The Chant – Análise

The Chant é a mais recente aposta da Brass Token, que logo desde o seu início assumiu o objetivo de se afirmar em 2022 como uma das melhores experiências de aventura e horror para a consolas next-gen.

O título vem refrescar a indústria dos videojogos apresentando uma narrativa fora da caixa que nos faz, de imediato, colar ao comando. Como diz a poesia, os homens só podem compreender um livro profundo, depois de terem vivido, pelo menos, uma parte daquilo que ele contém. The Chant foca-se precisamente nisto e leva-nos numa viagem espiritual que tinha tudo para correr bem, até começar a correr mal.

Numa atmosfera assustadora e surpreendentemente bem caracterizada, resta saber se a jogabilidade se encontra ao mesmo nível.

O Luto

Trocando por miúdos, a narrativa de The Chant fala sobre o luto. Vestimos a pele de Jess e encontramo-nos com um grupo de pessoas, num retiro, cujo objetivo passa por realizar um ritual espiritual, para que possam ter contacto com entes queridos que já partiram. Logo aqui, assistimos a coisas estranhas. Andamos pelo campo em busca de mais informação sobre cada uma destas personagens e interagimos com elas de forma misteriosa, afinal de contas, vindo de um ritual espiritual não se espera outra coisa.

Ainda assim, seria de esperar que tivéssemos mais tempo para interagir com as personagens no início e conhecer as respectivas histórias. Sabermos que aquelas pessoas estão em luto e têm esperança de reencontrar aqueles que já partiram, mas temos pouco tempo e espaço para estabelecer empatia com as personagens. Até porque os rituais não são bem conotados, e a linha que separa a seriedade da loucura é bastante evidente.

O que é certo é que pouco tempo depois, aquando do ritual, as coisas correm mal e é aqui que a verdadeira aventura de Jess começa, com as nossas mãos ao comando. Quando o ritual é realizado, vários portais cósmicos, espoletados pelo fenómeno The Gloom, ficam abertos. Para podermos salvar todos, ou pelo menos tentar, temos de entrar nestes portais e enfrentar todas as criaturas cósmicas que assolam o retiro.

Ambiente

O mundo de The Chant é, na sua grande generalidade, um tanto controverso, estando repleto de dualidades. Tanto é diversificado a nível de conteúdo exploratório, como tem pouco de sítios novos para explorar. Pode parecer um pouco confuso, mas The Chant está tão bem desenhado que nos apresenta, logo desde início, a premissa do horror: vamos ter muito com que nos entreter, mas sempre no mesmo campo. Tendo em conta que o título não possui um mapa para que nos possamos guiar, é expectável que as deslocações sejam simples e curtas. No entanto, não fazemos outra coisa que não andar incansavelmente pelos mesmos caminhos, enquanto somos perseguidos ou resolvemos puzzles. Também as cores do ecrã representam um tanto desta dualidade. Num minuto estamos boquiabertos com as cores vibrantes da Natureza, como (de repente) a escala é alterada para preto e branco, representando o estado crítico de ansiedade e mal-estar de Jess.

As cores são a chave de The Chant. A cada membro do grupo foi atribuído um pingente com um cristal, e cada cristal tem uma cor. The Gloom está devidamente distribuído pelo retiro e todas as áreas cobertas pelas ondas de melancolia têm uma cor. Para podermos entrar na zona vermelha, por exemplo, precisamos de possuir o cristal vermelho. O objetivo é tê-los a todos para que possamos desmantelar o mistério que está por detrás daquela organização. Descrevendo aquilo a que The Chant nos propõe, parece algo irrefutavelmente incrível, no entanto a nível de execução, deixa um pouco a desejar.

(Des)equilíbrio

Quando digo que The Chant transborda dualidade, também isto se reflete na semântica do jogo. É curioso como estamos inseridos num ambiente recheado de formas geométricas que significam união, equilíbrio ou força, com tudo isto inserido num contexto espiritual, onde as personagens estão tudo menos lúcidas. O mais curioso é que resulta na perfeição. Apesar de ali estar, Jess distancia-se das outras personagens, na medida em que mostra estar ciente do verdadeiro problema, e essa sanidade mental é aquilo que lhe permite equilibrar os três elementos que compõem o gameplay: a mente, o corpo e o espírito.

Não podia falar de desequilíbrio sem mencionar os gráficos que ficaram um pouco aquém das minhas expectativas. Num mundo tão rico, cheio de cores vibrantes, elementos cósmicos e naturais, e com um gameplay relativamente simples, seria de esperar que todo o ambiente fosse representado através de gráficos apropriados para o ano em que estamos, onde já se esperaram títulos como A Plague Tale: Requiem, e esperam-se outros como The Callisto Protocol, a título de exemplo. The Chant prima pelas variadíssimas cores e formas que apresenta, e a Brass Token não acertou no alvo, no que toca às respetivas conceções. Dado o gameplay mediano, esta lacuna acaba por ficar ainda mais em evidência.


Continua…

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