se do que pode designar-se como uma transmissão televisiva em alta definição. Os atletas são representados ao mais pequeno detalhe (observamos os vincos nas calças), com movimentos bastante realistas e uma luminosidade e colorido incríveis. Graficamente é impecável, percebendo-se que muito bem têm andado os produtores a trabalhar no motor gráfico. Além disso, a captura da atmosfera e ambiente vivido nos estádios durante um jogo é irrepreensível, não faltando os comentários e sons de incentivo vindos da bancada quando há mais alguma tensão.

De resto é um jogo que vê transitar grande parte da matéria dada em edições pretéritas. No conjunto ainda é a mesma jogabilidade. Quase inalterada e com poucas mudanças. Refira-se, no entanto, que essas mudanças orientaram-se para um maior realismo e por isso a sensação de gratificação em certas jogadas está melhor, especialmente através da implementação de novas animações. Alguns movimentos dependem do “timming” e precisão com que activamos os comandos, mas a reacção dos atletas torna-se mais natural e fluída, quando comparada com a edição passada, que manifestamente projectava algumas dificuldades.

3 O conhecimento da modalidade é essencial a fim de tirarem proveito do jogo, mas poderão investir nas sequências de aprendizagem e seleccionar os comandos de acordo com as vossas preferências.

Os três grandes modos de jogo são “franchise”, “road to the show” e “diamond dynasty”, todos já representados na edição passada, mas que acabaram por beneficiar de pontuais alterações, com destaque para os ângulos de câmara renovados em “road to the show”. As alterações no modo “franchise” não são muito significativas. São sobretudo de ordem cosmética e funcional, esquecendo o conteúdo. Por outro lado, a pensar numa espécie de modo lendas e nos coleccionáveis, “diamond dynasty” é a opção mais segura, a que nos dá acesso a um bom acervo de lendas da modalidade (desde que as conheçam). Aparte algumas alterações noutros conteúdos (desaparecimento do modo seasons) e a retirada da opção online no modo “franchise”, em termos gerais não há como negar as imensas possibilidades à disposição.

Num país onde o basebol é uma modalidade popular, é natural que o jogo oficial da da MLB espelhe esse mesmo entusiasmo e funcione como um sinal capaz de replicar em torneios online esse mesmo impacto. Em Portugal, podendo encontrar um punhado de adeptos, a verdade é que o basebol ainda é desconhecido da grande maioria e por isso o possível impacto do jogo acaba por se diluir perante uma oferta tão grande e diversificada. Além disso, o desconhecimento da modalidade, seus atletas, clubes e regras, acaba por afastar potenciais interessados. Se no entanto derem uma oportunidade, ou quiserem saber um pouco mais sobre o basebol que tanto é amado nos EUA, esta é a melhor experiência. Não só porque não há outras, mais leves e arcade, mas por ser eficaz e tremendamente completa, apontada ao realismo. É verdade que não prescinde de um esforço de adaptação, mas assim que começarem a jogar e dominar as regras percebem que os americanos também são bons em tornar espectaculares as modalidades desportivas.

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