Resident Evil 4 Remake – Análise

Aviso: Antes de seguir para o texto de análise, considero importante partilhar que este não contém quaisquer tipos de spoilers de Resident Evil 4 Remake, já que o embargo da análise é bastante exigente e limitativo. A Capcom quis certificar-se de que os fãs iriam jogar e ser surpreendidos, pelo que o texto, imagens ou vídeos estão em conformidade com as diretrizes da produtora.


2023 parece ser o ano dos remakes mais antecipados de sempre. Já tivemos Dead Space, estão ainda planeados Silent Hill 2, Final Fantasy VII Rebirth, e o próximo a ver a luz do dia é Resident Evil 4. A Capcom tem vindo a fazer um excelente trabalho no que concerne a remakes, nomeadamente com os títulos Resident Evil 2 e 3. Desde então, muito se especulou sobre um possível remake de Resident Evil 4. Ainda que fosse expectável que a produtora se debruçasse sobre o assunto, o que é certo é que Resident Evil 4 era, por si só, um título que continuava a gerar liquidez à empresa, dada a respetiva integração nas consolas next-gen, bem como a versão VR do jogo.

Assim sendo, valeria a pena lançar Resident Evil 4 Remake num ano como 2023?

O original foi um dos jogos mais bem sucedidos da franquia, tendo conquistado o prémio de Jogo do Ano, quando foi lançado. Agora, Resident Evil 4 Remake surge como um pedido por parte da Capcom à organização dos The Game Awards: ou abrem a categoria de Melhor Remake, ou o Jogo do Ano poderá ter o mesmo desfecho de 2005.


É como o vinho do Porto

Quando joguei Resident Evil 4 pela primeira vez, era uma jovem adolescente. Sempre tive uma queda forte por jogos de terror e ação, e a franquia Resident Evil é uma das minhas favoritas. No entanto, este título em particular levou-me para um outro nível: passei-o 5 vezes, platinei-o, e ainda quebrei o meu recorde com 4h58m de tempo de jogo. Foram anos de puro entretenimento, e quando a Capcom anunciou Resident Evil 4 Remake tive de me isolar da humanidade para processar bem a informação. Estava em causa o remake de um dos meus jogos preferidos, mas ao mesmo tempo, a estranha sensação de não ser tão entusiasmante assim, já que conhecia o jogo de trás para a frente e de frente para trás.

Nunca estive tão enganada (obrigada Capcom). Resident Evil 4 Remake fez-me voltar aos tempos áureos da adolescência, em que não há horas para almoçar e jantar, sol para apanhar ou tempo para dormir. É caso para dizer que Resident Evil 4 é como o vinho do Porto, quanto mais velho e com um remake em cima, melhor! Vejam este remake como se fosse o original de 2023. A Capcom entrega tudo aquilo que ofereceu em 2005, mas de forma completamente refrescada. O jogo está mais realista, mais sombrio e coerente, e para isso, foi preciso limar arestas do original com alguns ajustes e alterações na narrativa e gameplay. Além disso, a Capcom decidiu trocar as voltas a todos aqueles que dominam o original de olhos fechados, com a introdução de novos puzzles, novos inimigos, novos locais e novas missões.

Dei por mim a responder de forma monossilábica ao longo de 14 horas de gameplay e sinto que não tenho de pedir desculpa aos meus amigos e familiares por isso. Antes pelo contrário, fiquem felizes por mim, já que tive a possibilidade de experienciar Resident Evil 4 Remake, com a mesma emoção e compromisso do original. E, atenção, que estas 14 horas envolveram poucas missões opcionais, pelo que o gameplay poderia ter sido ainda mais extenso.

