Marvel’s WandaVision – Análise

Aviso: Seguem-se importantes spoilers para a totalidade de Marvel’s WandaVision, estreia da Marvel disponível no Disney+.


Marvel’s WandaVision chegou finalmente ao fim, a série que marcou a estreia do Universo Cinemático da Marvel em formato de televisão foi um verdadeiro sucesso para os Marvel Studios, não só por ter-se tornado na mais vista em todo o mundo, mas porque apaixonou os fãs ao longo de nove semanas, incitando análises e todo o tipo de teorias sobre cada episódio e o futuro da fase 4.

Nesse aspeto a obra de Jac Schaeffer é demonstrativa dos méritos que o formato episódico tem em televisão. Numa era em que os serviços de subscrição celebrizaram o conceito de binge-watching, a chamada maratona, possível com a estreia da totalidade de uma série no mesmo dia, torna-se um exercício intelectual interessante pensar como tudo teria sido diferente se a totalidade dos episódios de WandaVision fossem libertados em simultâneo.

Demonstrativa dos méritos que o formato episódico tem em televisão.

Que efeito teria a aparição de Evan Peters, a revelação de White Vision ou a verdadeira identidade da vizinha metediça Agnes, se pudéssemos ver tudo de uma assentada? E podem estar certos de que os adeptos do UCM absorveriam tudo logo que isso fosse possível. Ninguém gosta de esperar, todas as sextas-feiras amaldiçoávamos o momento “Please Stand By”, mas há uma clara vantagem em dar-nos tempo para digerir o conteúdo, elaborar hipóteses e desenvolver antecipação para o episódio seguinte.

O caso de WandaVision é ainda mais flagrante devido à forma como a série é estruturada, num formato muito distinto entre episódios, avançando temporalmente sob forma de diferentes eras da televisão norte-americana. A homenagem às sitcoms clássicas foi uma das principais bandeiras de promoção da série, que nos trailers se apresentava num molde contrastante com o que estávamos habituados no UCM. Eram as figuras que nos apaixonaram ao longo da última década, mas num habitat que vamos ser francos, poucos reconheciam.

Algumas cenas e referências são amplamente familiares, Casei com uma Feiticeira e Malcolm in the Middle são talvez as mais evidentes, mas sejamos honestos, a maioria da atual audiência não conhece The Dick Van Dyke Show, I Love Lucy ou The Brady Bunch. As coisas só começaram a ficar verdadeiramente reconhecíveis a partir do momento Modern Family, que anunciava a entrada na fase mais “Marvel” da série, que coincide com a resolução. Milhões de fãs esperaram um ano e uma pandemia pelo regresso do UCM, ele voltou a preto e branco e foi lentamente ganhando forma até ao formato pleno, uma espécie de extensão da tortura, como comer um Epá a desejar a chiclete.

É até difícil, em abstrato, pensar como se podem fundir coisas tão distintas como as diferentes décadas de TV, como o universo Marvel, de modo a que tudo faça sentido no final. Mas antes de comentar a estreia do elemento sobrenatural da bruxaria no UCM, uma palavra para o extraordinário trabalho de Elizabeth Olsen (Wanda Maximoff), Paul Bettany (Vision) e Kathryn Hahn (Agnes), que são quem tem mais tempo de ecrã e um papel mais preponderante na história e cuja interpretação se vai moldando ao estilo de época. Terá sido certamente um desafio enorme para o elenco, mas acredito que se tenham divertido como nunca na pele de um “super-herói”.

Ainda no campo das interpretações, o impacto da entrada de Teyonah Parris foi grande, em especial porque nos dá uma excelente cold open com uma amostra do Blip, lá está, o formato UCM que ansiávamos, mas a verdade é que Monica Rambeau foi perdendo relevância aos meus olhos, independentemente de ter conquistado os poderes de Photon ou Spectre, dependendo do que os Marvel Studios decidam daqui para a frente, no processo. A resolução dá-lhe algum destaque, mas é a primeira cena de pós-créditos que mais captura a nossa atenção, até porque como sabemos, vamos voltar a vê-la já em Captain Marvel 2.

A série foi no fundo sobre a definitiva emancipação de Wanda, que está longe de ser a criança que Steve Rogers defendeu em discussão com Tony Stark. A jovem Maximoff tem uma história verdadeiramente trágica, o episódio 8 percorre-a muito bem, desde a morte dos pais, do irmão e finalmente de Vision, que deixou a agora Scarlet Witch sem nada, em oposição à maioria dos heróis que no final de Endgame, recuperaram os seus entes queridos. Todos choravam Tony, enquanto Wanda foi deixada sozinha, no seu luto.

O problema é que como todos os fãs da banda-desenhada bem sabem, os poderes de Scarlet Witch estavam destinados a ultrapassar praticamente todos os personagens que conhecemos desde que o UCM começou. Felizmente esteve sempre do lado certo da barricada, mesmo quando os Vingadores se fragmentaram em Guerra Civil, mas o perigo da sua dor podia fazer virar a balança a qualquer altura, era isso que estava em jogo em WandaVision, foi diferentes vezes sugerido que podíamos estar perante o momento transformador para Maximoff, mas quem conhece os comics sabe também que faltava a peça chave para a possível mudança. Não é Vision, e hoje sabemos que o sintético vive novamente, são os filhos de Wanda, Billy e Tommy.

O que é a dor e a saudade, senão a perseverança do amor? – Vision.

A série tem imensos momentos em que a nossa expectativa é subvertida, mas nenhum me surpreendeu mais do que a despedida final, que foi extremamente emocional e algo que nunca pensei ver Wanda a fazer voluntariamente. Pelo menos demonstra que continua com o coração no lugar certo, mas como qualquer mãe, terá uma evidente prioridade, proteger os filhos. Já exploramos a história dos gémeos no especial ‘História dos Comics: Wiccan & Speed, os filhos de Scarlet Witch,’ não houve Mephisto na série, e sinceramente pareceria algo deslocado vê-lo aparecer no derradeiro episódio, mas Wanda levou consigo o Darkhold e aquela derradeira cena de pós créditos é uma evidência de que há algo a dizer sobre os futuros Young Avengers, esses não foram meras ilusões criadas no interior do Hex.

WandaVision é prova do arrojo criativo da equipa dos Marvel Studios, mesmo quem não tenha apreciado a sua estrutura confinada, não pode acusa-los de fazer sempre a mesma coisa. Num estilo distinto, foi uma inesperada viagem pelo passado e presente de uma das mais importantes figuras que sobraram da Saga Infinity, não foi aquilo que muitos fãs estavam à espera, mas mesmo esses acabaram por ter uma amostra do Universo Marvel durante os momentos derradeiros. Os mais apaixonados podem ter ficado insatisfeitos, o preço a pagar pelo consumo de um absurdo número de teorias, mas duvido que aquele final não os tenha deixado boquiabertos, isso é aliás algo que Kevin Feige e companhia fazem como ninguém, criar e alimentar expectativas para o que está por vir.

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