Forza Horizon 4 – Análise – As Quatro Estações

Não são muitas as séries de videojogos que conseguem chegar ao quarto jogo e trazer uma novidade que seja relevante e que tenha um impacto na experiência. O mais comum de acontecer é uma familiaridade excessiva, substituindo a diversão de outrora em fadiga. Não é este o caso de Forza Horizon 4. Sei que tinha dito na análise do anterior que a série tinha atingido o pico, mas contrariamente a todas as minhas expectativas, o novo jogo consegue ser melhor em diversos aspectos, uma prova de que, afinal, a série não estagnou.

A base de Forza Horion 4 continua em grande parte igual ao jogo anterior e às suas origens. É um jogo de carros em mundo aberto, com uma condução que pesa mais para o lado arcade, e que te deixa conduzir centenas de carros das mais variadas categorias. Foi esta a base do primeiro Forza Horizon, lançado em 2012 para a Xbox 360, e continua a sê-lo em Forza Horizon 4, prestes a chegar à Xbox One e Windows 10 PC. Não é de admirar, é uma sequela e raramente as sequelas se desviam de uma base com provas dadas. No entanto, teríamos que ser cegos para não ver a trajectória de evolução que a série Forza Horizon tem percorrido.

O que há de novo? É a pergunta mais natural a colocar quando estamos perante uma sequela, ainda mais quando estamos perante o quarto jogo de uma série. Pois bem, uma das novidades em Forza Horizon 4 são as Estações do Ano. O mapa de jogo, inspirado na região em redor de Edinburgh, roda de estações e muda completamente o cenário e as condições das estradas, alterando consequentemente o comportamento e condução de todos os carros. A implementação de efeitos meteorológicos já existe há algum tempo nos videojogos, mas isto vai mais longe. A troca de estações em Forza Horizon 4 e o impacto que tem na jogabilidade e no mundo do jogo não tem igual.

“A troca de estações em Forza Horizon 4 e o impacto que tem na jogabilidade e no mundo do jogo não tem igual.”

É um passo em frente para os videojogos em mundo aberto e é curioso que tenha vindo do sítio menos inesperado: um jogo de carros. Cada estação tem os seus próprios efeitos meteorológicos e ciclo de dia / noite, portanto, a chuva que terás na Primavera não será igual à do Verão, Outono e Inverno. Os efeitos de iluminação, a forma como o sol embate nos objectos e na pintura do teu veículo, mudam igualmente com as Estações do Ano. A Playground Games foi muito além de criar uma mera “skin” para o mapa. Foi ambiciosa e entregou algo extraordinário.

As condições das estradas também mudam. No Inverno a maioria das estradas ficam cobertas de neve, condições inóspitas para os carros exóticos de grande potência, mas podes divertir-te com peões em cima de lagos e rios congelados. A primavera traz a vegetação mais verdejante que já viste, mas os pavimentos escorregadios das chuvas ainda são constantes. O Verão é a melhor época para conduzir no asfalto e o Outono também não é nada mau, mas já consegues ver nas árvores e nas bermas das estradas as folhas castanhas que caíram das árvores.

“No Inverno a maioria das estradas ficam cobertas de neve, condições inóspitas para os carros exóticos de grande potência”

Os efeitos meteorológicos são dinâmicos, assim como o ciclo de dia e noite, mas a troca de estações não é. A mudança de estação demora meses, portanto, seria estranho que em apenas algumas horas de jogo houvesse uma transição de Primavera para Verão e por aí em diante. O que a Playground Games decidiu fazer é uma rotação semanal das estações. É uma decisão excelente que refresca o jogo regularmente, até porque cada estação tem determinados eventos limitados por tempo, trazendo mais conteúdos para aqueles que querem incentivos para jogar regularmente.

Efectivamente, algumas das novidades de Forza Horizon 4 aproximam-no de um MMO de carros. Supostamente, cada servidor pode ter até 72 jogadores. Nesta fase de acesso antecipado, em que apenas sites especializados tiveram acesso ao jogo para análise, foi impossível de verificar isso, mas praticamente todas as funcionalidades online já estavam operacionais. A excepção são as Team Adventures Ranked, eventos para equipas de vários jogadores que só vão abrir a 2 de Outubro com o lançamento oficial.

Uma delas são os eventos chamados Forzathon Live, que decorrem a cada hora para aqueles que estão a jogar online. Nestes eventos até 15 jogadores podem juntar-se e completar em grupo os objectivos dados pelo jogo, que variam entre acumular skill points, velocidade média a passar por um determinado trecho e velocidade de ponta a passar por um radar. Ao participares nos Forzathon Live receberás uma moeda especial que podes gastar na loja do Forzathon. Nesta loja encontras conteúdos como carros e itens estéticos como buzinas, emotes e roupas para o teu avatar.

