Dead Island 2 – Análise

Dead Island 2 chegou atrasado à festa. Não há qualquer dúvida disso – depois de anos preso num verdadeiro, o jogo trocou de estúdios, viu o seu desenvolvimento ser praticamente suspenso e esteve muito próximo de ser cancelado. Aliás, por esta altura, ninguém acreditava que fosse ver a luz do dia.

No entanto, eis que o Dambuster Studios e a Deep Silver emergiram do mundo dos mortos, com Dead Island 2 aos ombros, num dos comebacks mais improváveis da história recente dos videojogos.

Seria injusto olhar para todos os anos de desenvolvimento de Dead Island 2 e exigir uma obra-prima, tendo em conta tudo o que se passou com o jogo. No entanto, há que reconhecer que o jogo é marcado por algumas mecânicas que hoje em dia já estão datadas, logo a começar pelos Zombies – na altura em que foi anunciado estavam na berra, mas hoje, já vimos praticamente tudo o que há para ver no género.

Para o melhor e para o pior, Dead Island 2 segue de perto algumas das tendências dos videojogos da passada década, mas a verdade é que nem por isso deixa de ser um jogo extremamente divertido – esta é aliás, uma das suas maiores qualidades, por muito simplista e redutor que isto possa soar, Dead Island 2 é genuinamente divertido, sem nunca se levar demasiado a sério e sem abusar sem abusar das nossas boas-vindas.

Mata e esfola

Dead Island 2 é uma típica história de zombies digna de um Filme série B. Começa com um cliché que já vimos várias vezes, tem algumas reviravoltas demasiado previsíveis e volta e meia deixa de fazer sentido, mas num filme deste género, estamos mais preocupados com outra coisa não é? Queremos ver Zombies a explodir, dilacerados e desfeitos, membros a voar, sangue cérebros e tripas e se há coisa que não falta em Dead Island 2 é gore glorioso para todos os gostos.

Da primeira à última bastonada, estocada ou explosão, destruir zombies em Dead Island 2 é um verdadeiro prazer. O estúdio Dambuster criou um sistema que simula o dano nos zombies de forma dinâmica, de acordo com o tipo de arma que usamos e a parte do corpo que atingimos. É absolutamente delicioso enfiar uma bastonada na cabeça dum zombie e ver os seus olhos a saltar das órbitas, ou decepar-lhe as pernas e vê-los rastejar pelo chão.

Explodir com um grupo de zombies com uma bomba? Cinco estrelas. Incendiar uma poça de óleo e vê-los arder? Crocante. Lançar um dropkick e vê-los voar por uma encosta abaixo? Brutal. É absolutamente incrível o nível e variedade de violência que podemos infligir nos zombies. Quase que dá pena. Quase.

Tudo isto é suportado por um sistema de armas e de habilidades que para o melhor e para o pior replica alguns dos pontos de progressão típicos dos jogos de mundo aberto de tantos jogos dos últimos anos. Começando pelo melhor, temos as Skill Cards, que funcionam como habilidades passivas que podemos equipar nos nossos personagens. Cada um deles começa com um par de cartas únicas que definem o seu estilo de jogo e à medida que progredimos na campanha vamos desbloqueando outras, que permitem aprofundar e refinar o gameplay.

Ao início, são poucas as diferenças notáveis que separam os personagens, para além das bocas que vão mandando ao longo do jogo, mas há medida que recebemos novas skill cards as coisas mudam de figura. Podemos tornar o nosso personagem num perito em limpar grupos de zombie, equipar um grito que cura os nossos aliados, ou equipar habilidades especiais que o tornam num verdadeiro monstro quando usa a habilidade de fúria, abrindo portas a um gameplay de alto risco.

Todos os zombies têm um plano, até levarem com um bastão na tíbia.

O reverso da medalha é o loot, que desinspirado e pouco interessante. Felizmente, não há falta de materiais ao longo do jogo, nem armas, de forma que mesmo quando inevitavelmente se vão desfazendo no corpo dos zombies, nunca me senti em apuros, nem me faltaram peças para criar uma nova espada elétrica ou bastão de fogo para desfazer os mortos-vivos pela minha frente.

Por muito divertido que seja e mesmo com o sistema de habilidades, o combate de Dadd Island 2 não consegue ser muito profundo. Entre shotguns, pistolas e metralhadoras, acabei sempre por preferir as armas de combate corpo-a-corpo, não só por serem infinitamente mais divertidas, mas também porque o gunplay das armas é irremediavelmente flácido e pouco satisfatório. Acabei sempre por recorrer aos tacos, espadas e bastões, num frenesim do clique direito do rato, com o habitual contra-ataque no momento certo. Por muito simples e eventualmente repetitivo que seja o sistema de combate, nunca, nem por único segundo, nem ao milésimo zombie, eu me cansei de esmagar crânios.

Os níveis de Dead Island 2 estão repletos de pormenores hilariantes. E sim, o Bud era um idiota.

Bem vindos a Hell-A

Toda esta ação desenrola-se numa versão pós-apocalíptica de Los Angeles, que consegue recriar o luxo da cidade manchado pela epidemia zombie. Ao longo de várias zonas semi-abertas, o Dambuster conseguiu uma recriação fantástica deste destino de luxo. A escolha de um mundo semi-aberto funciona extremamente bem, porque permitiu cortar gordura desnecessária e manter apenas as melhores partes. Cada zona está repleta de detalhes impressionantes, não só a nível gráfico, como até em termos do próprio design. O pôr do sol em Beverly Hills é de cortar a respiração, especialmente com um pano de fundo de mansões de luxo em chamas, com zombies a polvilhar as encostas.

De cortar a respiração, ou a solução perfeita para a crise no imobiliário.

Dead Island 2 consegue mesmo surpreender, especialmente durante as noites, que me fizeram por momentos esquecer quem era o herói do jogo. Explorar uma arcada abandonada, os esgotos da cidade, repletos de biomassa e de zombies mutantes escondidos na água, ou percorrer o cais de Santa Monica de noite, enquanto era perseguido por um zombie mutante com uma máscara: todos estes momentos ofereceram um contraste verosímil e assustador à violência e ação bem-disposta que o dia oferece.

“É absolutamente incrível o nível e variedade de violência que podemos infligir nos zombies. Quase que dá pena. Quase.

Tudo isto é intercalado com momentos de narrativa ambiental que conseguem ser genuinamente hilariantes e cativantes. Tão rápido estamos a reviver a história de um casal que se transformou em zombies durante o seu casamento como enfrentamos um zombie gigante nos bastidores de um filme de terror, com direito a efeitos pirotécnicos!

No que toca à performance, tenho a apontar que encontrei crashes algo recorrentes no jogo, muito provavelmente devido a bugs, visto que aconteciam regularmente no menu, quando navegava pelo menu das armas. De resto, nunca tive qualquer problema durante o gameplay e o próprio estúdio já garantiu que vai lançar uma atualização Day 0, tendo confirmado que está ciente de alguns dos bugs atuais do jogo.

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