Embora não subscreva a narrativa de ódio contra Pokémon: Scarlet e Violet, e também não subscreva a visão de que nada se aproveita no jogo, considero-o o pior da linha principal de Pokémon.
As críticas sustentam-se maioritariamente nos mesmos argumentos: bugs, problemas técnicos e problemas de performance. E, embora tudo isso seja efetivamente criticável, está longe de ser o problema de Scarlet e Violet. Mesmo que não houvesse um único bug, um único problema técnico ou um único problema de performance, Scarlet e Violet continuaria a ser um jogo fraquinho.
Regressar quase um ano depois, relembrou-me dos muitos porquês que me levam a olhar para Scarlet e Violet desta forma: é uma experiência frustrante e, sobretudo, aborrecidíssima.
Como fã de Pokémon, o anúncio de novos conteúdos que expandem a aventura para além de Paldea, deixou-me curioso e com vontade de regressar ao jogo. A Nintendo conhece bem os fãs que tem: não importa o quão chateados fiquemos com o lançamento anterior, ficaremos sempre entusiasmados por novos conteúdos, mesmo que aconteçam dentro de um jogo no qual não tivemos uma boa experiência (a lógica não se aplica e eles brincam com as nossas fragilidades).
A expansão Pokémon Scarlet e Violet: The Hidden Treasure of Area Zero divide-se em duas partes. A primeira, intitulada por The Teal Mask, leva-nos numa excursão anual, na qual estudantes de escolas selecionadas visitam áreas rurais e montanhosas da região de Kitakami. Servindo-se da natureza rural e do interior oriental, The Teal Mask inspira-se fortemente na cultura tradicional festiva japonesa para dar forma à narrativa, à estética dos novos Pokémon e também aos lugares que servem de cenário.
Começando precisamente pelo visual, o jogo continua feio. E, novamente, não é feio por ter um grafismo fraco ou pobremente otimizado (que tem). É feio porque não tem qualquer direção artística. The Teal Mask tinha na inspiração a papinha toda feita: os festivais tradicionais de verão que celebram a cultura japonesa. A oportunidade para ornamentar tematicamente a estética do jogo, criando um espaço visual que nos distancie daquele que conhecemos de Paldea, foi rapidamente desperdiçada.
O visual continua vazio, despido de personalidade, nunca me fazendo sentir verdadeiramente fora da região.
Nem sei por onde começar…
A ausência de pessoas, de vida, de música, de iluminação, de tudo o que dá forma a um festival japonês.
Salvam-se os penteados e o delicioso jinbei (roupa tradicional japonesa usada durante o verão) que me ofereceram:
A minha menina nunca esteve tão bonita!
O detalhe está todo investido nas novas roupas e mochilas.
A narrativa acontece algures a meio da história principal (mais ou menos a 5 horas de jogo), mas é possível aceder mesmo que já a tenhas terminado. E surge com isto mais um grande problema. É possível jogar o DLC mesmo com um save concluído, criando muitas incongruências e até problemas de jogabilidade, pois não foi desenvolvido para acomodar os jogadores que já o terminaram. Caso pretendas ter uma experiência mais interessante com este DLC, terás de jogar do início.
Caso já tenhas terminado, isto significa que és campeão da liga, já sabes o que existe na Área Zero, já resolveste todos os mistérios e tens os teus Pokémon pelo menos acima do nível 70. Significa também que todos os diálogos que mencionam o facto de ninguém saber quem tu és, que mencionam o facto de seres um treinador promissor e que mencionam os mistérios da Área Zero, são todos muito estranhos.
Para além disso, e talvez o pior de tudo, como já terminaste o jogo e o DLC não coloca um limite no nível dos Pokémon que podes levar para a aventura, não há um único combate que apresente dificuldade. Todos os desafios estão underlevel e consegues fazer one hit ko a praticamente qualquer treinador. Dado o tema e objetivo desta Parte 1 do DLC – a pesquisa e jornada além fronteiras de Paldea – parece-me que faria mais sentido se acontecesse após completar o jogo.
O esforço concentrou-se então na criação do Pokémon Lendário chamado Ogerpon, o protagonista desta primeira parte da expansão. O design está muito bonito, detalhado com elementos que tanto o conectam às festividades japonesas, como o ligam também à mitologia e folclore japonês.
Gostei muito dele e também de como o aproveitaram tematicamente para expandir a mecânica terastalization.
Ogerpon, o Pokémon Lendário de The Teal Mask.
No entanto, este aspeto positivo é completamente ofuscado por tudo o que o rodeia; em particular pelos dois irmãos irritantes que além de serem o motor da narrativa, são, supostamente, o desafio da expansão.
Quando chegamos a Kitakami, somos apresentados a dois irmãos. Um deles acha que é superior a nós, o outro quer ser superior a nós. Tudo isto para motivar batalhas individuais contra cada um, diversas vezes, ao longo da história. Perdi a conta, mas penso que num par de horas batalhamos com cada um deles umas cinco vezes. E apenas a última é minimamente desafiante, o resto é só perder tempo.
Volta Team Rocket, estás perdoado!
Ainda assim, vale a pena investir em The Teal Mask?
Sim, se:
- És mesmo fã de Pokémon e queres consumir todos os conteúdos independentemente da sua qualidade (onde me encontro, infelizmente);
- Queres completar a Pokédex (são adicionados muitos Pokémon, sobretudo caras familiares de outras gerações);
- Gostas do Pokémon Lendário.