Curse of The Dead Gods – Análise

À primeira vista, é muito difícil não pensar no excelente Hades quando olhamos para Curse of the Dead Gods. Confesso que eu foi isso que senti, e verdade seja dita, depois de perder conta das horas no submundo grego, é fácil associarmos os dois jogos.

No entanto, Curse of the Dead Gods merece toda a atenção dos fãs de roguelites e não só, pois é extremamente sólido no que toca aos seus sistemas de gameplay, em especial ao seu sistema de combate.

Para não me alongar em comparações, vou já esclarecer uma coisa, embora a perspetiva, os níveis com armadilhas e recheados de adversários, possam remeter para Hades, tratam-se de jogos bem diferentes, e se por um lado Curse of the Dead Gods não tem uma narrativa como o título da Supergiant – absolutamente fenomenal, dentro e fora do género – a verdade é que aposta, e bem, muitas das suas fichas no combate e nos sistemas que o sustentam.

A premissa é simples, controlamos um explorador que fica preso num templo recheado de perigos e tesouros, e como não poderia deixar de ser, o objetivo é sair com vida deste buraco mortal.

É toda uma dança no gume do risco e da recompensa.

Equipados com uma tocha, uma simples espada e um revólver, somos logo de início apresentado ao nosso primeiro inimigo: A escuridão. Envoltos em penumbra, somos forçados a recorrer à nossa tocha para iluminar o caminho, que pode esconder armadilhas. Claro que não somos forçados a andar sempre com a tocha na mão, podemos acender braseiros espalhados pelos níveis ou, se formos um pouco mais criativos, os próprios inimigos.

E como em qualquer roguelite que se preze, o que aqui não falta é “carne para canhão”, uma horda de inimigos por derrotar, tarefa que em Curse of the Dead Gods se mantém extremamente divertida desde o princípio ao fim do jogo, seguindo a velha máxima na perfeição: Fácil de aprender, mas difícil de dominar.

Temos um sistema de stamina com cinco cargas. Os movimentos e ataques normais não a consomem, mas o último ataque de um combo, os ataques com as armas secundárias ou pesadas e as esquivas, gastam um ponto. Estes pontos regeneram naturalmente, mas quando estamos rodeados de inimigos, um segundo parece uma eternidade. Felizmente existem outras formas de recuperar stamina, para lá de matar inimigos: Se nos desviarmos de um ataque no momento certo recebemos um ponto de volta e se bloquearmos o ataque recuperamos dois, para além de deixar o inimigo vulnerável. É toda uma dança no gume do risco e da recompensa.

A gestão da stamina é especialmente importante quando somos confrontados com inúmeros inimigos, progressivamente mais fortes, e temos o incentivo de os matar o mais rapidamente possível. Quantas mais mortes conseguimos encadear no menor espaço de tempo, mais dinheiro recebemos, o que cria a necessidade de impor um ritmo frenético. A ganância transforma-se em sede de sangue, e dou por mim a dançar por entre inimigos, sempre à procura de multiplicar o meu ouro.

No entanto, tudo tem um preço em Curse of The Dead Gods. Cada vez que avançamos uma sala ou recebemos ataques de determinados inimigos somos infligidos com corrupção, e quando esta atinge o valor máximo, somos vítimas de uma maldição aleatória, com os mais variados efeitos, alguns deles benéficos.

Este é um dos sistemas marcantes do jogo. Há uma maldição que me faz recuperar vida em vez de ganhar ouro quando mato inimigo, por exemplo, o que me permite jogar de forma muito mais agressiva, a troco de não poder comprar itens ou melhorias com o dinheiro conquistado, sendo forçado a lançar-me em mais corrupção, caso queira novas armas na minha exploração.

Outra maldição faz com que a progressão entre salas não cause corrupção, mas em troca esta aumenta ao longo do tempo, o que me obriga a correr freneticamente para saída, colocando uma pressão adicional na exploração. No total, podemos ter quatro maldições, e se há umas melhores que outras, a quinta maldição costuma ser fatal, condenando-me a ver a vida baixar progressivamente, até ficar a um toque da morte.

A ganância transforma-se em sede de sangue(…)

Inevitável como em qualquer roguelite, a morte leva me novamente à estaca zero, onde posso investir os recursos que colecionei ao longo da aventura em melhorias e armas. O arsenal não é extraordinariamente grande, com poucas diferenças entre as armas do mesmo género, que se ficam muitas vezes pelo tipo de dano que infligem nos inimigos. Exceção para as armas amaldiçoadas, visivelmente mais poderosas, com desvantagens à mistura.

Curse of the Dead Gods também faz um excelente trabalho em compartimentar o desafio de bater o templo. Com três níveis é necessário bater cada andar do templo antes de desbloquear o desafio de o correr do princípio ao fim. E para os mais duros, há desafios pontuais que modificam o funcionamento do jogo, como um que retira a interface visual do jogo, ou outro que obriga a usar apenas um arco ao longo de todo a exploração. Uma coisa é certa, sobram-nos razões para voltar ao templo destes Deuses.

Curse of The Dead Gods brilha no seu sistema de combate, fenomenalmente suportado por um conjunto de mecanismos que nos obrigam a pensar sobre o risco das nossas decisões em todos os momentos. A aleatoriedade das maldições imprime-lhe muita flexibilidade e transforma todas as tentativas num frenético quebra-cabeças. A soma de todas as partes do jogo resulta numa experiência que nos mantém agarrados só pela vontade de a bater uma e outra vez.

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