Yakuza: Like a Dragon – Análise

Yakuza: Like a Dragon, que começou por ser uma piada de 1 de abril, tornou-se realidade, algo que bem vistas as coisas, se mantém na linha de humor completamente absurdo da série Yakuza. Afinal, deixar para trás o combate de ação que sempre marcou a franquia seria um enorme risco. Pois bem, Yakuza: Like a Dragon não só assume o teste, como o cumpre de forma brilhante, mantendo a linha narrativa de traição, honra, crime e mistério da série, com o novo formato de RPG a beneficiar não só a história como também o combate, tornando-o ainda mais caótico e elevando-o para níveis absolutamente ridículos.

Para além do novo sistema de combate, chega-nos também um novo protagonista: Ichiban Kasuga, e à medida que progredimos no enredo do jogo, há uma coisa que fica extremamente clara: Like a Dragon é um RPG porque Kasuga assim o exige, é essa a sua essência e todos os elementos típicos dos RPG japoneses estão intimamente ligados ao enredo e ao herói da história.

Like a Dragon não toma meia medidas neste aspeto, mostrando orgulhosamente as suas influências e tudo aquilo que torna Yakuza na série única e peculiar que é. Nos momentos iniciais de Like a Dragon, somos introduzidos a um mini-jogo onde temos de perseguir um homem que vendeu pornografia não censurada sem pagar a devida taxa aos Yakuza locais. Quando pensa que escapou, Ichiban executa um autêntico mergulho do primeiro andar, digno da WWE, para depois lhe dar uma sova ao infrator e devolver o dinheiro aos adolescentes que este enganou.

Fica montado o cenário que define a restante aventura, Ichiban Kasuga é o típico herói que podemos encontrar num qualquer RPG ou anime japonês: ingénuo, barulhento, pateta, mas sempre bem-intencionado, com um coração de ouro. Nem podia ser de outra forma, afinal o próprio assume-se como o herói de Dragon Quest na vida real, confessando o seu amor pelo jogo, que serve muitas vezes como um norte moral nas suas decisões.

O combate mantém o potencial caótico dos jogos anteriores(…)

A face mais ligeira, bem-humorada e estapafúrdia da história é contraposta com um enredo da vida criminal de uma família Yakuza. Depois de passar 18 anos atrás das grades por um crime que não cometeu, Kasuga é traído por Masumi Arakawa, a sua principal figura paternal e patriarca do Clã Tojo. Exilado em Yokohama, Kasuga está determinado a descobrir a razão por detrás da traição, enquanto se vê envolvido num jogo de xadrez político e criminal entre os gangues da região, The Ijin Three.

A história do jogo beneficia imenso do novo sistema de RPG, que permite juntar um grupo de companheiros ao longo da aventura de Ichiban. Não só dá uma dinâmica diferente ao desenrolar do enredo, como cada um dos personagens tem uma história rica e convincente para contar, ajudando o desenvolvimento do personagem de Ichiban. Embora a história principal de Like a Dragon assuma dimensões algo exageradas, tem contornos bem assentes no chão, abordando temas sérios com uma maturidade inesperada. Sem querer revelar demasiado, posso dar como exemplo a forma como a comunidade sem-abrigo foi apresentada, com uma abordagem extremamente humana e compassiva, em vez de serem demonizados e descartados como muitas vezes acontece.

No que toca ao combate, Like a Dragon brilha. Numa homenagem aos RPGs clássicos, nada foi deixado ao acaso num título que mescla de forma brilhante a narrativa nos combates e em todos os seus sistemas, justificando simultaneamente a escolha. Os inimigos que Ichiban e companhia encontram são figuras completamente ridículas devido à sua imaginação fértil.

Assalariados de fato e gravata transformam-se em “punidores capitalistas”, enquanto exibicionistas abrem os seus casacos e silenciam os membros do grupo. E como não mencionar as emboscadas feitas por sacos do lixo com pernas? Sim, sacos de lixo, com pernas. É todo um catálogo de inimigos por encontrar, derrotar e catalogar na Sujidex, uma clara referência a Pokémon, uma das muitas alusões clássicas de Like a Dragon.


Continua…

Share