Scars Above – Demasiado básico e aborrecido

Um trabalho bastante humilde que denota uma grande falta de polimento. Experiência de jogo arruinada por uma jogabilidade que não recompensa.

O primeiro instante de Scars Above relembra imediatamente Returnal o título da Housemarque. Os vislumbres iniciais em vídeo mostrados pela produtora Mad Head Games revelaram um trabalho muito colado ao do estúdio nórdico, mas ficou apenas pela aparência, desmontada logo que o começamos a jogar. Certo que se trata de um shooter de ação em terceira pessoa com ficção científica como pano de fundo, mas há um desvio enorme na estratégia para os mecanismos jogáveis que são estendidos até alguns elementos roguelike.

A narrativa assenta numa equipa de cientistas que vai investigar uma estranha estrutura alienígena que surgiu na órbita da Terra, denominada por Metahedron. O nome do título vem da terminologia atribuída à equipa de cientistas, SCAR (Sentient Contact Assessment and Response). A aproximação ao Metahedron não ocorre como planeado, obviamente, a equipa separa-se e vê-se misteriosamente num local totalmente desconhecido, num ecossistema alienígena.

Em busca do desconhecido

“descobrir o que nos aconteceu, procurar pelos restantes membros SCAR e deslindar o mistério que está por detrás do Metahedron”

Assumimos o papel da Dra. Kate Ward, que acorda sozinha num planeta completamente novo e hostil. O nosso primeiro encontro é com uma entidade desconhecida, Kate pensa que está a sonhar ou são apenas visões, para mais tarde deparar-se que é uma entidade alienígena com o intuito de a ajudar. Agora a missão é outra, temos de descobrir o que nos aconteceu, procurar pelos restantes membros SCAR e deslindar o mistério que está por detrás do Metahedron. Determinada a sobreviver, Kate percorre este misterioso mundo em busca de respostas, mundo este repleto de inimigos e onde o início é basicamente um tutorial a explicar cada uma das mecânicas de jogo.

Cientista que somos, cada encontro determina novo conhecimento e adaptação aos desafios. Munida inicialmente de apenas um bastão (Electric Cutter) e uma arma básica (VERA), temos a base de todos os mecanismos para infligir dano. A VERA será evoluída em quatro versões de disparo elementar (gelo, fogo, eletricidade e tóxico). São estes elementos que sustentam a nossa abordagem a cada inimigo, todos vulneráveis a elementos diferentes e cabe ao jogador identificar qual é o mais adequado.

A estrutura gameplay assenta numa base um pouco similar a um soulslike, quando morremos somos colocados novamente em jogo, mas sem perder o que apanhamos. São uns pilares colocados em determinadas zonas que permitem esse regresso, assim que os ativamos é aí que voltamos sempre que morremos. De referir que sempre que ativamos esses pilares tudo é reiniciado nesse bioma, desde o loot até aos inimigos.

Deslocamo-nos por biomas diferentes com inimigos também distintos, adaptados às capacidades do nosso armamento. Apesar de uma boa variedade de inimigos, este são um tanto básicos, havendo uns que são colocados de uma forma um tanto estranha já que é impossível não sofrer dano, quando aparecem repentinamente mesmo á nossa frente. Um complemento às armas são as habilidades e até artigos que dão uma boa profundidade ao gameplay.

As habilidades são conquistadas através da aquisição de conhecimentos, sempre que atingimos o conhecimento total é-nos dado um ponto. Aleatoriamente também é possível que um inimigo largue um ponto assim que é eliminado, bastante raro. Este sistema de aquisição de habilidades é estranho, apanhamos Cubos de Conhecimento espalhados pelos biomas, que vão subindo a barra de conhecimento, havendo também outros eventos que atribuem o referido conhecimento, mas são mais raros. Estes cubos estão espalhados pelo terreno e é sempre bom vasculhar cada recanto.

Jogabilidade um tanto rudimentar

“movimentação demasiado robotizada e uma postura até caricata, tanto em combate como na execução de movimentos mais básico”

Em termos de jogabilidade, Scars Above demonstra uma enorme falta de polimento que chega a ser um entrave à experiência de jogo. Temos uma personagem com movimentação demasiado robotizada e uma postura até caricata, tanto em combate como na execução de movimentos mais básicos. Depois temos a parte do combate, principalmente com os bosses, na maioria das vezes estamos a lutar contra a jogabilidade e não contra o inimigo. É tudo muito desajeitado e preso de movimentos, queremos fazer determinada ação mas o jogo não permite que seja de forma fluida e agradável, é tudo muito lento. O sistema de esquiva é em certa medida cómico, rebolamos de um lado para o outro sem agilidade, e quando conseguimos uma boa esquiva o jogo penaliza-nos mesmo quando o inimigo não nos conseguiu atingir.

Os bosses para mim são do mais genérico que já vi. Na base é o normal, cada um com fraquezas próprias adaptadas às potencialidades do dano elementar do nosso arsenal. Retirando esse ponto, são lutas constantes contra a jogabilidade desajeitada e a fugir do inimigo. É uma frustração que nem dá gratificação no momento da vitória, apenas se suspira de alívio quando o derrotamos e nos vemos livres do pesadelo. Denota-se uma falta de polimento gritante, que até pode ser perdoada pela humilde abordagem, não é de facto um AAA.

Visuais que dececionam

A nível visual, não há muito a acrescentar, é bastante fraco para os padrões atuais. Texturas muito fracas, personagens com tremenda falta de detalhe, cenários muito desprovidos de conteúdo. Parece estamos perante um título lançado há já vários anos. Pela positiva, o desempenho é muito bom. A parte sonora é aceitável, mas nada de especial, apenas cumpre com os requisitos mínimos e está condizente com o restante pacote.

“fraca qualidade das cinemáticas e diálogos, jogabilidade rudimentar e frustrante que revela quase ausência de captura de movimentos, e uma duvidosa qualidade visual”

Scars Above vai buscar inspiração a muitos outros trabalhos, mas não sobressai em nenhum dos pontos que transportou. Fraca qualidade das cinemáticas e diálogos, jogabilidade rudimentar e frustrante que revela quase ausência de captura de movimentos, e uma duvidosa qualidade visual. Um projeto que tem de ser encarado fora dos patamares mais exigentes de um título de alto gabarito, orçamentado por baixo. Não é pedido um full price, nem poderia, mas mesmo com um preço mais apetecível não o consigo recomendar, falha no mais importante, recompensar o jogador pelas horas que o joga, e isso Scars Above não o consegue fazer.

Prós: Contras:
  • Aceitável narrativa
  • Interessente combinação de armas, habilidades e gadgets
  • Por vezes a jogabilidade funciona, até pode divertir
  • Visualmente bastante fraco
  • Jogabilidade muito presa de movimentos para a exigência
  • Inimigos básicos
  • Bosses genéricos e até ridículos
  • Nem se deram ao trabalho de criar um mapa
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