Cyberpunk 2077 – Análise

Fenómeno, esta é a melhor palavra para descrever todo o caminho de Cyberpunk 2077 até ao seu lançamento, numa escala que nunca havia visto na indústria, podendo mesmo chamar de movimento. O sucesso e apreço por The Witcher 3 concedeu um manto dourado à CD Projekt Red, elevando o sentido de responsabilidade, pressão e dever para com todos aqueles que se alistavam nesta longa jornada.

Como novo IP, Cyberpunk 2077 mostrou-se promissor desde o momento em que foi revelado, mesmo envergando por um rumo diferente àquele mostrado no teaser trailer de 2013, com Bullets dos Archive. Um look futurista, próteses biónicas, mundo aberto na primeira pessoa, poderosas armas, tudo pontos aliciantes à maioria dos jogadores, reforçando o movimento que viria a aclamar ainda mais alto pelo seu messias.

Depois de vários adiamentos finalmente chegou o dia e no geral, Cyberpunk 2077 é tudo aquilo que havia sido prometido, ou quase tudo, os mais exigentes poderão sair dececionados e podemos mesmo dizer que o jogo ficaria a ganhar se fosse adiado mais uns meses para polimento.

Night City é o melhor do pior. Violência, pobreza, corrupção, sexo, drogas, e tudo aquilo que tenham como denigrível, representado de forma absolutamente repulsiva… é fantástico. A cidade respira vida e morte a cada canto, mostrando-nos disparos cruzados entre gangs, lutas de rua e gemidos até mais não. Não existe qualquer minuto de silêncio, Nova Iorque perderá facilmente o estatuto de Cidade que nunca dorme quando mergulharem nas ruas do jogo da CDPR.

Já nas Badlands tudo muda, transformando os arranha-céus e luzes neon da cidade, por tendas e terrenos baldios envoltos em lama e escombros. Surpreendentemente, não é apenas o visual que muda, mas também os valores morais das pessoas que conhecemos, criando um contraste delicioso entre cidade e deserto, que permite o desenrolar de missões tão distintas ao lado de algumas das mais interessantes e fascinantes personagens com que tive oportunidade de me deparar em videojogos.

Violência, pobreza, corrupção, sexo, drogas, e tudo aquilo que tenham como denigrível… é fantástico.

V é um dos mais bem trabalhados protagonistas, não só por sermos nós a tomarmos as suas decisões, mas também por emitir personalidade e carisma, mesmo que não possamos ver o seu rosto durante grande parte do jogo. A sua história junta vingança e mentira, interesses políticos e corrupção, recordando-me Deus Ex Mankind Divided e Human Revolution.

A nossa aliança com Johnny Silverhand leva-nos a momentos memoráveis e únicos, a maioria deles envolvendo drogas, sexo, Rock and Roll. Embora a interpretação de Keanu Reeves não seja da mais brilhantes, a troca de diálogos com o protagonista faz questionar todas as nossas decisões, obrigando-nos a parar para pensar e refletir nos nossos valores. Mas não se deixem enganar, pois a história principal é apenas a capa de um livro repleto de páginas de contos e segredos para desfolhar, a verdadeira essência de Cyberpunk 2077 e todas as suas personagens.

Nunca senti necessidade de procurar armas, ou ingressar em missões em busca de melhores recompensas. A minha força motora e verdadeira gasolina para as minhas escolhas foram sempre as personagens que conheci. Quero perceber mais da história do Johnny Silverhand. O que será que vai acontecer entre mim e a Panam?

Do meu irmão Jackie Welles com o qual partilhei os primeiros passos em Night City até Panam, onde aprendi o verdadeiro sentido da palavra família. Do caricato AI Delamain, com uma das melhores quest lines de todo o jogo, até à dor que vi nos olhos de Judy. Um misto de emoções e sensações, que nunca me cansei de procurar. É exatamente por isto que muitos podem vir a sair dececionados com Cyberpunk 2077.

Ao contrário do que possam imaginar, isto é um RPG puro e duro, com milhares de diálogos, textos para ler, NPCs e centenas de missões que inundam o mapa. O combate vem em segundo plano, muito distante do primeiro, e se vêm com a ideia que vão pegar numa arma a cada 5 segundos, podem esquecer. Não que não o possam fazer, mas o verdadeiro sentido e magia do jogo não passa por isso.


Continua…

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