Velocidade Furiosa X – Análise

Entrei na sala de cinema consciente de que só havia duas formas de a ‘coisa’ acontecer: ou ia ser um bom Velocidade Furiosa, ou ia querer voltar para casa a uma velocidade furiosa. Como a vida é feita de improváveis, Velocidade Furiosa X está algures no meio, devido a um vilão hilário, que carrega o filme às costas, desde o início. Na verdade, este texto podia ser todo sobre a personagem que Jason Momoa interpreta, nomeadamente Dante, filho de Hernan Reyes (do nosso querido Joaquim de Almeida).

Esqueçam tudo aquilo que conhecem sobre o ator, ou os papéis que o relembram. Esqueçam também todos os conceitos que têm sobre vilões mauzões. Dante Reyes é um filho sedento por vingança, e quando achamos que a morte é o prato que se serve frio, eis que chega esta personagem estranhamente maquiavélica, provando exatamente o contrário. Para vingar a morte do pai, Dante está disposto a tudo para ter Dom (Vin Diesel) nas mãos e fazê-lo sofrer, mesmo que os danos colaterais sejam cidades destruídas e milhares de vidas inocentes em risco.

Quando resumimos a motivação de Dante, parece-nos uma personagem típica de um filme de ação, mas na verdade, é tudo menos isso. Reyes júnior é extravagante, ousado, desprovido de noção, e as unhas pintadas com várias cores, bem como os pompons na cabeça, são apenas uma forma de a personagem conquistar a sua autenticidade. Normalmente, os vilões tendem a ter um rosto mais carregado, caracterizados com cores mais escuras ou frias que remetem para “as trevas”, ou ciclos de melancolia sem fim. A natureza de Jason Momoa serviria que nem uma luva, mas os planos de Velocidade Furiosa X para o ator são, definitivamente, outros.

Não só Dante Reyes nos proporciona uma interpretação de Momoa com a qual nunca sonhámos, como todas as ações do filme são consequência da loucura da personagem. Se existe ação, se ficamos agarrados ao ecrã (aka não adormeci), agradeçam à personalidade estapafúrdia de Dante. Apesar de Dom ser a personagem principal, eu só queria ver Dante no ecrã. Aliás, se a personagem de Vin Diesel tem alguns (poucos) momentos brilhantes é a Dante que os deve.

No geral, fiquei um tanto desiludida com a ação de Dominic Toretto. É quase como se tivesse cumprido os requisitos mínimos, e a mais não é obrigado. Qualquer outra personagem gera muito mais interesse. Como é (também) o caso da personagem de John Cena, que é o tio que todos nós desejaríamos ter; ou até mesmo da Daniela Melchior que, por ser de uma atriz portuguesa, faz-nos sentir automaticamente uma empatia desmedida. E, por mencionar nacionalidades, eis que o nosso Portugal faz parte dos inúmeros países onde Velocidade Furiosa X foi gravado – o que me faz questionar por que motivo estaria Daniela Melchior no Rio de Janeiro a falar português do Brasil; ou Joaquim de Almeida, já que Dante Reyes nasceu em Portugal, e faria sentido introduzir o sotaque lusitano.

Ainda que Velocidade Furiosa X padeça dos seus habituais momentos inexplicavelmente constrangedores, há também momentos engraçados, bonitas homenagens em honra de Paul Walker – como é o caso de uma sequência protagonizada por Brian O’Conner, ou da participação da filha do falecido ator no filme -, e ainda um regresso às raízes das corridas, onde há muito jogo sujo, vontade de ganhar, e sacos cheios de dinheiro em cima do capô.

Velocidade Furiosa X pode vir a ser a reviravolta que a franquia necessitava. Resta saber o que vai acontecer daqui para a frente, já que está mais do que afirmado que vamos voltar a ver Jason Momoa na pele do vilão mais incrível e venerante de sempre. Para manter o papel de personagem principal, Dom vai ter de deixar o estado “velho e cansado” fora da biografia.

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