MediEvil – Análise

Cidadãos, antes de erguerem as forquilhas, tenho algo a confessar: Nunca joguei o original Medieval da velhinha PlayStation, e por esse motivo a minha empatia por este remake não abonava a seu favor antes de começar a jogá-lo para a análise.

Onde muitos viram surtir os efeitos da nostalgia, das vivências de infância bem passadas com o comando cinzento na mão, eu tive de experienciar tudo de novo, sempre com a ideia que se tratava de um remake. Para o bem ou para o mal, eu mesmo fui capaz de cultivar as minhas memórias com Sir Daniel Fortesque.

A história começa no ano de 1286 com o maldoso feiticeiro Zarok a planear tomar de assalto o reino de Gallowmere com o seu batalhão de mortos vivos, fazendo frente ao exército do rei, liderado por Sir Dan, que ao avançar de espada erguida, é morto com uma flecha que lhe trespassa o olho esquerdo. 100 anos se passaram desde estes trágicos acontecimentos e Zarok está de regresso ao reino, uma vez mais com a intenção de governar com uma armada de zombies que fez erguer utilizando um feitiço sobre toda a região. Afetado também pela magia, Sir Dan acorda, um pouco mais “esquelético” que os tempos de outrora, pronto para reivindicar o título de herói de Gallowmere!

Uma história simples, semelhante à de jogos como Spyro e Crash, que também nos ficaram na memória pela simplicidade e genuína empatia para com as personagens carismáticas. É exatamente isso que acontece em MediEvil, com as expressões de Sir Dan a carregarem um particular encanto. Cada vez que assisto a um pequeno excerto cinemático e vejo o nosso herói a falar com antigas lendas do Hall of Heroes para obter novas armas cedidas pelos mesmos, nunca me canso de rir com a troca de falas, onde todas as respostas de Sir Dan são incompreensíveis apesar do esforço e das expressões exageradas. Hilariante do principio ao fim.

Contudo, nem tudo é motivo para rir e infelizmente, aquela que é a componente mais importante dos jogos, acaba por sentir-se datada. Sendo MediEvil um remake, seria de esperar que a jogabilidade fosse distinta do original, mantendo-se ainda assim fiel ao título de 1998. Mas não, por decisão da equipa, os controlos imprecisos fazem reviver tudo quilo que a primeira geração da PlayStation tinha de pior, levando a momentos de frustração e mesmo aborrecimento, não por culpa do jogador, mas por culpa das mecânicas que ao contrário de tudo o resto, ficaram retidas no passado.

Ao nosso dispor temos dois slots para armas, tanto ranged como melee, cada uma com os seus atributos e com um golpe especial, já no que toca a defesa contamos com um escudo, com durabilidade que acaba por quebrar ao chegar a 0. Ao longo de todo o jogo o nosso objetivo passa por aniquilar os zombies e criaturas que nos aparecem pela frente, carregando repetidamente no botão de ataque, serpenteando pelo mapa à espera de não sermos golpeados. É algo que nos dias de hoje acaba por não ser uma experiência agradável, com a câmera a piorar a situação, frustrando-me múltiplas vezes sendo uma luta constante.

Onde se faz sentir mais é nos combates frente a bosses, encontros que têm por norma uma importância superior aos restantes e que no papel, têm o intuito de nos marcar pela positiva. Infelizmente nada disso acontece. Datados e uma vez mais sem qualquer tipo de alteração para com o original, todos os embates deixam um sabor amargo na boca. Sim, cada um altera a jogabilidade momentaneamente, mas não ao ponto de merecer serem recordados, marcando-nos pela desordem e imprecisão.

Onde MediEvil triunfa gloriosamente é nos aspetos mais técnicos como o grafismo e a música, todos eles refeitos para este remake. Graficamente é gracioso, com algumas ligeiras imperfeições que em nada refletem o trabalho aqui presente. Um upgrade que nos faz parar para apreciar de tudo um pouco, desde as animações aos detalhes visuais do cenário envolvente.

Já a banda sonora é algo que me vejo a visitar novamente no futuro, composta com a tecnologia dos dias de hoje e que acaba por contracenar na perfeição com o aspeto visual, ofuscando aquele que deveria ser o protagonista. Cada área conta com músicas diferentes, todas elas extremamente bem orquestradas, relembrando muitas vezes o melhor que o entretenimento nos trouxe nesta época festiva, como Nightmare Before Christmas, Beetlejuice e Corpse Bride.

Veredito

MediEvil 2019 é um exemplo perfeito daquilo que se deve diferenciar como Remake e Remastered, um título que triunfa nos aspetos mais técnicos mas que peca no que é mais importante, a jogabilidade. Enquanto um Remastered tem a obrigação de apenas melhorar os aspetos técnicos como a música e o grafismo, um remake tem de reimaginar como seria o jogo nos tempos de hoje, algo como podemos ver em Final Fantasy VII Remake e Resident Evil 2, e que infelizmente não acontece neste caso. Um título que sem dúvida irá surtir nostalgia a todos aqueles que se deliciaram a jogar na velhinha PlayStation, mas que certamente não irão desfrutar da mesma forma. Feliz Halloween.

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