O conturbado desenvolvimento de Cyberpunk 2077

Um dos jogos mais badalados dos últimos tempos, que tem captado a luz de todos os holofotes com a simples menção do seu nome, foi novamente adiado, pela terceira vez este ano, mesmo depois de ter atingido o estatuto gold, e de o estúdio polaco, CD Projekt Red, ter garantido que não haveria mais atrasos.

A expetativa é imensa e há boas razões para isso, afinal, a CD Projetk Red desenvolveu uma das franquias mais adoradas dos últimos tempos, cimentando o seu lugar com The Witcher 3: Wild Hunt, um dos jogos mais bem cotados pela crítica e que na nossa análise, ficou a meras décimas da perfeição. A obra literária de Andrzej Sapkowski ganhou fama aos ombros do jogo e ajudou ainda ao sucesso da adaptação para série da Netflix, que colocou Geralt no trono da cultura popular.

Com isto, o nome da CD Projekt Red tornou-se sinónimo de qualidade, adorado pelos jogadores, que ficaram boquiabertos com os DLCs para The Witcher 3, não só pela sua qualidade, como também pelo facto de algum deste conteúdo ser gratuito, algo raro numa indústria cada vez mais dominada pela ganância e sistemas que a sustentam, loot boxes, microtransações, etc.

Ainda sem o palco montado, a revelação de Cyberpunk 2077 foi relativamente discreta. Primeiramente anunciado em maio de 2012, cerca de um ano depois do lançamento de The Witcher 2, foi em janeiro de 2013 que surgiu o primeiro teaser do jogo, que acima de tudo mostrava uma ideia, ainda que muito primária, daquilo que os jogadores poderiam esperar do próximo jogo da CDPR.

A produção de Cyberpunk 2077 apenas arrancou a 100% em 2016, depois do estúdio terminar o trabalho no segundo e último DLC de The Witcher 3, Blood and Wine. Arrancando com uma equipa de cerca de 50 funcionários, o número cresceu exponencialmente, ultrapassando as 400 pessoas em fevereiro de 2019, com algumas publicações a indicar que este número possa ter chegado a 500. Mesmo na sua génese, a CD Projekt Red já sabia que este seria o seu maior projeto de sempre.

O desenvolvimento do jogo levou a CD Projekt Red a abrir novos estúdios para ajudar a dar vida a Cyberpunk 2077. O estúdio da Vratislávia juntou-se aos estúdios na Varsóvia e Cracóvia para dar vida ao RPG futurista. O crescimento do jogo esteve sempre intimamente ligado ao crescimento do estúdio, que gozou de investimento do governo polaco, acabando por tornar-se num dos mais valiosos estúdios europeus.

Em 2018, foi revelado mais um trailer, fechando em grande a conferência da Microsoft na E3. Com a fama de The Witcher 3 a preceder o estúdio polaco, o entusiasmo já estava alto e com esta manobra, continuou em sentido ascendente.

As informações sobre o jogo foram saindo a conta-gotas, alimentando o voraz apetite dos fãs, cada vez mais famintos por deitarem as mãos àquela que lentamente se anuncia como a obra-prima da CD Projekt Red. Rumores e pequenos detalhes, tudo serviu para aumentar a expetativa.

Em 2019, começam a surgir rumores de que a produção podia não estar a correr tão bem quanto o esperado. Num artigo publicado na Kotaku, Jason Schreier revelava que um dos produtores envolvidos no desenvolvimento comparou o processo ao de Anthem, que ficou manchado por um imenso caos.

Foi precisamente na E3 de 2019 que ficou estabelecida a primeira data de lançamento de Cyberpunk 2077, com todas as honras e apresentação de Keanu Reeves, num momento que ficou gravado para sempre na história dos videojogos. Os fãs tinham finalmente um dia para assinalar nos seus calendários – 16 de abril de 2020 – e tudo parecia estar a correr de acordo com o planeado.

Surge em janeiro de 2020 o primeiro adiamento, cai o lançamento na primavera e 17 de setembro torna-se na nova data de lançamento de Cyberpunk 2077. Cresceu a expetativa e com ela rumores sobre as versões da próxima geração. Pouco tempo depois, volta a surgir a ideia de que os produtores estariam sob uma pressão acrescida, forçados a períodos de crunch.

Três meses antes da nova data de lançamento, surge o segundo adiamento. Setembro fica para trás e a nova data de lançamento é estabelecida para 19 de novembro. O estúdio justifica o atraso com a necessidade de garantir o máximo de qualidade ao jogo e os fãs compreendem. Multiplicam-se os vídeos que apresentam detalhes, desde as armas, a veículos, até ao próprio estilo das personagens, torna-se evidente o cuidado e empenho que a CD Projekt Red colocou na produção de Cyberpunk 2077.

Cada vez mais perto da suposta derradeira data de lançamento surgem mais notícias de crunch na empresa. Jason Schreier, agora na Bloomberg, volta a relatar problemas no seio do estúdio, como semanas de trabalho de 6 dias, forçando uma resposta do líder da CD Projekt Red. Ainda assim, o jornalista cita fontes que garantem que o crunch perdura desde maio de 2019, e que muitos funcionários passaram fins-de-semana no escritório e a fazer turnos de 16 horas”.

Agora, a menos de um mês do seu lançamento, depois do estúdio ter garantido que não haveriam mais atrasos e de o jogo ter atingido estatuto Gold, eis que é adiado mais uma vez. Os rituais e macumbas dos fãs não serviram de nada e parece que vamos ter de esperar até 10 de dezembro para visitar em pessoa Night City.

Os relatos de crunch continuam, e é de esperar que os produtores da CD Projekt Red continuem com horários alargados de trabalho, mesmo depois do lançamento do jogo, com fontes a indicar semanas de 100 horas e funcionários que aparentam estar doentes.

Agora, fica a questão no ar: Será 10 de dezembro a verdadeira data de lançamento do jogo mais antecipado dos últimos anos?


Pedro Pestana é viciado em gaming, café e voleibol, sensivelmente nesta ordem. Podem encontrar alguns dos seus devaneios em @pmnpestana

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