The Outer Worlds Review – RPG puro e duro

A Obsidian mostra que é mestre no género.

Os fãs de RPGs já foram abençoados ao longo desta geração com excelentes jogos do género. Sem pensar muito, recordo-me de The Witcher 3, Persona 5, Dragon Quest XI, Dragon Age Inquisition, Bloodborne e Fallout 4. São todos jogos inseridos dentro do mesmo género, mas que oferecem experiências muito distintas. Já na recta final desta geração, a Obsidian brindou-nos com mais um excelente exemplar do género RPG. É um jogo que acerta em cheio nos pilares fundamentais que tornam este género tão apelativo e diversificado. A Obsidian tem uma longa experiência em fabricar RPGs. Desde que o estúdio foi fundado em 2003, que produzir RPGs tem sido o foco do estúdio. Começaram com KOTOR 2: Sith Lords e Neverwinter Nights 2, passaram por Fallout New Vegas a South Park: The Stick of Truth, culminando em Pillars of Eternity e Tiranny. Todos estes jogos foram, e continuam a ser, boas referências dentro do género RPG.

O que é The Outer Worlds?

Dizer apenas que The Outer Worlds é um RPG é um a descrição muito vaga. O novo jogo da Obsidian decorre na primeira pessoa com um cenário futurista de ficção científica. Nesse cenário, a humanidade conseguiu estender o seu domínio para além do planeta terra e colonizar outros planetas da galáxia. A tua personagem acorda de um longo sono criogénico, descobrindo uma sociedade dominada por uma organização perversa que escraviza as classes mais baixas da sociedade para continuar a paparicar os ricos e os poderosos. Apesar desta história de origem que será comum para todos os jogadores que se aventurarem em Outer Worlds, a tua personagem é um invólucro vazio em que as tuas escolhas vão moldar a tua identidade. Devido à enorme liberdade que tens para tomar decisões diferentes, rapidamente me senti na pele da personagem, transferindo para ela a minha forma de ser e de agir.

Quão vasta é a liberdade que tens em The Outer Worlds? Bem, podes matar todos os NPCs que te apetecer. Sim, podes matar até personagens que são centrais em algumas quests. Criar um jogo com este nível de liberdade é uma tarefa complexa, mas a Obsidian tem a experiência necessária para tal. Todas as barreiras artificiais que normalmente encontras noutros jogos, não existem aqui. É altamente satisfatório não apenas pela enorme liberdade que tens, mas pela sensação de que não estás a ser guiado por um determinado caminho que já foi pré-estabelecido pelos produtores. Quem traça o destino da tua personagem em The Outer Worlds és tu e mais ninguém.

Uma história interplanetária

Assim que ganhas acesso à modesta nave Falível, podes viajar para outros planetas no sistema solar de The Outer Worlds. Em cada planeta vais encontrar diversas quests provenientes de pessoas que precisam de ajuda para alguma coisa. Um dos triunfos do jogo é que estas quests surgem de uma forma natural e bem enquadrada. Nunca sentes que estás a fazer uma fetch quest ou que certas quests apenas servem de entulho. Os diálogos dos muitos NPCs com os quais podes interagir estão bem estruturados e pensados, ao ponto consegues sentir empatia com aquilo que te está a ser pedido. Mas também podes assumir a perspectiva de um pirata espacial e tentar lucrar ao máximo com cada coisa que te é pedida, recordado através de opções de diálogo que o teu tempo não é gratuito ou recorrendo a mentiras para manipular as pessoas.

Em todas as quests, sejam pequenas ou grandes, existem sempre várias decisões / escolhas para tomar. Tudo depende de ti! Podes escolher fazer justiça social, ser um manipulador, um assassino ou uma alguém que simplesmente tenta tirar proveito máximo de cada situação. A personalização da tua personagem, através dos pontos que ganhas sempre que sobes de nível, também te dá acesso a novas opções. Existem muitas habilidades nas quais podes investir para tornar a tua personagem mais apta para esta sociedade que mais parece uma oligarquia espacial. Podes ser um pacifista ou alguém que ataca primeiro e pergunta depois. Não tens liberdade infinita porque isso é impossível num videojogo, mas dentro dos limites deste formato, podes fazer tudo aquilo que te apetecer. Isso é muito divertido.

Uma das habilidades em que podes investir é o diálogo, que aumenta a tua capacidade para mentir, persuadir e ameaçar. Outras habilidades são de liderança, furtividade, tecnologia, defesa, armas brancas e armas de fogo. As habilidades de furtividade e de tecnologia também influenciam aquilo que podes fazer. Por exemplo, precisas de um elevado nível de furtividade para conseguir arrombar portas e cofres. Para desbloqueares algumas respostas durante os diálogos, precisas de um certo nível de tecnologia. As restantes habilidades dizem respeito ao combate. Quanto maior for a tua habilidade de armas brancas, mais dano vais fazer com armas como lâminas e marretas.

Como funciona o combate de The Outer Worlds?

