God of War Ragnarök – Análise

Em 2018, o estúdio de Santa Monica conseguiu um verdadeiro 3 em 1 com o lançamento de God of War: Fez renascer das cinzas uma das mais famosas franquias da PlayStation, conseguiu-o de modo brilhante apesar da aparente solução fácil de trocar de mitologia, conquistou o prémio de melhor jogo do ano e finalmente, inaugurou a tendência dos chamados “dad games”, ao centrar a narrativa em Atreus, o filho de Kratos, que o acompanha e assiste ao longo de toda a jornada.

Atreus tem cerca de 11 anos em God of War (2018) e apesar de estar longe da fragilidade de uma criança dessa idade, vantagem de ter sangue divino a correr-lhe nas veias, é totalmente dependente do pai para ultrapassar os obstáculos que separam a dupla do cume mais alto das terras do norte. O jogo usa e abusa dessa balança, que recorre às mais primitivas emoções da audiência nuclear da PlayStation, que pelas contas de Cory Barlog e companhia, estava numa fase da vida muito relacionável com a temática. Proteger os reinos é muito bonito, mas defender os filhos ativa-nos todos os sentidos com explosões de adrenalina.

A sequela teria de ser necessariamente diferente e lidar com um Atreus mais apto e independente. Quando arrancamos Kratos está ainda mergulhado num profundo luto, concentrado apenas em garantir que o filho está pronto para o dia em que não estará mais cá para protegê-lo. Esse é um dos maiores tormentos da paternidade, o impulso em defender os filhos das agressões do mundo vs. a importância de deixá-los voar o mais cedo possível, para que não precisem de nós quando lhes faltarmos.

Atreus está na fase da afirmação de identidade e energia desmedida, na entrada da adolescência quando sentimos as coisas intensamente e temos demasiadas certezas. “Pára de pensar como um pai,” sugere a certa altura. Como se isso fosse possível. E claro que tem as suas próprias preocupações e segredos, planos que desenvolve com um dos amigos que a dupla fez durante o primeiro jogo. E se estão a questionar-se. Sim, Ragnarok sabe que há uma alta probabilidade de terem jogado o anterior, impõe consequências por desenvolvimentos passados e não demora até fazer-nos sentir o Deus da Guerra.

Estava a revisitar o primeiro jogo quando recebi God of War Ragnarok para teste, fazia-o com a calma que não tive há quatro anos na altura da análise, vasculhando cada centímetro para garantir que me mantinha à frente da curva de dificuldade. Procurei fazer o mesmo com a sequela, mas infelizmente na última semana percebi que não havia grande espaço para missões e áreas secundárias, que são longas e sucedem-se ao longo do jogo, sendo frequentemente mais agradáveis do que a história principal, fazendo-nos sentir recompensados quanto maior for a nossa curiosidade e paciência.

“Um problema não tem de bater-nos à porta para ser nossa responsabilidade”, mas aconselhamos evitarem tudo o que conseguirem ver e/ou ler sobre God of War Ragnarok antes de o jogarem, porque estamos perante uma super produção, com imensos momentos cinemáticos, um elenco muito maior do que algum jogo da franquia antes dele e segredos que terão impacto na experiência e até no futuro da franquia.

Uma das coisas que podemos confirmar é a afirmação e desenvolvimento do “jogo duplo” que Santa Monica testou em 2018. Kratos é acompanhado de Atreus nos momentos em que o controlo está nas nossas mãos, mas a jornada não é tão solitária como foi antes, existe até um local a que chamamos de casa para onde regressar, e outras figuras com quem confraternizar. Isto levanta complexidades narrativas que tornam Ragnarok um jogo mais difícil de digerir, mas nem por isso menos interessante, nomeadamente graças a um exímio trabalho realizado pela equipa de animadores e atores de voz, que imprimem individualidade e emoção aos personagens e respetivas interações.

Sobre o combate, não demora até que o protagonista seja colocado à prova contra opoentes comuns e alguns notáveis da mitologia nórdica. O equilíbrio entre ação e storytelling não é tão bem arrumado como foi no jogo de 2018, que tinha um trajeto bem mais delineado à partida, mas a incerteza da história de Ragnarok abre espaço para uma boa dose de surpresas que o transformam numa montanha russa de possibilidades e reviravoltas.


Continua…

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