Miasma Chronicles – Análise

Jogo a jogo, o estúdio Bearded Ladies vem conquistando o seu espaço no campo de batalha dos jogos de táticas por turnos. Depois de Mutant Year Zero: Road to Eden e Corruption 2029, regressa com Miasma Chronicles, um esforço que pode ser muito bem descrito como uma sequela espiritual de qualquer um destes títulos.

Não é por acaso. Afinal, uma das chaves para a vitória em qualquer combate é conhecer o terreno e o Bearded Ladies conhece como a palma da mão o território dos jogos de táticas por turnos em cenários futuristas pós-apocalípticos.

Em Miasma Chronicles, tomamos controlo de Elvis, um jovem considerado um mecânico genial, e do seu irmão robótico Diggs, aparentemente criado para o proteger. Ficamos a conhecer a dupla quando Elvis tenta fechar um portal de Miasma utilizando uma super luva especial, deixada pela sua mãe. Logo nos primeiros momentos, o jogo estabelece a premissa que serve de base para a aventura: Bha Mahdi, a mãe de Elvis, está desaparecida, deixando ao filho a missão de salvar o que resta do mundo – e a chave é a luva que empunha.

Para tal, Elvis terá que aprender a controlar a tecnologia da luva para combater o Miasma, uma substância que parece ter vontade própria e que destruiu praticamente o mundo inteiro. Pelo meio, Elvis e Diggs conhecem novos aliados, desvendam o mistério por detrás de uma família misteriosa que controla o que resta da Humanidade e ainda combatem sapos mutantes.

Sim, sapos mutantes.

Para além de sapos mutantes, também temos cabeças dentro de jarros.

Exploração estratégica

Miasma Chronicles desenrola-se em dois diferentes planos. No primeiro, de exploração, o jogo desenrola-se como um RPG de ação com perspetiva isométrica. Ao comando de Elvis e Diggs, exploramos cenários desoladores, desde minas abandonadas, a cidades em ruínas ou pântanos tingidos de negro – ainda assim, há resquícios de vida neste mundo moribundo, como é o caso do povoamento de Sedentary, que serve de base para as aventuras de Elvis e Diggs.

Cada área está repleta de pequenas peças que ajudam a desvendar a história de Miasma Chronicles, desde diários, a mensagens de áudio de robôs ou exposições que contam os últimos dias de normalidade da humanidade. Os produtores não esconderam a mensagem do jogo, um reflexo claro sobre o capitalismo desenfreado, o consumismo sem travões e a crise ambiental que vivemos.

Não é uma temática que não tenha sido já visitada noutros jogos, mas Miasma Chronicles acaba por fazer aqui um trabalho extremamente competente. Tive mais interesse em explorar o mundo do jogo para desvendar a sua história do que propriamente para desbloquear recompensas, até porque os puzzles que as escondem acabam por ser evidentes e lineares. É uma pena que com um mundo tão interessante, não nos tenha sido dada a liberdade de explorar sem tantas amarras, visto que me limitei quase sempre a seguir do ponto A ao ponto B em cada um dos mapas, tratando da saúde dos inimigos com quem me cruzava.

Os cenários de Miasma Chronicles são genuinamente interessantes.

É aqui que surge o segundo plano do jogo, onde a exploração em tempo real se transforma num combate por turnos. Antes de cada combate – isto se não formos surpreendidos – podemos navegar livremente no mapa, de forma a posicionar os nossos personagens e emboscar os adversários. Se tivermos armas silenciosas, podemos eliminá-los sem abrir hostilidades e até utilizar garrafas para os distrair ou colocar numa situação mais vantajosa para nós. O planeamento acaba por ser essencial para a vitória, até porque estamos em desvantagem numérica na esmagadora maioria dos combates.

Se já jogaram os anteriores títulos do Bearded Ladies, ou se estão familiarizados com o género, vão-se sentir em casa nestes combates. O estúdio segue uma fórmula testada e aprovada por tantos outros jogos, e ainda que não surpreenda, é perfeitamente competente. Cada personagem tem dois pontos de ação base, que pode usar para se movimentar pelo terreno e para disparar a sua arma ou utilizar itens e habilidades.

Cobertura atrás dos obstáculos, probabilidades para atingir os adversários, pontos de vida – Miasma Chronicles segue à letra a cartilha dos jogos de táticas por turnos, mas é nas habilidades que as coisas ganham outro interesse.

À medida que progredimos no jogo vamos desbloqueando habilidades para os personagens. Cada personagem tem uma “skill tree” composta por quatro quadrantes, com habilidades que vão desde a bónus de vida a um ‘Overwatch,’ ou ataques que desfazem armaduras. A isto juntam-se habilidades especiais, que vamos desbloqueando à medida que avançamos no enredo e que são bem mais interessantes.

Se já jogaste algum jogo do género, vais-te sentir em casa.

Com mais opções à nossa escolha, podemos por exemplo, invocar um furacão de miasma para atirar um inimigo para cima de outro, para depois os eliminar com uma granada bem colocada – ou eletrocutar um grupo de adversários. Um pormenor interessante, é que estas habilidades especiais podem ser personalizadas com acessórios, alterando o seu funcionamento. Não posso revelar muito para não entrar em territórios de spoilers, mas à medida que avançamos, ganhamos um domínio cada vez maior do campo de batalha.

Miasma Chronicles não revoluciona o género, mas é mais uma prova da solidez e competência do Bearded Ladies. Não faltam aqui momentos enternecedores entre Elvis e Diggs, que ganham uma força adicional graças ao fantástico voice acting dos atores. Ainda que haja um momento ou outro mais desequilibrado na escrita, Miasma Chronicles manteve-me interessado, ainda que o combate não me tenha surpreendido – mas na verdade, nem tentou assim com tanta força.

Isto vai doer.

Já agora, e tendo que hoje em dia é cada vez necessário realçar este aspeto, corri Miasma Chronicles em mais do que um PC, um deles um portátil equipado com um processador Intel Core i7-10750H, 16 GB de Ram e uma GeForce RTX 2060, que o conseguiu correr com as definições altas, sem qualquer problema, bug ou quebra de performance. Numa máquina equipada com um i7-13700K, 32 GB de Ram e uma GeForce RTX 4070Ti, pude puxar todas as definições ao máximo, e mais uma vez, não encontrei qualquer problema de performance.

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