A colecção dos 30 anos de Street Fighter é uma maravilha para os fãs de fighting games

A série Street Fighter comemora este ano o seu trigésimo aniversário. Criada pela Capcom em 1987, participou na formação e desenvolvimento de um género. Não há um fã de “fighting games” que não tenha pelo menos experimentado uma das suas iterações. Street Fighter confunde-se com “fighting games” e mesmo 30 anos volvidos da primeira experiência continua a proporcionar lutas carismáticas e a promover competições e torneios de grande valor por todo o mundo.

A fim de assinalar a efeméride, a Capcom lançou uma compilação, há uma semana, a que pôs o nome Street Fighter 30th Anniversary Collection. Disponível tanto em formato físico como digital, para as consolas e computador, tem sido recebida pela crítica como um verdadeiro museu, da qual os utilizadores podem jogar algumas das mais importantes obras editadas entre 1987 e 1999, especialmente no seu formato arcade. Mais do que isso, o jogo proporciona um conhecimento integral da evolução da série ao longo destes 30 anos, através de um modo recheado de informação e detalhes históricos que passa a pente fino os principais momentos, com destaque para a comunidade.

A colecção é composta por 12 jogos. O original, publicado para as arcadas em 1987 (um título muito peculiar e que nem parece Street Fighter, mas contém a semente e bases das futuras versões), cinco jogos da linha Street Fighter II (de 1991 a 1994), a fase Street Fighter Alpha (no Japão é conhecida como Zero e vai de 1995 a 1998) e, por fim, Street Fighter III (1997 a 1999). É este o conteúdo da colecção, que só não vai para lá do novo milénio porque Street Fighter IV é de 2008 e faz parte da era moderna, ano em que a Capcom voltou à carga, pondo fim a um prolongado retiro que quase acabou com a comunidade.

1 Com mais recursos gráficos, os produtores da Capcom puderam acrescentar mais detalhes e belos sprites às personagens. SF Alpha é um bom exemplo da qualidade dos jogos de luta em 2D, pela suavidade dos movimentos e desenhos notáveis.

Felizmente, Street Fighter IV funcionou como a ligação da campaínha, convocando os fãs para novos combates. A comunidade reorganizou-se e depressa Street Fighter recuperou a chama de outros tempos, graças a um jogo que produziu algumas alterações com personagens e cenários em 3D, embora mantendo a estrutura dos combates (a perspectiva), tal como a conhecíamos desde Street Fighter II.

Dado curioso na formação desta colecção é o balizamento da evolução da série na sua construção em 2D, pondo de parte uma pequena mas não menos importante ramificação, a linha Street Fighter EX, produzida pela Arika entre 1996 e 2000 e que tem como grande destaque a construção das personagens e cenários em 3D. Street Fighter EX3 é o último jogo da série produzido antes do renascimento com Street Fighter IV. SF EX começou como um original das arcadas, mas depressa ganhou versões nas consolas. Este segmento é uma resposta da Capcom à popularidade dos jogos de luta em 3D durante a metade da década de 1990, quando jogos como Virtua Fighter e Tekken capitalizaram no 3D.

Se até perto de 1995 os jogos em 2D, no formato arcade, impunham a sua força, a entrada das consolas Sega Saturn e PlayStation abriu um mar de oportunidades ao grafismo em 3D, entrando em cena lutadores e cenários em três dimensões. Apesar dos chips limitados das consolas por comparação com as placas gráficas das arcadas, o grau de realização em 3D conheceu um novo impulso, o que se reflectiu num incremento das vendas dos jogos da Sega e Namco, totalmente orientadas para o 3D, enquanto a Capcom permanecia fiel ao seu legado, explorando as possibilidades do 2D mas ao mesmo tempo com um desenvolvimento no 3D.

2 Os primeiros trabalhos em 3D não resistem tão bem à passagem do tempo, mas os combates de Street Fighter EX eram rápidos, embora o aspecto das personagens e a pouca profundidade dos cenários contrastasse fortemente com as ricas e apuradas produções em 2D.

Contudo, a Capcom permaneceu fiel às produções em 2D e não apenas com Street Fighter, relegando para o estúdio Arika a tarefa do novo bloco. Apesar dos esforços e das múltiplas versões lançadas (6 jogos) nas arcadas e nas consolas, a linha EX nunca alcançou o mesmo sucesso das versões Alpha (Zero) e SF III. Mantendo a estrutura de combates com perspectiva em 2D e preservando muitos elementos do original, as grandes diferenças cifraram-se no capítulo do grafismo, embora com alguns ajustes na jogabilidade, especialmente por força das “fireballs”, os projécteis que tornavam os combates diferentes das lutas travadas em Tekken ou Virtua Fighter.

Por outro lado, tanto nas personagens como dos cenários, o grafismo 3D ainda não era muito evoluído naquela época, pelo que a apresentação era globalmente mais tosca, com menos definição do que a conseguida nas versões 2D, através das quais as animações eram suaves e os “sprites” detalhados. Um motor gráfico quando confiado ao grafismo em 2D permitia uma apresentação mais pormenorizada, como desenhos animados, o que tornou SF Alpha particularmente belíssimo nesse contexto. Não obstante, as versões para as arcadas e consolas de SF EX produziram um desempenho aceitável. Talvez pelo menor sucesso e pela ramificação pelo 3D, assegurada por outro estúdio, a Capcom omite cinco jogos e um período de quase seis anos da sua colecção de 30 anos de Street Fighter. É uma decisão que se compreende, mas na sua máxima extensão, poderia conter pelo menos as versões lançadas para as arcadas.

É uma colecção claramente orientada para o 2D, mas atendendo a que a Capcom incluiu o original SF, um jogo bem diferente dos que se seguiriam, não faria mal em oferecer mais algumas opções e um importante feixe da sua história, uma vez que também fazem parte da identidadeda série. Um capítulo porventura menos bem sucedido – e conhecido – do que as investidas no 2D, mas um eixo relevante da importância do 3D, pelo menos na segunda metade da década de 1990.

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