Tennis World Tour – Análise – ténis com estilo

Depois do afastamento (temporário) de dois bons rótulos do ténis virtual (Virtua Tennis e Top Spin), a modalidade ficou quase sem representantes, resumida ao super poderoso Mario Tennis. No contexto das actuais consolas, só AO International Tennis quebrou a pausa prolongada nos “courts”, mas sem grande estrondo no que toca a reunir os adeptos da modalidade. É neste contexto que nos chega Tennis World Tour, disposto a retomar a dignidade dos campos de ténis que existiu no passado e a ocupar porventura o lugar mais ambicionado, com foco na simulação e tendência arcade.

Produzido pelo Breakpoint Studio e editado pela Bigben Interactive, TWT conta nas suas fileiras com alguns produtores com créditos firmados em Top Spin, não sendo propriamente um estúdio inexperiente na modalidade. A franquia é nova, com uma margem de evolução ainda muito significativa. Por aqui, aquando o Estoril Open, escrevi umas primeiras impressões depois de um contacto prolongado com uma demonstração que foi possível experimentar no evento. O feedback foi positivo, especialmente no capítulo da jogabilidade, mas faltava compreender o jogo na sua completa dimensão.

Integradas num misto arcade e simulação, as partidas são rápidas e enérgicas. A jogabilidade traduz-se num ponto forte, cujo domínio é essencial nas suas múltiplas vertentes a fim de levarem de vencida os adversários mais fortes. No entanto, é também um jogo bastante acessível, com uma componente típica dos jogos arcade, através da qual qualquer jogador facilmente se adapta ao ritmo e estilo de jogo.

1 Os diferentes pisos justificam alguma adaptação nas trocas de bolas. Em piso de madeira as partidas são muito rápidas.

No entanto, apesar dos bons indicadores no plano da jogabilidade (porventura o seu maior triunfo e o ponto mais sólido da experiência), ainda é um jogo em construção, claramente a dar os primeiros passos rumo a uma produção mais abrangente e perto das expectativas dos que apreciam um bom jogo de ténis. Por enquanto e tendo em conta que neste momento ainda não existem partidas online rápidas ou torneios online, percebe-se que o jogo ainda está em desenvolvimento. Porventura teremos uma consolidação de muitos esforços encetados agora em futuras edições, até porque omite alguns dos melhores jogadores do ténis e no capítulo das animações, apresentação e grafismo ainda muito pode ser feito para que possa alcançar o estatuto de referência no género.

A acessibilidade na execução dos movimentos do jogador, pancadas e serviços não significa ausência de elementos competitivos, antes pelo contrário. Há uma barreira dentro da competição que só é superada depois de percorrermos pelo menos os eventos básicos de um extenso “tutorial”, através do qual praticamos todas as técnicas e movimentos. Um elemento essencial é a barra de resistência, que se esgota à medida que vamos jogando os sets, e um pequeno círculo ao meio que define a intensidade da pancada. Se pressionarmos muito o botão de uma determinada técnica, a pancada será mais forte e a bola chegará depressa ao terreno do adversário, mas a precisão é menor, pelo que poderá bater fora das margens.

Dominar os princípios básicos, conjugados com a técnica “sprint” (R2) e todas as pancadas através de diferentes técnicas, é essencial para prosseguirem em todas as frentes, especialmente no longo modo carreira, onde serão postos à prova. A criação do avatar é simples, embora não tenham um editor muito alargado. Traçado o perfil do atleta, o objectivo passa por subir nos rankings até à posição cimeira. Para isso terão que participar em torneios e vencer adversários normalmente colocados à vossa frente no ranking, ganhando preciosos pontos contra adversários mais fortes.

2 Existem estádios de grandes dimensões, assim como courts mais pequenos, onde começa a carreira de um tenista.

A estrutura do modo carreira assenta num sistema bastante realista, com particular incisão sobre o desgaste do atleta, sendo essencial descansar por alguns períodos e recuperar a forma em sessões de treino. Estas escolhas afectam a progressão. O objectivo passa por não acusar demasiado desgaste. A tentação pela participação constante em torneios é grande mas há que ter em conta o desgaste e o risco de lesão. Os planos devem ser traçados a longo prazo e ponderadas várias temporadas até ao assalto ao primeiro lugar. Este é o modo mais alargado e que ocupa mais tempo a percorrer. Além disso, permite o acesso às cartas de habilidades, um sistema inovador que prima pela novidade e modifica a jogabilidade da forma a que estamos acostumados.

Estas cartas são como trunfos e podem ser usadas em determinados momentos. Com a sua utilização o jogador melhora certas características do seu atleta, seja no começo dos encontros ou em momentos específicos do jogo. Este sistema funciona como uma dimensão psicológica, como indicações dadas pelo treinador que o atleta irá aplicar. Actuando como bónus, as cartas melhoram a performance, especialmente nos encontros mais difíceis, mas nunca deixam o jogador em condições de invencibilidade. No entanto é o jogador a definir a sua utilização, em moldes estratégicos. Com isto as partidas ganham mais alguma emoção, mas o adversário (controlado pelo computador) poderá responder à altura.

Fora do modo carreira, a participação em jogos individuais ou torneios locais é uma opção, elegendo algum dos 31 atletas disponíveis. A lista é bastante apreciável, contempla 5 mulheres e atletas lendários como John McEnroe e Andre Agassi, mas falta Nadal, por exemplo. Do actual ranking masculino, Roger Federer é o nome mais sonante, mas há outros. Os traços gerais dos atletas estão bem capturados mas parece faltar um extra de detalhe que lhes daria mais luminosidade e rostos mais polidos. Nas repetições são visíveis algumas expressões menos bem conseguidas, sem vida ou olhares de tremendo cansaço. Seguramente, ainda muito pode ser feito quanto à modelação dos atletas, para ficarem mais realistas, detalhados e com uma postura mais convincente.

3 Os 31 atletas estão devidamente modelados, mas ainda é possível acrescentar produção e conseguir resultados mais autênticos.

Apesar dos 18 estádios e diferentes superfícies (pó de tijolo, relva, betão, carpete e madeira), a ausência de licenças dos grandes torneios pesa significativamente. Qualquer torneio do “grand slam” é um irrecusável convite, mas os estádios apresentados são suficientemente convincentes, alguns colocados em locais paradisíacos, embora os haja modestos. O público presente nas bancadas vibra com as partidas e reage com aplausos às nossas melhores jogadas, mas não é um ambiente a transbordar de emoção, assim como os comentários. Melhor neste caso, a resposta das batidas consoante o piso. Em betão a bola desliza mais rápido, enquanto que nos pisos relvados a bola tende a perder alguma velocidade, o que torna as partidas mais duras e desgastantes fisicamente.

Apesar das boas impressões, especialmente no quadro da jogabilidade, graças a uma fornada de opções e técnicas, TWT dá sinais de um jogo ainda em desenvolvimento, estando previstos updates para breve, como a adição de partidas em pares, uma tabela de lideranças (será implementada no dia 12 de Junho), partidas online rápidas, entre outras adições menores. Tudo funcionalidades que deveriam estar disponíveis por ocasião do lançamento. Apurar os movimentos, melhorar as repetições e elevar o grafismo são pontos a desenvolver numa futura edição, assim como a adição de mais licenças e torneios do “grand slam” dariam outra visibilidade. Por enquanto, Tennis World Tour é um jogo satisfatório, uma entrada bem-vinda face à ausência de outros contendores, mas exibe facilmente os seus limites. Num futuro lançamento, com a devida produção e maturação, talvez TWT proporcione resultados no âmbito das melhores expectativas.

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