Sonic: O Filme – Análise

Sonic é uma das maiores mascotes dos videojogos, personagem que conta com um gigantesco historial de jogos, séries animadas, merchandise, e agora, um filme live-action.

Para quem é fã da indústria e acompanha o ouriço azul desde o tempo da Mega-Drive, Sonic: O Filme e o seu anúncio foi um misto de sensações. Por um lado era a chegada de uma das mais adoradas PIs do meio ao cinema, por outro, o receio da forma como o iriam tratar, sendo este último ponto associado ao início atribulado que o filme teve.

Felizmente esta é uma aposta segura que alegra as nossas vivências antigas diante de uma televisão CRT, voltando a mostrar que existe lugar para os videojogos no cinema.

Após uma breve introdução ao mundo de Sonic e à sua origem, o filme arranca para a chegada da personagem a Green Hills (uma das várias referências) e interação com a vida que habita na pequena vila de Montana.

Existe alguma demora no encontro entre o protagonista e Tom Wachowski, personagem interpretada por James Marsden, mas é quando os dois partilham o ecrã que a magia acontece. Os divertidos diálogos entre ambos, fundindo a energia adolescente de Sonic e a maturidade e calma de Tom, concedem uma dupla irresistível que nos faz ansiar pela próxima cena. É lado a lado que os dois mais brilham.

“[Volta] a mostrar que existe lugar para os videojogos no cinema.

No outro lado do espectro temos Jim Carrey, que dá vida a Dr. Robotnik como só ele poderia fazer. Carrey é daqueles atores com um estilo muito próprio, recorrendo muitas vezes a ações corporais para expressar e dar ênfase ao humor que o distingue. Em Sonic, Carrey consegue uma interpretação fantástica, apresentando uma afável caricatura do detestável vilão. Existe algum restringimento nas ações do ator, muito por culpa do guião, dando a ideia que quer sempre dar mais do que aquilo que pode.

E é aqui que a devoção dos fãs e insatisfação com o design inicial da personagem ditou o sucesso e insucesso do filme. Foram várias as vezes que imaginei as cenas com o visual realista que queriam atribuir a Sonic e do total desenquadramento com o tom apresentado. Aliar uma performance caricaturesca de Carrey com um look real do ouriço traduzir-se-ia num desastre. Ao vermos uma representação mais fiel com os jogos conseguimos sentir uma sinergia e um equilíbrio perfeito entre ficção e realidade.

Contudo, nem tudo é perfeito. A limitação imposta pelo decorrer da ação é clara, colocando Sonic e Tom a realizarem uma ‘buddy trip’ entre Green Hills a São Francisco. O sentimento de incerteza associado a filmes de videojogos ainda perdura, transpondo para o telespectador uma adaptação contida em redor de um elenco que é tudo menos isso. Com tanto que havia para explorar é estranho interpretações tão divertidas, num enredo monótono e simples.

Ficamos sempre a aguardar por algo mais, pelo momento que eleve toda a ação a um outro nível, com a esperança a sair desfraldada. Pode ser que caso o filme se traduza num sucesso de bilheteira, contemos com uma aposta mais arriscada por parte da equipa de produção, que nota saber apelar à audiência ao qual o filme se destina, presenteando-nos com inúmeras e divertidas referências à cultura Pop, variando desde Men In Black a Star Wars.

Sonic: O Filme é fruto de uma mudança que o faz elevar-se a um patamar onde poucos filmes de videojogos chegaram, seguindo as pisadas de Detective Pikachu na prova que até mesmo as mais animadas das personagens dos títulos digitais têm lugar no grande ecrã. Sonic é uma entrada segura mas concisa no cinema, onde o medo em arriscar em algo mais grandioso está presente, salvando-se pelas interpretações e interações entre os atores e o veloz ouriço.

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