WarioWare: Move It! – Análise

Ninguém faz party games como os japoneses.

Aprecio, claro, umas boas sessões de títulos ocidentais como o Overcooked e também gosto imenso de títulos japoneses mais “dentro da caixa” como Super Smash Bros, Mario Kart e Mario Party.

Mas, quando falo de party games japoneses, falo daqueles que mergulham nas profundezas da criatividade caótica – e de certa forma infantil – que me fazem sentir dentro de um dos seus reclames televisivos:

Ou dentro de um qualquer programa de variedades japonês:

A receita para um bom party game pede sempre uma boa dose de loucura, de inusitado, de criatividade completamente fora da caixa, e tudo isto são características que o Japão já revelou ter e provou dominar.

Um dos jogos que mais joguei na minha infância foi Bishi Bashi, um jogo que continua mais do que viável como escolha para um serão de party games:

Ainda não tinha tido oportunidade de experimentar os party games de Wario, mas assim que comecei a jogar WarioWare: Move It!, regressaram as nostálgicas memórias dos serões de Bishi Bashi. A ideia é a mesma e a loucura está lá perto.

Caso estejas familiarizado com Bishi Bashi, a ideia é muito semelhante. No caso de WarioWare, em vez de mecânicas baseadas em ritmo, velocidade e em esmagar botões, centram-se antes em mecânicas que obrigam o jogador a levantar-se da cadeira e a mexer-se. É, basicamente, uma fusão entre a loucura japonesa e o Eye Toy da PlayStation 2.

Tal como nos títulos anteriores da franquia, WarioWare: Move It! está estruturado por uma gigante compilação de minijogos (para cima das duas centenas). Todos eles são baseados em movimentos com recurso aos sensores dos Joy-Con, obrigando o jogador a a assumir poses semelhantes às do Yoga, para depois realizar um desafio nessa mesma pose.

Para além dos sensores, existem desafios que dão uso à câmara de infravermelhos do Joy-Con, por exemplo existe um desafio que tens de colocar a mão à frente da câmara do Joy-Con, para mimetizar com a mão a forma que te apresentam no ecrã.

Sobre isto, duas notas: primeiro não fazia ideia que o Joy-Con tinha esta capacidade, segundo, fiquei impressionado com a precisão da leitura. Em contrapartida, nos desafios que exigem mais dos sensores de movimento, já senti algumas limitações, não conseguindo executar o pretendido.

A história é, claro, completamente secundária, servindo apenas como catapulta para a loucura de cada desafio, ajudando a justificar as poses que nos propõem. Confesso que geralmente as histórias de party games, quando as há, a não ser que seja algo específico, são completamente dispensáveis. O que realmente queremos são os minijogos e sair vitoriosos.

Talvez por não esperar nada, talvez por ser verdadeiramente engraçada, fiquei surpreendido com as ideias brilhantes da história, sobretudo o humor seco, mas inteligente, criado para justificar cada uma das poses. A velocidade a que os desafios decorrem deixa a sensação de que cada um não precisou de muito tempo para ser criado, mas as várias camadas que os compõem, como por exemplo todo este lore baseado na pré-história para justificar cada desafio, dá-lhe mais sabor e mais conteúdo ao jogo, não sendo apenas e unicamente uma sucessão de minijogos.

Esta grande qualidade, em Portugal, perde-se. Geralmente um party game será jogado em contextos familiares, com pessoas que não percebem inglês. Um jogo desta natureza, não estar disponível com o nosso idioma, retira-lhe muito do potencial que poderia ter no mercado portugês. Fosse ele um party game baseado exclusivamente em desafios, então não seria um problema. Os desafios explicam-se sozinhos e são sobretudo visuais.

No entanto, WarioWare: Move It! vai um pouco mais além nesse aspeto, acrescentando pormenores de história muito engraçados que tornam cada desafio ainda mais divertido e quem não perceber inglês vai perder essa parte, que é efetivamente uma das grandes qualidades deste jogo.

Os desafios são muito divertidos e nascem de uma tremenda criatividade, surpreendendo-nos de minijogo para minijogo, não só pelo desafio em si, mas por todo o humor, lore, estética, animação e voice-acting.

Todas estas qualidades, infelizmente, são apenas qualidades enquanto surgem como surpresa. Funcionam como uma anedota, só têm piada uma ou duas vezes. Depois de algumas horas, e sobretudo depois de conheceres todos os minijogos, a diversão possível de extrair de WarioWare: Move It! perde-se. Embora tenhas à disposição um leque razoável de duas centenas de minijogos, cada minijogo tem apenas uns 3 a 5 segundos, com exceção dos Boss Stages, que são mais demorados e elaborados. Ou seja, passadas umas horas, tens os desafios memorizados.

Curiosamente, não é nos modos mais competitivos que vais encontrar a longevidade do jogo, mas sim nos modos cooperativos. WarioWare: Move It! disponibiliza alguns modos interessantes e até ajuda a dinamizar os minijogos que já memorizaste. Por exemplo, existe um minijogo que tens de manter duas velas acesas, contra mosquitos irritantes que as tentam apagar. Sozinho, este minijogo é bastante simples, mas em modo cooperativo para além de ser mais caótico e desafiante, acrescenta a possibilidade de recuperares a chama da vela, com a ajuda do segundo jogador.

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