Dragon Quest 11 – Análise – Alma de um clássico num aspecto moderno

Depois da espera adicional de um ano, Dragon Quest 11: Echoes of an Elusive Age finalmente chegou. Se no Japão a série é considerada como um marco nacional, no resto do mundo é um emblema do género JRPG, mas depois de títulos como Octopath Traveler, Persona 5 ou Xenoblade Chronicles 2, a qualidade do género está em grande e existe uma grande responsabilidade acrescida nesta épica série da Square Enix.

O respeito e estatuto alcançados pelo nome Dragon Quest não é fruto do acaso. É resultado de obras meticulosamente concebidas e que apelam ao imaginário de milhões, acessíveis a crianças e igualmente interessantes para adultos. É um equilíbrio delicado e alcançado após grande empenho pela Square Enix – o que torna estes jogos ainda mais impressionantes. Isto também colocou maior expectativa em Dragon Quest 11 pois quem se apaixonou pela série permanece fiel e deseja ver como se enquadra numa actualidade onde o género recebeu boas referências nos últimos tempos.

Dragon Quest 11 parte assim com uma tarefa complicada – respeitar os moldes de uma série clássica perante a necessidade de introduzir melhorias e novidades que a tornem relevantes. O nome não basta. O maior prazer em Dragon Quest 11 é descobrir que a equipa liderada por Yuji Horii conseguiu cumprir com esse propósito e apresenta-te um jogo que se sente como um Dragon Quest clássico, mas que ainda assim enverga bons avanços.

Ao longo das 70 horas que passarás nesta Erdrea, o mundo do jogo, numa jornada para levar o Luminary a salvar o mundo de uma criatura maléfica que ameaça mergulhar tudo no caos, será essa a melhor sensação que poderás ter. A sensação que estás a jogar um Dragon Quest repleto de elementos e detalhes que te fazem pensar nos clássicos, adorável e entusiasmante, mas com uma imagem actual e deslumbrante. As horas passam a voar, acredita.

1 O maravilhoso mundo conquista-te ao longo das suas cidades e diversos locais que vais explorar – inspirados em culturas e locais do mundo real.

Um belo mundo de fantasia

O que mais me fascinou em Dragon Quest 11 é mesmo como consegue parecer um dos clássicos na série, repleto de referências, elementos e características que te fazem pensar que estás a jogar um dos primeiros jogos. Isso significa uma alma doce, repleta de ternura, que a Square Enix conseguiu para esta jornada por Erdrea. Desde o primeiro instante que sentes estar perante um jogo repleto de charme, que fica a meio da ponte entre o passado e o futuro.

Dragon Quest 11 transporta-te para o mundo do Luminary, a reencarnação do herói divino que surge quando a mais temível das criaturas está prestes a iniciar os seus planos. No entanto, as coisas não correm como esperado e o exército dos monstros reage mais cedo do que previsto, o que dá início a uma inesperada sucessão de acontecimentos

“Um jogo repleto de charme, com o tipo de personalidade que só encontras num daqueles JRPGs feitos como deve ser”

Quando começas a jogar, o protagonista sem nome, o Luminary, está prestes a iniciar uma jornada para descobrir mais de si mesmo, sobre os seus poderes e a sua origem – mesmo antes de pensar sequer em combater o mal. O que acontece depois é uma série de entusiasmantes aventuras e desventuras, ao longo de um continente repleto de mistérios. Para cumprir o seu propósito e seguir em direcção ao futuro, o Luminary terá de descobrir mais sobre o seu passado e para isso, precisará de ajuda.

Enquanto descobre sete companheiros de viagem que encontra em diversos locais, o Luminary vai desvendando os mistérios do seu passado e caminhando em direcção à Yggdrasil, a árvore do mundo e a fonte dos seus poderes. O enredo de Dragon Quest 11 está repleto de cenas que te apelam ao coração, mas nem tudo é perfeito. Existem momentos que parecem vir de um filme para crianças e são uma ternura, mas outros são um pouco forçados e até embaraçosos.

O elenco de personagens é interessante, mas não existem aqui designs ou figuras icónicas para a posterioridade. É visível uma constante procura por equilíbrio na busca pela sua identidade – ternura e humor quanto baste, banhados em alguma excentricidade. Muitos até podem sentir que a, já esperada, sensualidade num título Japonês poderá ser demasiada neste jogo e algumas situações estranhas.

