Marvel’s Moon Knight – Análise

Moon Knight é a mais recente adição ao grupo de heróis e vilões do Universo Cinemático da Marvel, numa série criada por Jeremy Slater e dirigida por Mohamed Diab para o Disney+, que tem Oscar Isaac no principal papel. É certo que está longe de ser uma das figuras mais conhecidas da Marvel, não tem a vantagem de chegar ao live action com as décadas de presença na consciência coletiva de figuras como Thor, Capitão América ou Homem de Ferro, mas a escolha de Isaac para o papel é testemunho da expectativa que Kevin Feige tinha para o personagem.

E que prestação nos dá o ator guatemalteco-americano, que a maioria de nós reconhece como Poe Dameron na saga Star Wars. A série explora imensos temas ao longo dos seus seis episódios, mas no centro de toda a problemática está a mitologia egípcia, que abre uma nova autoestrada temática no UCM, e a saúde mental, que graças à fragmentada identidade do personagem de Isaac, nos mergulha nos métodos que a mente humana encontra para lidar com as cicatrizes e traumas da vida, particularmente transformadores quando somos crianças.

Conhecemos o protagonista como Steven Grant, um acanhado funcionário de um museu que dorme auto acorrentado para lidar com um problema de sonambulismo, ou assim pensava ele. Na realidade, Steven nunca está sozinho, consigo vive outra personalidade, bastante mais consciente da condição de ambos, o antigo mercenário Marc Spector, que depois de ter sido traído e deixado para morrer nas areias do deserto egípcio, é salvo pelo deus da lua, Khonshu (significa viajante), que na série tem voz de Karim El Hakim.

Com o pacto celebrado com Khonshu Marc recuperou a vida, ganhou acesso a habilidades de cura, força e agilidade superiores, além de um super uniforme que lhe garante diferentes armas em formato de lua. Há um problema no entanto, como entidade divina, Marc não é o primeiro avatar da história de Khonshu, o Deus fez muitas vítimas e alimentou muitas amarguras nos anos que antecederam a entrada do personagem de Oscar Isaac em cena. Entre eles está o principal antagonista, que ao contrário do que se pensava não é o responsável pela quase morte de Spector no deserto, mas antes Arthur Harrow (Ethan Hawke), líder de um culto fanático, obcecado pelo regresso da Deusa Ammit, a devoradora de almas.

Confesso que não sabia nada sobre deuses egípcios, e estes não são os dois únicos que a série explora, mas é sem dúvida um setting apaixonante, que abre todo um universo de possibilidades para o futuro do UCM. Ainda assim, e para manter este elemento o mais focado possível, Jeremy Slater centrou a história no confronto dicotómico entre o vingativo Khonshu, que julga os criminosos sem piedade depois dos factos, e a Deusa Ammit, que olhando para o seu destino, julga as almas antes destas cometerem os respetivos crimes. São duas visões completamente diferentes da justiça, cada uma com os seus méritos, e que dão mote para um conflito de diferentes patamares, Marc e Harrow por um lado, Khonshu e Ammit pelo outro.

Marc Spector é salvo pelo deus egípcio da lua, Khonshu (que significa viajante)…

Não bastava o conflito interno interno com que tem de lidar, o pobre e aparentemente inofensivo Steven descobre vários componentes importantes da vida de Marc, como o facto de ser casado com a arqueologista Layla El-Faouly (May Calamawy), que é quem passa a fazer a ponte entre as duas personalidades, ao mesmo tempo que os acompanha na busca por Ammit, procurando evitar a tragédia declarada por Harrow, com o objetivo de limpar o pecado do mundo.

A prestação de May Calamawy vai crescendo com o passar dos episódios, mas a verdade é que todos são eclipsados pela incrível interpretação de Oscar Isaac, que primeiro alterna bem entre uma e outra persona, e a certa altura acrescenta-os como que em uníssono, à medida que Steven e Marc aprendem a aceitar-se e a ceder o controlo para aproveitar melhor as características de cada um. Steven é muito inteligente e um profundo conhecedor de mitologia egípcia, enquanto Marc é um exímio lutador, assertivo e confiante.

Claro que até chegar a esse ponto os dois passam por um doloroso, e sinceramente confuso processo, numa clínica psiquiátrica onde o médico responsável por tratar a sua saúde mental é o próprio Harrow, numa versão bem mais reconhecível de Ethan Hawke, ator que foi uma escolha do próprio Oscar Isaac para o papel, como o próprio fez questão de contar nas diferentes entrevistas que concedeu ao longo do período de promoção da série. A clínica funciona julgo que como uma analogia da própria mente fragmentada de Marc, no entanto, mais para o final da série, uma última viagem às instalações complicam o pouco entendimento possível sobre tudo aquilo.

E é talvez este o principal problema de Moon Knight, o facto de tentar, em apenas 6 episódios, fazer demasiadas coisas. Apresentar uma figura pluridimensional como a de Marc Spector, expor respeitosamente a problemática da saúde mental, explicar a mitologia e os deuses egípcios e como encaixam no universo do UCM e pelo caminho, introduzir novas figuras, algumas das quais vão certamente ter futuro nos desafios que descortinamos no horizonte de Moon Knight. Oscar Isaac não foi capaz de confirmar uma segunda temporada, e se tivesse que apostar ela não vai acontecer, perdoem-me mas o ator foi maior do que o argumento da série, uma performance deste nível merece o salto direto para o grande ecrã.

Se mais nada, com Marvel’s Moon Knight ganhamos um novo herói/vigilante, cuja balança pode tender para um lado mais sombrio e agressivo se os Marvel Studios assim entenderem, naquela que é a prestação da carreira de Oscar Isaac. Tem alguns problemas de ritmo porque se apresenta às audiências com demasiados objetivos para cumprir ao longo de apenas 6 episódios, deixa certas pontas por atar mas no final, mesmo antes de fechar a cortina, dá-nos a catarse porque esperávamos enquanto fãs, e que carrega consigo a certeza de que vamos rever o Protetor da Noite, eventualmente.

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