Como a PlayStation Store conquistou a audiência da Sony

Discutir o formato físico vs. digital nos videojogos é navegar por águas turvas, diferentes jogadores terão sempre distintas preferências e prioridades para optar e defender um ou outro modelo. Compará-los não é o que interessa aqui, mas antes olhar para a história de umas das mais famosas plataformas de distribuição digital de videojogos em Portugal, a PlayStation Store, recordar como começou, como cresceu, a sua importância na estratégia da Sony, as vantagens que proporciona, mas também o caminho que tem ainda para percorrer, por onde evoluir, especialmente agora que entramos numa nova geração.

A PS Store é talvez o mais importante marco na progressão digital da marca PlayStation, mais do que qualquer serviço nascido em torno da PSN, como o Plus ou o Now. A plataforma de distribuição digital foi lançada com a PS3 a 11 de novembro de 2006 e desde então, tem conquistado progressivamente o jogadores com um presença constante nas diferentes plataformas e serviços PlayStation, uma ligação direta à comunicação da marca e claro, uma agressiva estratégia de descontos difíceis contrariar.

Da perspetiva do negócio, e parece que estou a fingir ser uma espécie de Michael Pachter, a distribuição digital é muito mais vantajosa para as donas das plataformas, permite-lhes não só cortar vários dos intermediários na ligação com o cliente final, mas também lhes dá total controlo sobre a montra da loja, um aspeto que não pode ser negligenciado. A Sony decide quais são os conteúdos destacados em loja, qual é a sua estrutura, e pode estudar como as pessoas se comportam na navegação pela loja e no limite, perceber com são os seus hábitos de compra.

O formato digital é muito mais conveniente, fui aprendendo essa lição à medida que a vida de adulto me retirava tempo livre. Estar sentado no sofá e poder trocar de jogo diretamente pelo menu da consola, mesmo que tenha de colocar o próximo em download enquanto acabo uma partida de Destruction AllStars, é muito mais conveniente do que ser obrigado a levantar-me para procurar e trocar o disco a rodar na consola. Não acho que estejamos totalmente preparados para a exclusiva disponibilidade de consolas em versão digital, mas é certamente essa a direção que o mercado tem tomado.

Basicamente, tenho sido vencido pela minha própria preguiça, ao mesmo tempo que vejo as coleções de séries como Resident Evil ou Final Fantasy, a serem “estragadas” porque a prateleira nunca mais ganhou um novo companheiro. Os RE pararam no 6 por exemplo, tenho o 7, mas em formato digital. Há ainda outra questão que não pode ser ignorada e que diz muito sobre a importância que as plataformas digitais têm hoje, mesmo para os mais obcecados defensores do formato físico: os conteúdos adicionais. Os DLC, cosméticos, expansões, atualizações, são hoje um elemento fundamental do gaming, tendência que cresceu imenso e só tem tendência a aumentar.

Basicamente, tenho sido vencido pela minha própria preguiça…

Ora, mesmo que eu faça questão de ter os FIFA alinhadinhos em caixa na prateleira, vou obviamente ter de recorrer à PlayStation Store se quiser adquirir FIFA Points. Não é possível fugir à plataforma de distribuição, vai sempre existir um caso onde um dos nossos jogos de eleição recebe novos conteúdos, e vamos ter de adquiri-los via loja digital. No mesmo sentido, embora longe da mesma relevância de outrora, estão as demo, que são distribuídas via PS Store e não nos famosos discos que alimentaram revistas dedicadas ao gaming e edições especiais ao longo de muito anos. Os temas são outras das coisas disponíveis na PS Store, mas perderam relevância com a apresentação do novo esquema de interface da PS5, que adapta todo o ambiente dependendo do conteúdo que temos selecionado.

A Sony tem-se esforçado por garantir que a PlayStation Store está lado-a-lado com os jogadores independentemente de onde esses se encontrem. Inicialmente acessível via web dentro da PS3, com o lançamento da primeira grande atualização dedicada à plataforma, em abril de 2008, a loja passou a estar dentro do sistema operativo da consola, omnipresente ao lado dos restantes conteúdos que por lá passassem.

