PlayStation Now – Semanas de nostalgia e conveniência

Alguém me consegue explicar porque olho para a biblioteca de jogos PS4 arrecadados ao longo dos anos com o PlayStation Plus e sinto que são “meus”, porque é sempre uma experiência entusiasmante conhecer os novos jogos de cada mês? Bem sei que se tratam de versões digitais e totalmente dependentes do facto de ter uma assinatura ativa, mas ainda assim, não faço [praticamente nenhuma] distinção entre eles e os restantes, aqueles que lá aparecem ao lado na biblioteca, e que são MESMO meus.

O mesmo não acontece com a gigantesca biblioteca de jogos de diferentes eras disponíveis com a assinatura ao PlayStation Now (mais de 600), sendo que essa foi uma das limitações, psicológicas bem sei, que senti ao longo das últimas semanas em que testei o “novo” serviço de streaming que a Sony trouxe finalmente para Portugal, e que deseja transformar numa importante parte do negócio PlayStation ao longo dos próximos anos.

Essa limitação de posse poderá ser ultrapassada dentro de algum tempo admito, a mesma discussão, dúvidas semelhantes, levantou-se quando os jogos digitais se foram substituindo aos físicos, mas penso que neste caso a sensação é bem mais evidente. Pela quantidade, pelo timing e por um outro elemento do gaming que é sempre ignorado por quem procura fazer paralelismos com o streaming de música ou vídeo, as emoções que nascem do envolvimento com um meio interativo.

Não que os jogadores não gostem de ter muitos jogos … mas não são quaisquer jogos, são os “NOSSOS” jogos!

O compromisso com um videojogo é algo bem mais sério do que o experimentar de qualquer série de TV ou filme, estes últimos ganham claramente com a quantidade da oferta, enquanto no caso dos videojogos, existem mesmo desvantagens nessa quantidade. Não que os jogadores não gostem de ter muitos jogos, nada disso, mas não são quaisquer jogos, são os “NOSSOS” jogos! Os mais velhos poderão (hipoteticamente claro), ter passado por uma experiência com a pirataria, onde de repente a oferta era tal que acabavam por não jogar nada, pelo menos não verdadeiramente, como tantas vezes tinham feito no passado, sendo exatamente isso que os apaixonou pelo meio.

“Mas onde é que está a minha dedicação, que me fez decorar mecanicamente todos os truques e manhas de Alex Kidd in Miracle World com apenas 3 vidas?” Era o único jogo que tinha, incluído na memória da minha querida Master System, e foi também o primeiro que arranquei na biblioteca do PlayStation Now, pareceu-me o baptismo adequado. Descobri que não tenho a mesma capacidade ou imaginação para completar informações em falta no ecrã, mas foi delicioso perceber que me recordava perfeitamente de quase todos os segredos e métodos de progressão, especialmente dos primeiros quadros, que na altura devo ter repetido 1 milhão de vezes.

É fácil definir perfis para quem o Now será uma hipótese tentadora: Quem viaja com a consola e tem uma biblioteca digital limitada, óptima opção se existir uma boa ligação à Internet do outro lado; os caçadores de Troféus são outros dos candidatos. Há muito que as companhia aprenderam a aproveitar as vantagens dos perfis, que registam as respetivas conquistas/achievements, os caçadores vão adorar a possibilidade de aceder temporariamente a certos jogos para juntar mais umas taças ao perfil. O Now não oferece uma experiência limitada dos jogos, seria suicídio, e por isso os troféus estão disponíveis para todos.

Imagino-me a assinar o Now para poder jogar o primeiro Red Dead Redemption…

Imagino-me ainda a assinar o Now para poder jogar o primeiro Red Dead Redemption, como tenho feito, sem ter de ir à prateleira buscar a PS3. Mas por outro lado, considerando que iria demorar cerca de um ano a terminá-lo com tantas ofertas a invadir o mercado e outras mesmo ali ao lado no catálogo do serviço, se RDR for mesmo o motivo, era mesmo preferível ir buscar a consola, ou até comprar uma usada, juntamente com o título da Rockstar.

Experenciei algum lag, mas confesso que funcionou de forma bem mais transparente do que esperava. ‘Oh Aníbal, estavas a jogar Alex Kidd…’. Sim ok, a expectativa não era a maior, mas mesmo assim, Red Dead não é um jogo qualquer, mesmo a PS3 demorou até acertar com ele, se bem se lembram.

Conveniência

Tal como os Spotify e Netflix desta vida provaram repetidas vezes, nada bate o streaming num ponto muito importante, a conveniência, o poder iniciar uma experiência com o pressionar de um botão, sem que seja necessário qualquer disco ou download, apenas um carregamento relativamente rápido do software.

A questão aqui é que pelo menos no meu caso, tratou-se de uma solução para um ‘não problema’, a maior parte dos jogos com que estou envolvido atualmente são em formato digital, e por isso com exceção de quando os amigos querem jogar FIFA 19, vá-se lá entender, ou quando descarrego um jogo pela primeira vez, a experiência foi similar. Ora, para os impacientes as companhias inventaram os downloads antecipados e atualizações automáticas, e para os que jogam muitos títulos ao mesmo tempo (gente louca essa!) inventaram as consolas com 1TB. A distinção é mais difícil por esse lado.

UM MUNDO PARA DESCOBRIR

Tal como noutras formas de media, o aspeto mais apaixonante dos serviços de streaming é algo que facilmente ignoramos, mas que é responsável, como bem sabem, por passarmos muitas vezes mais tempo a escolher o que vamos ver, do que a ver de facto uma série ou um filme do Netflix, a descoberta. Graças a estes serviços, e aos seus imensos catálogos, acontece frequentemente vermos coisas, encontrarmos músicas ou autores que nunca teríamos descoberto sem eles. Usando uma frase feita, “é mais pela viagem do que pelo destino final”.

Talvez o mesmo potencial exista para o gaming, estamos com uns amigos no sofá, sim, ninguém me convence a abdicar do couch co-op, escolhemos a opção “jogo cooperativo local” e PUM, encontramos uma experiência nova. É sem dúvida um espaço de descoberta, limitado, sem descurar o tema da quantidade e da diferença que existe no envolvimento com um videojogo, quando comparado com outros meios, de que falei em cima.

Voltando ao princípio e à comparação que fiz com o PlayStation Plus no que concerne ao sentimento de posse, enquanto não me imagino sem uma subscrição deste ativa, não consigo ver muitos motivos para manter o PlayStation Now ao longo de um ano, por exemplo. Esporadicamente é uma experiência positiva, pela nostalgia, conveniência e por ser uma janela para a descoberta de coisas novas, parece-nos a todos um futuro relativamente inevitável, o streaming isto é, mas como forma de distribuição, não como serviço de assinatura, desse modo ainda não me convenceu, muito menos por 14,99€ mês ou 99€ ano.


Aníbal Gonçalves é um entusiasta de videojogos, amante de comics e obcecado pelo que acontece numa galáxia muito distante. Podes segui-lo em @Darthyo

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