Na acção, o RPG da Obsidian é basicamente um jogo de tiros na primeira pessoa. Vais encontrar um bom leque de armas que podes usar, sejam espadas, pistolas, caçadeiras, lança-chamas e metralhadoras Nesta aventura não estarás sozinho! Ao longo da história podes recrutar companheiros para a Falível que podes levar contigo nas missões. Tanto a tua personagem como os seus companheiros têm acesso a habilidades espaciais. A personagem que controlas, como ficou tanto tempo num sono criogénico, vê as coisas temporariamente em câmera lenta. Quando activas esta habilidade, podes apontar para partes específicas dos adversários e, quando acertas numa delas, o efeito será diferente. É basicamente sistema semelhante com o VATS da saga Fallout. Se acertares na perna de um inimigo quando o efeito de câmera lenta está activado, este vai ficar de joelhos durante algum tempo. Se apontares para a cabeça, vai ficar cego. Se apontares para um braço, pode acontecer um desmembramento.

“O RPG da Obsidian é basicamente um jogo de tiros na primeira pessoa”

Os teus companheiros também têm acesso a habilidades especiais e existem botões para as activares a teu desejo (leva em conta que existe sempre um período de cooldown). Ou seja, não controlas directamente os teus companheiros – podes ter sempre dois contigo – mas determinas quando é que as suas habilidades são usadas. Acaba por ser um sistema parecido com aquele que já vimos em Mass Effect (se jogas muitos RPGs, vais reparar que a Obsidian foi buscar inspiração a vários jogos para fazer The Outer Worlds). Quanto ao resto, nomeadamente as armas e armaduras equipadas, também és tu que controlas. Por isso, se queres que os teus companheiros se mantenham vivos em combate, não te esqueças de ir actualizando regularmente o seu equipamento.

Na jogabilidade, não penses que é tão fluído como um Call of Duty ou Destiny, mas está bem conseguido. É fácil apontar para onde nos queremos e os diferentes arquétipos de armas dão uma sensação diferente quando disparadas. Um pormenor que achei fantástico é como as tuas acções podem causar danos permanentes na personagem. Se te atirares constantemente de sítios altos, a tua personagem ficará permanentemente com penalizações em algumas habilidades. Se consumires demasiados analgésicos, vais ficar viciado e novamente terás penalizações nas estatísticas das habilidades.

“As tuas acções podem causar danos permanentes na personagem”

Um RPG profundo, mas fácil de assimilar

Começar a jogar um RPG é sempre uma experiência assustadora. Estes jogos são geralmente complexos e exigem bastante tempo para nos adaptarmos. The Outer Worlds também tem uma fase de assimilação das mecânicas e do mundo do jogo, mas é surpreendentemente curta. Apesar de ser um RPG complexo e profundo, permitindo-te personalizar de muitas formas a tua personagem e a sua build – uma coisa que ainda não referi é que podes alterar com modificações as armas e armaduras – absorvi e interiorizei tudo isto muito rapidamente. A forma como o jogo é apresentado ao jogador é simples e eficaz. O mesmo vale para a história. Não existem cinemáticas, apenas diálogos e interacções. Não existe uma tentativa de tentar embelezar o que está a acontecer, The Outer Worlds é um jogo cru em que as tuas acções e as dos outros falam por si.

the_outer_worlds_review_2 De um ponto de vista e técnico, The Outer Worlds não impressiona.

Existem muitas sidequests para realizar, mas apesar disto, The Outer Worlds não é um jogo muito longo, pelo menos para um RPG. No nosso caso, terminámos com 13 horas e 38 minutos no cronómetro do jogo. Não nos apressamos de todo a chegar ao final da história. Exploramos o mundo ao nosso ritmo e aproveitando sempre todas as ocasiões para interagir com os NPCs em busca de novas sidequests. O que usamos bastante foram as viagens rápidas dentro dos planetas (que são desbloqueadas assim que descobres um sítio importante). Talvez isso tenha encurtado ligeiramente a longevidade. Não obstante, não sentimos que o jogo tenha sido curto ou que tenha acabado demasiado cedo. Só ficamos ligeiramente desiludidos que no final, em vez de uma cinemática, passem apenas um conjunto de imagens narradas.

The Outer Worlds Review – O Veredicto

Todos os RPGs deviam aspirar a ser mais como The Outer Worlds. Há pequena falhas, como a falta de gráficos mais bonitos e a quantidade abusiva de loot que encontras em qualquer lado (é mesmo um exagero!), mas naquilo que realmente importa, o novo RPG da Obsidian é uma experiência deliciosa para quem gosta do género. É o jogo ideal para aqueles que querem ter liberdade para fazer tudo o que quiserem!

Prós: Contras:
  • O jogador tem uma liberdade enorme
  • História apelativa e interactiva no espaço
  • Não há sidequests desinteressantes
  • Sistema profundo de personalização
  • Boa jogabilidade para um RPG
  • Há RPGs com gráficos mais impressionantes
  • O loot é tanto que se torna irrelevante
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