2008 foi também o ano em que deu o salto para as portáteis, primeiro na PSP e até aos dias de hoje na Vita. A versão browser, que representou um grande salto de popularidade para a loja, arrancou em 2013, juntamente com a App dos smartphones, sendo que mais recentemente, para preparar a era PlayStation 5, toda a loja teve direito a redesign, que procurou limpar a imagem, adapta-la melhor ao modelo mobile e libertando ainda mais espaço para os destaques, novamente, as coisas que a Sony controla nessa relação direta com os clientes.

O formato digital no geral, e a PlayStation Store em particular, incluem várias outras vantagens aos utilizadores. Desde logo a segurança de que não podemos perder um disco, parti-lo ou riscá-lo, é verdade que um dia um apocalipse pode inutilizar os servidores da Sony, num cenário The Walking Dead só as versões físicas sobreviveriam, mas confiando que estamos seguros e que a PlayStation é uma marca para durar, os jogos haverão de continuar disponíveis, seguros na biblioteca.

Há o contraditório a esse argumento, uso-o muitas vezes em conversa com amigos e colegas, e que tem a ver com o sentimento de posse. Por muito que apreciemos as nossas bibliotecas digitais, que invistamos nelas sem problema porque são também um reflexo da nossa versão virtual num mundo cada vez mais digital, é impossível a esses conteúdos envelhecerem tão bem como uma caixa de um jogo, com manuais, um artefacto limitado que há sempre de ter valor, argumento até que está condenado a ter mais valor, quanto mais tempo passar. Decisions, decisions…

A raridade leva-nos a outro ponto importante, que joga simultaneamente a favor e contra a PlayStation Store. Se é improvável um jogo digital atingir o estatuto de “artigo raro”, não corremos o risco de estar interessados num conteúdo e ter de passar pela frustrante experiência de não conseguir encontrá-lo, de estar esgotado. A disponibilidade e imediatez de acesso ao catálogo é um dos grandes trunfos de plataformas como a PlayStation Store.

Então o formato digital perde valor mais rapidamente, isso é uma grande desvantagem certo? Depende, porque na raiz disso está também a maior das vantagens da PS Store, responsável por ser hoje a principal fonte de receitas da PlayStation, a sua agressiva estratégia de descontos, semanais, mensais, sazonais, fim-de-semanazais (inventei agora). Chega a ser difícil acompanhar tudo, porque estão sempre diferentes campanhas ativas, uma promoção semanal e outras coisas a que chamam “pechinchas“. A título de exemplo, só este mês já tivemos os ‘Jogos por menos €15‘, as ‘Escolhas Essenciais‘, os ‘Prequelas e Sequelas‘ e ainda há a ‘Promoção da Semana’, que até à próxima quarta-feira é o Mortal Kombat 11 Ultimate.

A maior das vantagens da PS Store, a sua agressiva estratégia de descontos…

Resumindo, a PS Store tem crescido imenso ao longo dos anos, a Sony investe fortemente em promoções, não é a única mas nesse capítulo é sem dúvida das mais enérgicas, nomeadamente com a ligação aos serviços de subscrição PlayStation. É na Store que renovamos a assinatura de Now e Plus, sendo que no caso deste último, existem vários descontos digitais que são exclusivos dos subscritores.

Mas a plataforma também tem os seus defeitos, um dos maiores é a experiência de utilização na versão browser, que melhorou pouco desde a última renovação. A suavidade e eficácia da navegação na versão consola ou na app mobile é muito contrastante com a do browser, onde é comum ter dificuldade em encontrar informações, ou pior, ficar impossibilitado de completar uma compra ou sequer conseguir conferir os valores e informações nas páginas internas dos produtos. Um problema que geralmente resolvo recorrendo ao browser do telemóvel, mas que no desktop é absolutamente aleatório e comum demais para que aconteça apenas comigo.


Antigo residente de Azeroth, mudou-se para o mundo real para poder escrever sobre as coisas que o apaixonam. Desconfia-se sonhar ser super-vilão. Podes segui-lo em @Darthyo.

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