É a minha única queixa em relação a Forza Horizon 4, a quantidade de coisas que podes ganhar para o teu avatar (e ainda por cima a maioria das coisas são pindéricas). O jogo ainda te a oportunidade de participares naquelas roletas da sorte sempre que sobes de nível e cumpres determinados objectivos, mas existem tantas coisas que podes ganhar para o teu avatar que raramente sai alguma coisa realmente entusiasmante. Percebo que alguns queiram personalizar o avatar, e ter emotes no final das corridas até é engraçado, mas é mais uma distracção do que propriamente o “sumo” do jogo.

“algumas das novidades de Forza Horizon 4 aproximam-no de um MMO de carros”

O mais incrível de Forza Horizon 4 é a quantidade de coisas para fazer. Se gostas realmente de carros, pode durar meses. Forza Horizon 3 já tinha uma quantidade impressionante de actividades no mapa, mas com as estações a rodar a cada semana juntamente com eventos específicos, as Seasons associadas ao modo Team Adventures, eventos regulares como os Forzathon Live e ainda tudo aquilo que já seria de esperar, como corridas de várias categorias e aqueles momentos cinemáticos em que fazes corridas contra aviões a jacto, hovercrafs gigantes e outros veículos insanos, é fácil ficar perdido no meio de tanta coisa para fazer.

O que importa reter é que, independentemente do que escolhas fazer, vais divertir-te. Até o simples acto de conduzir pelo mapa, sem nenhum objectivo em mente, é contagiante. São tantos carros, todos eles com conduções diferentes, e tantas estradas para conhecer. Não há muito mais que se podia pedir de Forza Horizon 4. Tem tudo aquilo dos anteriores e ainda mais. Podes editar os veículos ao pormenor, criar os teus próprios eventos com as Blueprints, partilhar designs e afinações com a comunidade, fazer leilões das tuas melhores criações, criar clubes de carros… está tudo aqui. Nada do que foi implementado antes foi descartado.

“São tantos carros, todos eles com conduções diferentes, e tantas estradas para conhecer”

A condução continua fantástica. É a combinação perfeita para quem procura um jogo arcade com pequenas particularidades dos jogos de simulação. Como sempre, o nível de dificuldade depende de ti. Reduzires a quantidade de assistências e aumentares a dificuldade dos drivatars aumenta o dinheiro que ganhas em cada prova, portanto, és recompensado por aumentares o nível do desafio. Aliás, recomendo que desligues uma boa parte das assistências de forma a teres maior controlo sob o carro. Uma das assistências ligadas por padrão ajuda-te a travar e arruína-te a negociação das curvas.

Dá mesmo um gozo enorme conduzir em Forza Horizon 4 e atrevo-me a dizer que o novo mapa no Reino Unido é uma das razões. Existe simplesmente algo de maravilhoso em acelerar a fundo com um carro exótico pelo meio do campo. Se tiveres saudades da cidade, podes sempre visitar Edinburgh, que está presente no jogo numa dimensão bastante reduzida. Embora o Reino Unido possa parecer menos diverso do que a Austrália em cenários, a troca de estações do ano eliminam completamente esse efeito. Visitar o mesmo local em estações diferentes é mesmo uma experiência radicalmente diferente.

O pacote de Forza Horizon 4 é complementado por uma banda sonora diversificada, com músicas de diferentes géneros espalhadas pelas estações de rádio, e por uma qualidade visual irrepreensível. Se a troca de estações, os efeitos meteorológicos e a iluminação já são do melhor que encontras num jogo de carros neste momento, a atenção dada aos pormenores é de outro nível. Até a sujidade do carro é diferente conforme a estação. Melhor ainda, se entrares na água com o carro sujo de terra, verás essa camada de sujidade a ficar molhada. Podíamos implicar e dizer que o sistema de danos nos carros não é destrutivo o suficiente (podes partir vidros e ter muitas amolgadelas), mas provavelmente o estúdio tem as mãos atadas por causa das licenças das marcas.

082146Agora até podes comprar propriedades espalhadas pelo mapa. Algumas delas, como um serviço de táxis em Edinburgh, até têm missões de história associadas.

Selo dourado, outra vez? Porque não? Forza Horizon 4 é o pináculo dos jogos de carros com este estilo de condução. Está longe de ser um simulador, mas tem algo para oferecer a todo o tipo de público. Com o jogo anterior, a Playground Games já tinha feito um trabalho soberbo. Em vez de ficar quieta, decidiu superar-se e assim nasceu Forza Horizon 4. O destaque vai claramente para a troca de estações, uma inovação na série e na indústria, e numa estrutura online desenhada para “agarrar” aqueles que desejam fazer deste jogo um hobby diário. Apesar disto, ainda é um jogo perfeitamente válido para quem quer conduzir sozinho, absorvendo a seu ritmo as paisagens tranquilas do Reino Unido.

É um jogo lindíssimo, entusiasmante… será que pareço demasiado empolgado? Bem, é esse o efeito de Forza Horizon 4 numa pessoa que adora carros.

Share