Os veteranos vão sentir uma forte nostalgia, mas a Capcom quis ir um pouco mais além e oferecer uma experiência que fosse igualmente inesquecível para todos aqueles que, na pele de Leon, resgatam Ashley pela primeira vez. No fundo, é sempre esse o trabalho e compromisso de qualquer produtora disposta a fazer um remake: respeitar o conteúdo original e conferir um toque atual e apropriado ao nível da exigência de um público em constante evolução. Mas atrevo-me a dizer que ninguém ainda o fez como a Capcom. Por exemplo, apesar de Dead Space Remake e The Last of Us Part I serem jogos absolutamente incríveis, nenhum deles apresenta uma produção com o mesmo nível de Resident Evil 4 Remake.

A produtora arriscou ousadamente, e alterou factos da história que me deixaram completamente boquiaberta. Adorava ser um pouco mais concreta e partilhar convosco mais detalhes sobre estes elementos, mas as diretrizes da Capcom são claras: vamos manter todas as surpresas em segredo. Assim sendo, só posso deixar uma pequena provocação: a história tem muitas reviravoltas. Há mortes inesperadas, encontros indesejados, revelações inéditas e enredos que explicam muita coisa sobre a história do jogo. Mas vamos aos pontos que podemos falar mais abertamente.

Gameplay

A Capcom não poupou recursos quando pensou em refazer o gameplay de Resident Evil 4. Para tornar a jogabilidade melhor do que a do jogo original, começou pela base que sustenta tudo aquilo que os nossos olhos veem no ecrã. Leon aparenta ser uma personagem mais madura e com mais conhecimento, o que permite introduzir alguns extras nas suas habilidades. Tendo em conta que os recursos são escassos, o uso da faca é crucial no combate. A maturidade de Leon faz com que este manuseie a faca de uma forma nunca antes explorada, com a opção de golpear repetidamente o inimigo, e usá-la também como defesa.

Outro ponto muito interessante que vai ao encontro da nova versão de Leon, é o facto de ele conseguir andar enquanto está a fazer mira com as armas. Isto não acontecia no jogo original, e posso garantir-vos que faz toda a diferença. Ora vejamos, quando queremos disparar para a cabeça de um inimigo que está a longa distância, usamos o Fuzil. No momento de fazer mira, às vezes temos alguns obstáculos pela frente que impossibilitam o tiro. No original, temos de desfazer a mira, reposicionar a personagem e fazer mira novamente. Em Resident Evil 4 Remake, isto já não acontece. Parece que 2023 é o ano que mostra a Leon que é possível fazer duas coisas ao mesmo tempo, sem perder o foco.

Mas atenção, não foi só Leon a aprender truques novos. A Capcom teve o cuidado de equilibrar a jogabilidade, e se Leon agora tem mais habilidades, é porque os inimigos assim o exigem. Há novos infetados que empunham motosserras, uns com cabeças mutantes nunca antes vistas, e há até alguns com inteligência suficiente para manusear metralhadoras.

Mas falando de personagens visivelmente mais maduras, Ashley é o destaque do remake. Passou de uma criança inútil e irritante que gasta o nome de Leon, para uma mulher adolescente que, apesar de sentir medo, é corajosa e está pronta para o que der e vier. Enquanto no original as falas de Ashley são bastante repetitivas e revelam pouco da personagem (para além da sua futilidade), em Resident Evil 4 Remake, Ashley é uma personagem que dá gosto de ver e ouvir. Ainda que a sua jogabilidade seja apenas furtiva, está desenhada de forma bastante realista com o perfil da personagem que, apesar de não empunhar armas, não tem medo de enfrentar criaturas diabólicas, e inclusivamente, salva Leon umas quantas vezes.

Enquanto jogadora, a minha perceção da relação entre Leon e Ashley mudou radicalmente com este remake. Enquanto o original oferecia a ideia de Ashley precisar de Leon para sobreviver, ao ponto de sentir uma atração platónica no final, o remake transforma esse “amor” fantasioso num clima bastante propício, com diálogos trocados entre eles que deixam a nossa imaginação flutuar. Com estes perfis bem traçados, o gameplay de Resident Evil 4 Remake torna-se mais imersivo e apropriado para o cenário causado pelas Las Plagas.


Continua…

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