The Dark Pictures: Little Hope – Análise

The Dark Pictures não é a primeira experiência da Supermassive Games no campo do terror. Em 2015 colocou Until Dawn no mercado, título bastante bem recebido pelos fãs do género, mas também por vários jogadores mais casuais que normalmente não se aventuram neste tipo de entregas. Eu encaixo claramente neste último grupo, e o exclusivo PlayStation 4 acabou por me deixar um pouco entusiasmado pela antologia da produtora lançada no ano transato.

Tal como o nome indica, esta antologia apresenta várias pequenas histórias sem qualquer ligação entre elas. Little Hope é a segunda de oito narrativas que a produtora tem para oferecer, sendo cada uma delas marcada pelas diferentes ramificações por onde pode viajar. Quero com isto dizer que cada decisão tomada pelo jogador influenciará o desenrolar do enredo, bem como o seu final.

Lembro-me que isto funcionou bastante bem em Until Dawn, muito por culpa da nossa ligação com os personagens, ou pelo menos com alguns deles, enquanto que a narrativa me ia colocando desconfortável sem abusar dos sustos. Em Little Hope, infelizmente, senti totalmente o contrário, em ambos os casos, parco desenvolvimento narrativo ou interesse pelas personalidades, enquanto que o desconforto é apenas causado pelos “jump scares.”

Contextualizando a narrativa, sem desenvolver em demasia para não entrarmos em território de “spoilers,” estamos perante um grupo de cinco pessoas, um professor e os seus alunos, que depois de um acidente de autocarro se vê obrigado, literalmente, a procurar ajuda na cidade abandonada de Little Hope. Vamos saltando de personagens, entre o passado e o presente, explorando aquilo que a cidade foi em tempos e aquilo que é agora.

O jogo é totalmente guiado pelo enredo, despido de qualquer elemento que abrace o género de ação ou aventura, onde as escolhas do jogador vão influenciando a relação entre as personagens e, em contrapartida, o desenrolar da história. Estas escolhas, normalmente, dividem-se em ações tomadas com o coração ou com a cabeça, sendo que podemos também decidir não dizer nada. Para além disso, o jogador pode ainda explorar o setting à procura de algumas pistas e fotografias que nos mostram premonições, ou seja, aquilo que vai acontecer no futuro. Tudo isto aliado a algumas QTEs e cobrimos tudo aquilo que o jogo oferece.

guiado pelo enredo, despido de qualquer elemento […] de ação ou aventura…

A verdade é que Little Hope tem tudo o que, em condições normais, faz com que este tipo de jogos funcione, mas a narrativa carece de alma, interesse e terror. Em nenhuma altura me senti desconfortável, e até mesmo cauteloso na escolha, pois o meu interesse pelos personagens roçava o nulo. E mesmo a temática ligada ao oculto e à feitiçaria foi incapaz de despontar o mínimo interesse durante as cerca de cinco horas que ligam o início ao fim da história, apesar de uma entrada forte a nível emocional (sim, o capítulo inicial é o melhor que Little Hope nos tem para entregar).

E voltando a tocar nos protagonistas, a qualidade visual de Little Hope acaba por realizar um fraquíssimo trabalho em tentar passar emoções e frustrações, o que não ajuda a que exista um real interesse por eles. Trata-se de um contraste total com o ambiente que nos envolve, o único elemento que faz jus à temática terror.

No que diz respeito ao gameplay, confesso que senti alguma frustração no controlo dos personagens, principalmente quando a “ação” decorria dentro de uma casa. Ainda assim, na altura de explorar, tirando um ou outro erro, o sistema é capaz e resulta, talvez por culpa dos espaços amplos e do ambiente sombrio supramencionado.

Por fim, uma pequena nota relativa ao modo cooperativo de Little Hope. Esta narrativa pode ser partilhada com outros jogadores, seja online ou localmente, e na verdade a experiência melhora substancialmente, uma vez que não somos apenas nós que mantemos o rumo da história e a partilha fará que o desfecho seja totalmente diferente, graças à perspetiva única que cada pessoa terá sobre a história.

Quando ouço falar de Supermassive Games, estarei sempre à espera que a produtora nos entregue algo semelhante a Until Dawn, mas The Dark Pictures: Little Hope não chega sequer lá perto. A história e personagens carecem de alma e interesse, apesar do jogo entregar bons “jump scares” e um ambiente que faz jus ao género de terror, ao mesmo tempo que apenas o modo cooperativo resulta particularmente bem nas cinco horas que separam o início e o fim do enredo.

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