Season: A Letter to the Future – Análise

A mudança é assustadora, mas será que é a memória que nos impede de viver o que pode vir a acontecer? Mas, sem memória, o que somos nós afinal? Estas são algumas das perguntas que Season: A Letter to the Future coloca. Pelo menos, assim o interpretei. A experiência única criada pelo estúdio Scavengers não inibe ninguém de tirar as suas próprias conclusões, e cria um lindo mundo para conhecer, explorar e pelo qual nos poderemos apaixonar.

Dizer que Season não é para todos é um desprimor para o jogo e para os jogadores. Apesar do seu estilo de jogabilidade distinto, a própria noção de que algo “não é para todos” subestima quem gosta verdadeiramente de videojogos, e deste meio como uma forma de produção cultural. Porque Season fala de cultura, de religião, de filosofia, mas sem se tornar numa experiência pretensiosa ou presunçosa.

Romantismos à parte, o conceito é ao mesmo simples e ambíguo. Controlamos uma jovem fotógrafa que vive com a mãe e que vai abandonar a sua cidade, a vila de Caro, para retratar os últimos momentos da Estação. Podemos ter ouvido que Season é um jogo onde fotografamos os últimos momentos antes do fim do mundo, mas o enredo é um pouco diferente. É um mundo alternativo, com menos de mil anos de existência, com várias Estações que parecem terminar arbitrariamente e que auguram profundas mudanças na sociedade.

A história do mundo em Season é ambígua, e cabe-nos descobri-la. Envolve guerra, prosperidade e misteriosas doenças.

Encontramo-nos num destes pontos: na mudança de Estação. Não se sabe o que vem a seguir, mas o que existe agora deixará de haver, ou pelo menos vai mudar drasticamente. Abandonamos a nossa casa, para fotografar, gravar e registar os últimos momentos da estação atual. Essa procura leva-nos por novos locais, distantes da aldeia principal. Passamos a maior parte do tempo em Tieng Valley, uma zona que foi evacuada, na preparação de uma grande inundação.

Os sistemas de jogabilidade em Season não são muito variados. Temos a opção de fotografar, gravar sons e explorar o mundo a pé ou de bicicleta. Tieng Valley, onde passamos a maior parte da campanha, é uma zona densa, repleta de pequenas histórias para descobrir, de coisas para fotografar e até de pessoas para conhecer. E para conhecermos certas pessoas não temos necessariamente de as ver. Há pequenas plantas espalhadas pelo mapa, que ao serem gravadas revelam os relatos passados que ficaram gravados nas flores.

Embora Season seja bastante lato no que toca aos objetivos, o diário da nossa personagem é o melhor sinal de progresso na campanha. Quanto mais preenchido, melhor.

Ouvir um casal a discutir depois de uma avaria no carro ou uma pessoa a rezar pelo fim de guerra são momentos que nos permitem desvendar um pouco mais do que por lá aconteceu. Reviver momentos mundanos numa época de grande transformação dá uma nostalgia melancólica.

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