Burnout Paradise Remastered – Análise

Remasters. Como viver em 2018 e não falar deles, e da forma como a sua abundância acabou por retirar qualquer significado à expressão dentro da indústria de videojogos. A verdade é que temos dois tipos de versões remasterizadas de videojogos, aquelas que carregam a nova versão de elementos refrescantes e reformulações drásticas, e as que oferecem apenas algumas novidades menores a jogos mais antigos.

Burnout Paradise Remastered, infelizmente para alguns fãs, encaixa-se nesta última categoria, falhando em apresentar, por exemplo, melhorias visuais significativas em relação ao original. Claro que os modelos e texturas estão ligeiramente mais polidos, oferecem resolução 4K, mas nada que justifique uma compra única e exclusivamente por esse motivo – o que é estranho, uma vez que temos no mercado consolas capazes de resoluções 4K e funcionalidades HDR, que parecem algo desaproveitadas no título de 2018. Felizmente, Burnout Paradise demonstra de forma cabal que não precisa de nada disto para continuar a ser um jogo espetacular.

O remaster junta num só pacote todos os conteúdos adicionais que foram lançados ao longo dos anos, com as tais resoluções Ultra HD e 60 fotogramas por segundo. Porém, nada disto faz com que Burnout Paradise Remastered possa ser confundido com um jogo moderno, especialmente se olharmos para jogos como Gran Turismo Sport, Forza Horizon 7 ou até F1 2017, apesar de ter para mim que mais algum trabalho neste capítulo teria permitido a “confusão.” Ok, não é um remaster ao estilo de Shadow of the Colossus, mas não deixa de ser um título incrivelmente divertido, como era há 10 anos atrás, quando foi lançado originalmente.

Burnout Paradise Remastered mantem-se fiel à sua visão arcade original, que tanto divertiu os fãs desde 2008.

Ok, passada a fase da análise ao embrulho, resta-nos mergulhar no conteúdo, nas corridas, que tiram o máximo proveito do aumento do rácio de fotogramas. Mais ainda, é um lufada de ar fresco num panorama de jogos de corridas que parecem um sprint para ver quem consegue adicionar mais camadas de complexidade a um modelo que, amiúde, beneficia de uma abordagem simplista. E é exatamente isto que Burnout Paradise Remastered faz, manter-se fiel à sua visão arcade original, que tanto divertiu os fãs.

O mundo aberto do jogo encoraja a exploração, se não for para encontrar cartazes espalhados por Paradise City, para descobrir caminhos secretos ou parar em qualquer semáforo para dar início a um novo desafio de corrida, que pode consistir em enfrentar adversários numa corrida típica do ponto A ao ponto B, atividades que envolvem acrobacias e exercícios de manobrabilidade ou lutar contra a vontade implacável de alguns carros te atirarem para fora da estrada e diretamente contra uma coluna de betão, provocando os acidentes mais espetaculares de qualquer jogo de corridas. Se tivesse de apontar algum defeito às mecânicas de BPR é a necessidade de viajar até uma sucata para poder trocar de carro, caso o que estejas a usar não seja o ideal para determinado desafio, uma mecânica antiquada e aborrecida que podia facilmente ser substituída por um sistema menos intrincado.

O mapa torna-se num elemento central, sendo crucial manter um olho na estrada e outro no GPS, para encontrar o caminho mais curto para vencer uma corrida, já que existem poucos indicadores sobre os caminhos que deves tomar. Se outros jogos em mundo aberto te dão a mão e oferecem pistas visuais sobre a direção da próxima curva ou sobre a aproximação de uma interseção, Burnout Paradise deixa-te aprender com os erros – e acredita, vais cometer muitos ao longo das primeiras horas, porque só depois desse período de habituação inicial te vais aperceber que existem pequenos indicadores, como nomes de ruas ou os piscas do teu veículo a aconselharem um percurso ideal.

Burnout Paradise deixa-te aprender com os teus próprios erros…

Não é nada fácil correr a velocidades vertiginosas e desviar o olhar para o mapa, mas é algo que vais passar a fazer de forma inconsciente depois de te adaptares. Como se não bastasse, não faltam alternativas e atalhos que terás de descobrir por ti mesmo, com o risco acrescido de arruinares uma boa posição.

Em relação aos veículos, existem mais de 150 que vais desbloqueando à medida que amealhas vitórias e pontos para a carta, espalhados por diversas categorias, todas elas mais apropriadas para determinado tipo de evento. Entre os que mais se destacam temos os carros clássicos, motos e carros brinquedo, um deles na forma de um carro de Fórmula 1 em ponto pequeno que, especialmente com os nitros ativados, se torna numa besta bastante difícil de controlar. O desafio de conseguir masterizar a condução de máquinas tão distintas vai prender-te durante horas, até porque a sensação de conseguir dar o melhor uso aos carros mais velozes é imbatível e confere uma vantagem para superar as dificuldades que o jogo te atira para cima.

Um destaque muito especial para a banda sonora, que carrega um sentimento de nostalgia que não conseguimos evitar sentir sempre que passeamos por Paradise City. Composta por grandes sucessos dos anos ’90 e ’00, as faixas transportam-nos para uma espécie de dimensão alternativa, onde tudo o que importa é acelerar ao máximo e desfrutar das paisagens da cidade. Talvez só GTA e Mafia consigam rivalizar com um seleção tão brilhante de músicas, cuidadosamente escolhidas para se enquadrarem no tipo de jogo no qual estamos mergulhados. Parece um pormenor, mas a banda sonora de Burnout Paradise Remastered é dos elementos mais importantes em termos de imersão.

Se a franquia cinematográfica Velocidade Furiosa pudesse ser comparada a um videojogo, seria certamente a este. Apesar dos filmes terem desvirtuado um pouco a paixão pelos carros, Burnout Paradise é o que os primeiros filmes de Dom Toretto foram, uma carta de amor à velocidade, à perícia, à vontade de queimar borracha no asfalto a velocidades que fazem com que o mundo à nossa volta fique desfocado, colocando-nos bem no centro de uma ação pura, sem rodeios nem folheados, algo que, honestamente, sinto muita falta nos videojogos. Se o jogo de 2008 te apaixonou, tens aqui uma excelente oportunidade de renovares os votos, porque a versão Remastered é tão apaixonante agora, como o original foi há 10 anos atrás.

Veredito

Burnout Paradise é uma espécie de parente pobre dos remasters modernos, não apresentando grandes melhorias em termos visuais, algo estranho tendo em conta as novas iterações de consolas que estão disponíveis no mercado. Porém, tem o condão de nos relembrar que nem tudo são gráficos, trazendo de volta toda a adrenalina que o original de 2008 nos ofereceu, e que tem entusiasmado os fãs desde então. A versão Remastered prova que Burnout Paradise é um jogo clássico intemporal, que contraria uma tendência de mercado voltada para os simuladores mais puros e focados na colagem à condução real. Se Velocidade Furiosa pudesse ser comparado a um videojogo, seria certamente a este, e não tenho dúvidas que vos vai oferecer várias horas de diversão pura.

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