Sniper Ghost Warrior Contracts – Análise

A franquia Ghost Warrior surge em 2011 tentando igualar aquilo que Sniper Elite e o estúdio Rebellion Developments haviam criado. Infelizmente a série não atinge o seu alvo, com a mais recente adição a apresentar ideias copiadas de outros jogos, sem nunca apresentar algo único e diferenciador.

Sniper Ghost Warrior Contracts coloca o jogador na pele de Seeker, um mercenário altamente qualificado contratado por uma misteriosa organização. O nosso objetivo é promover a destabilização entre a Sibéria e a Rússia, com a região a reclamar independência. É um conflito militar que acaba apenas por ser abordado ao de leve, sem nunca prender a nossa atenção, dada as emaranhadas ideias que apresenta. Os alvos e personagens apresentadas são autênticas caricaturas daquilo que imaginamos como um membro da máfia russa ou um político corrupto, não ajudando em nada à tentativa de seriedade que a narrativa tenta passar.

As coisas começam a melhorar um pouco na jogabilidade ao termos várias opções de abordar os inimigos, embora muitas vezes todos os caminhos tenham o mesmo fim. A organização que nos contratou equipa o protagonista com uma máscara especial que melhora a sua visão e concentração, assim como um fato cibernético capaz de regenerar vida e amortecer quedas. Uma das ideias que o jogo retira de outras séries como inspiração, de forma a dar vida a Contracts.

Para além do fato especial que vimos no passado em Crisis, Halo, entre outros, também nos é servido um formato de missões bastante semelhante ao dos recentes Hitman, abandonando o cenário de mundo aberto que até há data era um hábito na série, separando as missões em múltiplos mapas repletos de objetivos por cumprir. A exploração desses é divertida, com a ação furtiva a ser imperativa num jogo deste género e quanto mais investigarem, mais vão descobrir. Passagens por entre buracos e paredes que nos conduzem ao lado oposto da área, evitando câmaras e guardas, dá-nos a sensação de que estamos em controlo absoluto, mesmo que esse controlo desvaneça passado algum tempo.

“O cuidadoso processo de analisar a velocidade do vento, a curvatura da bala e a regulação da mira transforma-se em algo cerimonial, quase religioso.

Algo que notei é que por mais furtivos que sejamos, parece que o AI do jogo consegue saber a nossa localização quase que num presságio divino, deixando-nos frustrados após vários minutos a planear a abordagem, depois de marcar todos os inimigos presentes no mapa. É algo que torna a dificuldade do jogo um frenético carrossel, com o modo mais fácil a obrigar-nos a passar pelos guardas a 2 centímetros de distância para sermos vistos, e a mais difícil a sermos baleados a 3 quilómetros, atrás de paredes de betão ou escondidos por entre a arbustos.

As missões acabam por ser repetitivas, variando entre matar o inimigo, recuperar um objeto, ou uma junção dos dois. É algo que acaba por tender contra o jogo, com o cenário a não ajudar em nada, alternando entre neve e vales cobertos de vegetação. Sniper Ghost Warrior Contracts acaba por misturar inúmeras ideias, em mapas agradáveis à vista, mas sem nada verdadeiramente diferenciador. Uma carapaça oca, preenchida pela única coisa que ainda garante alguma diversão, a jogabilidade.

As múltiplas formas de abordar as missões e a vasta seleção de armas e dispositivos de combate são o que faz com que o jogador prossiga. Desde pistolas com silenciador a semiautomáticas, todas as armas encantam a cada disparo, com a sniper a evidenciar-se não fosse o foco do jogo. Apontar, respirar, premir o gatilho e assistir à travessia da bala em câmara lenta, percorrendo metros e metros de distância ao encontro do crânio do nosso alvo é das sensações mais satisfatórias que qualquer aficionado por títulos furtivos pode ter. O cuidadoso processo de analisar a velocidade do vento, a curvatura da bala e a regulação da mira transforma-se em algo cerimonial, quase religioso.

Sniper Ghost Warrior Contracts pede emprestado muitas das suas ideias a títulos como Hitman ou Far Cry, nunca tecendo o seu próprio caminho. A divertida jogabilidade que invoca aquilo que mais se quer num título do género, acaba por ficar submerso numa narrativa disforme, um cenário harmonioso, mas recorrente e com missões entediantes. A CI Games altera assim alguns dos pilares que suportam uma excelente base, obtendo algo melhor, mas não memorável, muito longe de memorável.

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