No entanto, num JRPG onde uma das maiores novidades são mapas de maior escala onde podes andar a cavalo, é perceptível que Dragon Quest 11 seja um jogo de meios termos – um jogo que tenta usar os atributos clássicos que um nome do seu pedigree lhe concedeu, enquanto tenta implementar algo fresco sem comprometer a sua essência.

2 O Unreal Engine 4 é usado para uma estética que combina um estilo anime com elementos de tom mais realista – é verdadeiramente impressionante.

Para solidificar a sensação de meios-termos que tentam estabelecer pontes, Dragon Quest 11 recorre ao Unreal Engine 4 para apresentar dos melhores visuais que encontrarás num jogo do género nesta geração. Frequentemente, poderás dar por ti a jogar Dragon Quest 11 apenas para ver mais cidades e locais que ganham vida com este aparato visual sensacional. Ao combinar uma estética anime com cenários repletos de elementos que parecem reais, Dragon Quest 11 consegue um resultado simplesmente impressionante. É um dos seus maiores trunfos.

Esta qualidade visual colorida e impressionante é engrandecida com uma das maiores novidades na série – mapas maiores que, apesar de não representarem um mundo aberto, resultam numa ponte entre o estilo clássico e algo mais actual. Como já leste diversas vezes na página, foi um dos maiores objectivos da equipa – não aplicar muitas novidades que pudessem afastar os fãs de sempre. A equipa optou por descartar a ideia de um mundo aberto para manter um melhor equilíbrio entre exploração e narrativa, focando-se fortemente na narrativa. Diria que recompensou apostar nessa postura.

“A equipa optou por descartar um mundo aberto para manter um melhor equilíbrio entre exploração e narrativa”

As paisagens que exploras são vastas e lindas, coloridas como seria de esperar num Dragon Quest, algumas delas incrivelmente detalhadas e estes espaços abertos funcionam bem para te dar a sensação de um mundo enorme, sem ser aberto, sem a momento algum perderes o fio da narrativa (existem imensas indicações do que fazer em seguida, a Square Enix assegurou-se que jamais te sentes perdido). As cidades são igualmente inspiradoras e belas, enaltecendo a estética colorida e sendo dos melhores locais que já visitei num videojogo.

Combates clássicos e acessíveis

Ao percorrer esta Erdrea, verás à tua frente paisagens repletas de monstros que vagueiam por ali. Quando eles te vêm, dirigem-se para ti para iniciar a passagem para um ecrã de combate, mas até podes golpeá-los e aplicar dano antecipadamente. Quando passas para a fase de combate, poderás desfrutar de mais uma das novidades introduzidas na série, a possibilidade de controlar livremente o teu personagem e câmara num estilo mais livre (ao estilo de um Action RPG).

Até poderia ser algo de relevo, mas é uma novidade muito estranha pois apenas o teu personagem se mexe e os movimentos continuam preparados para o estilo clássico, o que te poderá fazer descartar desde logo esta opção que até deixa tão boas indicações. Felizmente, podes optar pelo Classic, onde o jogo controla a câmara e esta salta constantemente entre perspectivas. Dá uma maior dinâmica a estes combates por turnos. Uma experiência realmente clássica, mas que mostra o jogo tal como foi feito para ser jogado.

Tu escolhes qual a melhor. Eu preferi a Classic, mas como referi antes, Dragon Quest 11 foi desenhado e estruturado com uma grande acessibilidade em mente e isso reflecte-se nos combates. Se conheces a série, sabes que Dragon Quest apresenta-te combates por turnos e podes escolher os personagens que controlas. Podes até deixar o jogo a combater sozinho, como também podes escolher entre várias pré-definições para a IA dos companheiros. Certamente ajudará quem não precisa de maior controlo sobre a sua party ou prefere uma experiência simplificada.

É perceptível o cuidado da Square Enix em desenvolver um jogo para todas as idades, um jogo capaz de ser associado ao nome Dragon Quest e a bela estética com designs de Akira Toriyama não é o suficiente.

