The Sinking City – Análise – Por água abaixo

The Sinking City é um daqueles jogos com potencial palpável que nunca chega a aproveitá-lo na sua totalidade, acabando por se tornar numa experiência insípida e pouco memorável com um revestimento estranhamente apelativo e, por vezes, bastante assustador.

Até os trailers de lançamento são bastante enganadores e exageram imenso aquilo com o qual te vais deparar com o produto final – existe suspense, existem criaturas peculiares e situações arrepiantes, mas nada tão surrealista e surpreendente como aquilo que possas estar a imaginar ou como os vídeos dão a entender.

Acima de tudo, The Sinking City é um jogo de investigação, exploração e dedução. Vais interpretar o papel de Charles Reed, um investigador privado assombrado por visões assustadoras de monstros e cidades afundadas cuja busca por uma cura vai levá-lo à ilha de Oakmont, uma cidade parcialmente submersa que mudou drasticamente desde aquilo a que os habitantes chamam o Dilúvio, estando próxima de uma completa aniquilação.

Apesar de existirem alguns momentos que te vão obrigar a usar as tuas armas e todo o arsenal que trazes contigo (que inclui armadilhas de urso, cocktails molotov, granadas, entre uma série de outros itens), essa é uma parte muito secundária do jogo e, nas primeiras horas de The Sinking City, vais ficar a par do funcionamento básico do jogo, que se repete literalmente até os créditos rolarem, salvo raríssimas excepções.

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The Sinking City é um jogo de investigação, exploração e dedução.

De forma simplista, terás de examinar uma determinada cena do crime, investigar cada recanto à procura de pistas e passar por uma espécie de portal onde terás de reconstruir tudo aquilo que aconteceu para poderes prosseguir com a tua investigação. Assim que souberes para onde tens que ir, terás que repetir os mesmos passos. E assim que souberes para onde tens que ir a seguir, voltas a fazer o mesmo. E sempre assim.

Tendo em conta o mundo relativamente vasto mas incrivelmente detalhado de The Sinking City, é realmente desapontante que um jogo desta amplitude se mantenha de tal maneira agarrado a esta fórmula, quase nunca dando folga. Existem ainda algumas umas missões subaquáticas obrigatórias que terás de completar (com aqueles fatos de mergulho antigos!) que, apesar de poderem soarem empolgantes em teoria, são incrivelmente desajeitadas, pouco inspiradas e, de uma forma geral, correspondem a alguns dos momentos mais aborrecidos de todo o jogo.

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Irás passar 90% do teu tempo a andar pelas ruas de Oakmont – ou a pé ou de barco.

Irás passar 90% do teu tempo a andar pelas ruas de Oakmont – ou a pé ou de barco, já que determinadas secções da cidade estão inundadas – em busca do local, da pessoa ou do objecto certo que te irá fazer progredir na história. Numa era em que a maioria dos jogos te diz TUDO aquilo que tens de fazer e assinala todas as missões no mapa para não te perderes, The Sinking City dá-te pequenas pistas sobre o caso e cabe-te a ti decifrar o passo seguinte.

Tens que falar com uma determinada pessoa com um ferimento no ombro? Então, terás que te dirigir ao hospital, investigar os arquivos e descobrir a morada do indivíduo em questão. Um grupo de foras-da-lei usa o jornal da cidade para contrabandear pessoas para fora da ilha? Então, terás que investigar as edições do jornal local e procurar tu mesmo a localização dos bandidos, usando vários critérios à tua disposição e agrupando-os de uma forma que faça lógica.

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Este ênfase na procura, descoberta e lógica é um dos pontos altos em The Sinking City.

Este ênfase na procura, descoberta e lógica é um dos pontos altos em The Sinking City, colocando a condução da investigação quase literalmente nas mãos do jogador. Tirando um ou outro momento em que deambulei desenfreadamente sem saber o que fazer, apercebendo-me da solução apenas mais tarde, nunca achei a mecânica injusta – é apenas uma questão de prestar MUITA atenção a todos os documentos, depoimentos e itens que reuniste, de olhos bem postos em todas as palavras.

A atmosfera do jogo é também bastante arrepiante – se bem que, como tenho vindo a dizer ao longo da análise, não usufrui de todo o potencial que está lá presente e gostaria que a Frogwares a tivesse levado ainda mais longe. A cidade de Oakmont está completamente decadente, um local sombrio e escuro onde reina a confusão, a dúvida e uma falta de sentido um pouco perturbadora. Monstros habitam nas águas, nas ruas e mesmo dentro das habitações – os quais terás de enfrentar de quando em vez ao longo da tua jornada – mas, infelizmente, existe muito pouca variedade e, passadas algumas horas com o jogo, terás uma ideia mais ou menos exacta de quando vão aparecer e como os podes derrotar.

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As influências de H. P. Lovecraft estão bem visíveis através das criaturas viscosas com tentáculos.

Honestamente, o mais assustador em The Sinking City é a possibilidade de algo assustador poder estar para acontecer – e nunca algo que está efectivamente a acontecer. No entanto, de uma forma geral, o jogo não vai tão longe com a premissa como teria imaginado: as influências de H. P. Lovecraft estão bem visíveis através das criaturas viscosas com tentáculos, parecidas com mutantes, na paranóia existencial que paira sobre o mundo e na dificuldade da distinção entre a realidade e o imaginário que assombra Charles Reed e, para todos os efeitos, não deixa de ser uma obra de terror psicológico; ainda assim, durante a maior parte do tempo que passei com o jogo, acabei por me sentir mais aborrecido que outra coisa qualquer, continuando em frente não exactamente por interesse genuíno mas simplesmente para chegar ao fim da obra.

É importante referir ainda que, à medida que fores recolhendo pistas, podes depois combiná-las e tirar determinadas conclusões num menu a que o jogo chama de Palácio da Mente. A parte mais curiosa é que as mesmas pistas podem dar origem a conclusões distintas, mudando certas partes da história. Não sei até que ponto isto altera o fio condutor da história geral mas desconfio que não muito e que, independentemente do que faças, a narrativa vai sempre desembocar ao mesmo sítio. De qualquer das formas, não deixa de ser um incentivo extra caso queiras explorar todas as ramificações da história, aumentando ainda mais a longevidade do jogo.

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O mais assustador em The Sinking City é a possibilidade de algo assustador poder estar para acontecer.

Apesar de teres que andar imenso por toda a cidade, especialmente nos primeiros momentos que passas com o jogo, vais felizmente desbloqueando algumas cabines telefónicas que funcionam como pontos de viagem rápida e que ajudam imenso a colmatar alguns dos momentos mais aborrecidos do jogo. The Sinking City não é um jogo nada pequeno – devo ter demorado umas 20 horas a completar a história principal – mas existem ainda várias missões opcionais a que te podes submeter, locais repletos de monstros que podes visitar para obter melhor loot e outras coisas por descobrir que, apesar de todas as falhas, tornam este mundo mais rico e vivo.

Não posso alegar de forma alguma que The Sinking City é um mau jogo. Tal como disse anteriormente, a atmosfera do jogo é bastante pesada e houve momentos de felicidade genuína ao completar alguns dos casos que o jogo oferece. Noutros, especialmente por causa dos arrepiantes sons do jogo, não consegui evitar sentir uma série de arrepios espinha abaixo, ficando com os braços cobertos de pele de galinha. Ainda assim, tendo em conta que as minhas expectativas para o jogo não estavam propriamente altas, teria sido tão fácil que o mesmo me surpreendesse e tal não aconteceu – e isso faz me pensar que fiquei apenas com uma fração daquilo que o jogo poderia ter sido.

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