South Park: The Fractured but Whole – Análise

 

South Park: The Fractured but Whole (A Fenda que Abunda Força em português do Brasil) começa de forma inocente. Um gato desapareceu, e um sinal na cidade informa de uma choruda recompensa para quem o encontrar. Os rapazes de South Park decidem então vestir as suas fatiotas de super-heróis para tentarem encontrar o gato, e criar uma nova brincadeira em torno dessa realidade, mas isso é apenas o início. Quinze horas depois, acabámos de salvar o mundo na companhia de Cartman, Stan, Kyle, Kenny, e o resto da rapaziada.

South Park: The Fractured but Whole segue de muito perto a estrutura do jogo anterior, The Stick of Truth, mas em vez de se inspirar em fantasia clássica, é inspirado por super-heróis. A experiência de jogo é muito semelhante, mas as maiores diferenças surgem ao nível do sistema de combate. Enquanto o anterior era inspirado pelos RPG de fantasia, incluindo equipamentos com estatísticas e combates por turnos, The Fractured but Whole segue um modelo mais simples. Agora já não têm de se preocupar com mana para executar os golpes, e os fatos já não influenciam o desempenho do jogador. Agora o foco está no posicionamento das personagens no campo de batalha.

Embora perca alguma profundidade ao nível de gestão da personagem (ainda existem itens e artefactos para melhorar o desempenho), o foco no movimento acrescenta maiores possibilidades táticas no combate. As batalhas ainda decorrem por turnos, mas antes de realizarem uma ação podem mover as personagens através de um sistema em grelha. Alguns golpes acertam o lugar diretamente em frente da personagem, outros em toda a linha à sua frente, e outros nos lugares ao seu redor, por exemplo. É vital posicionar as personagens de forma a potenciar o dano causado, ao mesmo tempo que protegem os mais frágeis ou danificados do inimigo. Os oponentes também têm ataques de área extremamente poderosos, que demoram um turno a ficarem prontos, e em resposta devem fazer o possível para escaparem do raio de ação. O novo sistema de grelha também permite criar algumas combinações de golpes, como empurrar um inimigo contra outro na mesma linha da grelha.

Se são fãs de super-heróis, vão encontrar aqui muitas referências deliciosas, incluindo planos para um universo cinemático, numa clara brincadeira ao que DC Comics e Marvel estão a fazer. Também existem muitas referências à indústria dos videojogos, e também ao próprio South Park, com personagens e eventos que foram retratados ao longo dos anos pela série de animação. A base de todo o enredo está no “The Coon”, o episódio número 183 da série, que revela o alter-ego “heróico” de Cartman.

A escrita do jogo é brilhante, e não poupa nada nem ninguém. Sexo, raça, religião, política, tudo é válido para os guionistas da série e do jogo, e tudo feito com a sensibilidade de um elefante numa loja de porcelana. Por vezes chega a ser vulgar, e muitas vezes absurdo, mas também é divertido, embora nunca chegue aos níveis insanos de Stick of Truth. Esse jogo inclua cenas de violência extrema, uma sequência de aborto, e até Hitler com nazis zombies, entre muitos outros disparates que levaram a grande censura do jogo em vários países. The Fractured but Whole é mais comedido na sua abordagem, ainda que permaneça hilariante.

Quanto ao jogo em si, vão estar a explorar o mundo de South Park numa visão 2D, e embora existam personagens e localizações novas, muito do que vão visitar é idêntico ou semelhante ao jogo anterior, o que causa alguma fadiga. Considerando que uma grande fatia do jogo é dedicada a exploração, isto acaba por afetar a experiência geral. Existem várias missões secundárias para cumprir, desde conseguir um preservativo para um idoso, a investigar quem está a perturbar casas durante a noite, mas um dos maiores objetivos é conseguir tirar selfies com os cidadãos de South Park. Isso vai aumentar o número de seguidores dos “Coon”, mas para conseguirem tirar selfies com alguns cidadãos precisam de cumprir certos requisitos, como realizar um pedido ou ter um número elevado de seguidores.

Considerando que o original consegui captar tão bem a sensação de South Park, não esperávamos que The Fractured but Whole fosse uma experiência de jogo completamente diferente, mas isso não esconde o facto de que é uma experiência muito familiar, por vezes em demasia. Alguns defeitos mantém-se, como o mapa pouco esclarecedor, alguns puzzles fraquitos, e ainda uma frequência excessiva de ecrãs de loading. Outro problema é uma quebra de ritmo em certas partes do jogo, que podem afetar ligeiramente o interesse do jogador.

South Park: The Fractured but Whole é uma boa sequela para The Stick of Truth, ainda que não seja fantástica. É uma compra obrigatória para qualquer fã do primeiro jogo, ou da série, mas faz muito pouco para atrair quem não morreu de amores por The Stick of Truth. Em muitos aspetos, parece uma continuação do antecessor, mais do que uma sequela verdadeira, e para muitos isso será suficiente. Se é o caso, e se apreciam o tópico de super-heróis, vão divertir-se à grande com South Park: The Fractured but Whole.

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