“Senti que o meu tempo não estava a ser gasto só porque sim e que a história decorria a bom ritmo”

O sistema de combates de Dragon Quest 11 é, como o jogo em si, altamente acessível, mas podes utilizar as novas Draconian Quests – restrições que podem ir de menos XP ganho, não ganhar XP ou monstros mais fortes. A Square Enix apostou numa dificuldade que podes personalizar e isso poderá salvar Dragon Quest 11 para alguns jogadores mais exigentes. Se te quiseres focar na narrativa, podes desfrutar dos combates cujas regras são simples e a IA altamente competente. Isto dá um grande ritmo a Dragon Quest 11 pois não sentes que és incomodado por artificialidades – apenas te estás a divertir.

O sistema de combate é divertido, existem bosses interessantes, alguns deles bem difíceis e nem o grinding te vai incomodar. Geralmente, entre bosses, bastou passar cerca de uma hora para subir 3 níveis e ficava pronto para uma nova etapa. Isto conferiu um incrível ritmo a Dragon Quest 11, senti que o meu tempo não estava a ser gasto só porque sim e que a história decorria a bom ritmo. Tens ainda várias side-quests opcionais (muitas delas relacionadas com o fabrico de itens no acampamento – onde também podes descansar e gravar o jogo).

O grande foco em Dragon Quest 11 continua no equipamento, força-te a adquirir constantemente os mais recentes, para que fiques melhor preparado para o próximo boss. Este equipamento é comprado nas lojas com dinheiro ganho nos combates e este sistema, esta economia de Dragon Quest 11, é muito fácil de entender e mais uma grande prova da filosofia da equipa para alcançar um experiência equilibrada.

3 O sistema de combate é incrivelmente acessível e o grind ligeiro, mas terás de manter o equipamento actualizado para não sofrer desaires.

Um clássico de alma e coração

Dragon Quest 11 é um ponto intermédio para uma Square Enix que demonstrou não querer de forma alguma arriscar e alienar a audiência, mas se quer preparar para o futuro. A equipa entende na perfeição que é preciso trabalhar para tornar a série actual, mas não será à custa da sua própria identidade. No entanto, trabalhou para tornar a fidelidade aos clássicos numa das suas armas, criando uma experiência digna dos padrões que estabeleceu ao longo dos vários jogos da série.

Para muitos será o suficiente para o tornar no jogo de uma vida, para outros será apenas um reflexo de uma conservadora postura de um povo habituado a seguir ao seu ritmo. A Square Enix trabalhou num JRPG de grande orçamento para criar um jogo que uma criança pode, e se calhar até deve, jogar. Desde os menus ao sistema de combate.

“Dragon Quest 11 é um dos mais acessíveis e simples JRPGs dos últimos anos”

Uma das maiores provas que Dragon Quest 11 ainda não é o avanço que muitos podem acreditar ser é a sua banda sonora. Várias das excelentes composições que ouviste em anteriores jogos da série estão de volta e até poderás ficar surpreendido ao ver um momento mágico acompanhado por uma música que já ouviste num outro jogo da série. De igual forma, a ausência de uma banda sonora ainda mais épica, através de mais temas novos e orquestrados poderá fazer-se sentir ao longo do jogo.

É fácil sentir que Dragon Quest 11 é um dos melhores JRPGs dos últimos anos. Um jogo encantador e repleto de bons momentos. Muitos poderão sentir que é demasiado fácil, com um equilíbrio entre clássico e novo muito frágil, mas quando a experiência te embala e os visuais te espantam, entrarás num ritmo incrível e raramente visto em outros jogos do género, sentindo um enorme prazer a jogar. A sensação que tudo combina em bela harmonia sem esforço é o maior elogio que posso tecer a Dragon Quest 11 – simplicidade e acessibilidade manobradas para aumentar o tom épico da experiência narrativa.

5 A adorável fantasia que te apaixona não prescinde da excentricidade Japonesa – não podia ser de outra forma

Dragon Quest 11 é um daqueles JRPGs que te relembra bem o porquê de permaneceres fiel ao género – uma brilhante janela para um mundo de fantasia repleto de belos momentos. A extrema acessibilidade é um reflexo da sua importância no Japão, um jogo para todas as idades, mas a experiência é elevada pela coesa sintonia entre os diversos aspectos que esperas ver destacados num JRPG. Os visuais, os espaços mais amplos, o sistema de combate clássico e o enredo representam passos curtos, mas firmes para o futuro. De forma resumida, apenas posso dizer que Dragon Quest 11 é um dos melhores jogos do género que encontrarás nesta geração.

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