Borderlands 3 – Análise

Confesso que além de nunca me ter comprometido com nenhum título da série, não que nunca tivesse jogado um Borderlands antes, simplesmente nunca lhes achei muita piada ou dediquei muito tempo, parti para este terceiro título com um handicap importante, alguma pressa para avançar, ossos do ofício, num jogo onde o prazer está nos detalhes e na gratificação contínua que justifica longas horas de “grind”.

O curioso é que me agarrou o interesse pelos colarinhos quase de imediato, e a culpa é metade da apresentação bem escrita num estilo muito Guardiões da Galáxia se fosse realizado por George Miller, e a outra metade deve-se à tal fragilidade pessoal por sistemas aleatórios de loot e chuva de valores extrínsecos, que foram motivo de anos de “vício” em RPG’s que me recuso a nomear e que são a base de um ‘Shoot n’ Loot’ como Borderlands 3.

Como não tinha a maior das experiências com o sistema de combate de Borderlands, decidi seguir o conselho dos nossos colegas do IGN US e optar por avançar para a aventura com Moze the Gunner, a mais artilhada das quatro opções iniciais que temos ao dispor, quando somos convidados a entrar na carrinha do conhecido traficante de armas de Pandora, Marcus Kincaid.

Moze é, em teoria, a mais acessível das quatro personalidades que podemos escolher, Vault Hunters que quatro anos depois dos eventos de Borderlands 2, se preparam para partir numa nova aventura como membros dos Crimson Raiders: Além de Moze há ainda Amara the Siren, FL4K the Beastmaster e Zane the Operative, grupo que por um conjunto de [in]felizes circunstâncias, acaba enviado para investigar um culto misterioso, os ‘Children of the Vault’, liderado pelos gémeos Calypso, Tyreen e Troy, os principais antagonistas da aventura, que são, pasmem-se, streamers! Mais sobre isto dentro de momentos.

Além de uma ampliada necessidade de associação e pertença a alguma coisa, Pandora pode ser definida pela obsessão que todos têm em abandoná-la e partir para a exploração de diferentes planetas, de modo a reclamar os tesouros e poderes escondidos nos Vaults. Pensem na vontade em que todos pareciam ter em deixar Tatooine, ou Jakku, na saga Star Wars, até pela estética árida de Pandora, que Claptrap tão bem apresenta num dos vídeos promocionais de Borderlands 3 (de seguida).

E é a bordo da Sanctuary III que os Crimson Raiders partem para a dita aventura exploratória pelo espaço, uma de aparente grande escala, mas que reiterando aquilo que começamos por dizer, tem a diversão assente nos pormenores, no apreciar do resultado do efeito que a mais recente arma que adquirimos tem no focinho da uma ou outra criatura. Honestamente chega a ser difícil distingui-las no meio de tantos inimigos.

Este é um problema de género que Borderlands 3 resolve de forma sublime. Outros jogos cooperativos de gratificação constante, como a série Diablo por exemplo, apesar da aparente diversidade de ofertas, acaba invariavelmente por afunilar a base de jogadores num ou outro setup para as classes, uma conta matemática que reduz as opções que inicialmente pareciam avassaladoras, dando-lhes como que uma resposta certa. Borderlands 3 também divide as armas por raridade, com cores que serão imediatamente reconhecíveis para os jogadores, mas oferece-lhes tantas variáveis imprevisíveis, logo desde os primeiros níveis, que vão dar por vocês a alternar constantemente de opção, ora pelo efeito extra da arma, pelo poder ou pelo facto, e nem estou a brincar, desta falar connosco.

O primeiro Borderlands foi dirigido por Matthew Armstrong e lançado em 2010 para PlayStation 3, Xbox 360, PC e macOS X

Os oponentes a mesma coisa, aos muitos inimigos saco de pancada junta-se um conjunto de boss memoráveis, preparem-se para ser surpreendidos porque estes confrontos podem iniciar-se quando menos esperam, e ao contrário do jogo anterior, nota-se um imenso trabalho no gameplay dos disparos, que é o que vão passar 80 por cento do tempo a fazer, e que são prazerosos por si só. Cuidado com as munições. LOOT! primeiro, Shoot depois.

A exploração vai acontecendo quase que acidentalmente e à medida que completamos as diferentes quests, até porque sinceramente, a interface não faz jus à qualidade do gameplay, e a navegação, ou melhor, a condução, é absolutamente sofrível. Ainda estou para perceber se existe algum comando que não estou a executar da melhor forma, sinceramente penso que não. Os Nikko que tive quando era miúdo, não sei se ainda existem mas eram carros telecomandados que separavam os miúdos dos “homens”, eram mais fáceis de conduzir.

O diretor de jogo Paul Sage e a sua equipa acertaram no equilíbrio entre gameplay e gratificação contínua, dinheiro, vida, granadas, novas armas, novos tipos de recipiente. A ação é frenética, sempre divertida e acompanhada de uma notável banda sonora de compositores como Jesper Kyd ou Michael McCann. Quanto à história, onde são centrais os gémeos Calypso, vamos ser honestos, não estávamos à espera que superassem Handsome Jack, mas a verdade é que não lhe chegam sequer aos calcanhares, e a mania millennial, inscrita no argumento e no comportamento dos vilões, ainda torna tudo mais irritante.

Veredito

Resumidamente, Borderlands 3 precisou de pelo menos duas atualizações para afinar alguns dos seus sistemas, mas é facilmente o melhor jogo da série até à data, resolvendo os principais problemas do anterior ampliando sobremaneira a oferta e variedade do armamento. Como não tem associado um elemento competitivo não está constrangido pela necessidade de forçar equilíbrios, o que resulta num caótico número de opções capaz de oferecer centenas de horas de diversão a diferentes tipos de jogador. Se acompanhado de semelhantes, melhor.

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