Produtores de Biomutant explicam a razão do silêncio

A notícia do lançamento de Biomutant a 25 de maio foi recebida pelos fãs com entusiasmo, mas também com estranheza. Afinal, apesar de toda a antecipação gerada em torno do jogo, os fãs não recebiam novas notícias há vários meses. Agora, a Experiment 101 explicou a razão do silêncio e é simples: queriam focar-se em fazer um jogo sem bugs.

Quem o diz é o diretor do estúdio, Stefan Ljungqvist. Biomutant foi desenvolvido por uma equipa de 20 pessoas, e o próprio Ljunqvist admitiu que era uma tarefa titânica para um grupo tão pequeno. Não tanto pela dimensão do jogo, mas pela sua densidade. O mapa de Bio mutante tem cerca de oito quilómetros quadrados, mas está cheio de criaturas exóticas, tribos adversários, postos para conquistar, tudo a ser explorado pelo protagonista antropomórfico.

Se esta descrição parece estranha, é porque Biomutant é mesmo assim. Na entrevista de Lungqvist para a IGN, foi possível ver cerca de 10 minutos de nova gameplay, e o jogo parece algo retirado de uma versão macabra de Alice e o País das Maravilhas. Segue a história de um avatar criado pelo jogador que tem a tarefa de preservar a Árvore da Vida. O visual e as habilidades da personagem variam consoante a ação de quem joga.

Esta variedade de possibilidades também colocou outra pressão sobre a equipa da Experiment 101. Ainda assim, este estúdio não planeia expandir para lá dos 20 funcionários que trabalham no projeto desde o início. A reduzida dimensão do estúdio facilita certos processos internos, mas é uma limitação em certos casos, nomeadamente na fase final de correção de bugs. “No final do projeto, só consegues corrigir uma certa quantidade de bugs ao longo do dia”, diz Ljungqvist. Por isso mesmo, este último ano da Experiment 101 tem-se focado sobretudo nessas arestas do jogo que precisam de ser limadas.

A dificuldade de encontrar bugs é exacerbada, claro, pelo facto de este ser um jogo de mundo aberto, como já referimos. “Não é fácil encontrar bugs num jogo open-world, e quando são encontrados, temos de os corrigir, o que nos pôs mais um desafio, por sermos uma equipa pequena”.

Apesar do trabalho de quase um ano neste aperfeiçoamento, Ljungqvist reconhece que é praticamente impossível lançar o jogo sem bugs. Biomutant tem um sistema de sandbox muito complexo, o que faz com que um bug ou outro escape pelo controlo de qualidade. Ainda assim, a Experiment 101 quer evitar problemas maiores para Biomutant. “Qualquer jogo é lançado com bugs pequenos, mas estou a falar de bugs que perturbem a experiência do jogo”, diz o diretor.

Não foi só na correção de bugs que o estúdio se focou, mas também no guião do jogo. Ljungqvist garante que o enredo do jogo aumentou de “80 a 85 mil palavras” para cerca de “250 mil palavras” desde 2019. Mais ou menos 150 mil novas palavras, traduzidas em 10 línguas diferentes, para diálogos que estarão espalhados por todo o mapa pequeno, mas denso de Biomutant. E vão estar relacionados com o sistema de Karma do jogo, intitulado Aura, que altera as opções narrativas consoante a aliança – negra ou branca – do jogador.

Além disto, a Experiment 101 também esteve ocupada com uma reestruturação do sistema de tutorial de Biomutant, para introduzir os jogadores a todas as mecânicas complexas do título.

Parece uma tarefa dura, e não há como o negar. Mas Ljungqvist não deixa de realçar a importância de dosear o trabalho do estúdio e evitar burnouts, algo de que ele próprio já sofreu, durante a década em que trabalhou nos Avalanche Studios: “Aprendi muito sobre o assunto. Aprendi a reconhecê-lo”. Mas o diretor da Experiment 101 diz que a THQ Nordic, publicadora de Biomutant, tem dado todo o apoio necessário à equipa neste sentido.

Esta ausência de pressão também tem contribuido positivamente para um desenvolvimento. Afinal de contas, numa equipa tão pequena as consequências de perder um só trabalhador, por falta de energia ou motivação, seriam “devastadoras”.

“Em certas partes, talvez tenhas de o fazer de forma limitada, mas o mais importante é que sejas pago, o que não é assim tão comum na indústria”. Mas a cultura de trabalho da Experiment 101 parece ser saudável, de acordo com o testemunho de Ljungqvist. “Acho que faz parte do nosso ADN não o fazer, e por isso é que, mesmo que o façamos, é controlado. Agora, a caminho do lançamento, estamos preparados para fazer alguns dias, mas não é uma constante. Isso mata-te”.

Com a nova geração de consolas a chegar a cada vez mais prateleiras de jogadores por esse mundo fora, não se deixou de realçar o facto de Biomutant não estar planeado para PlayStation 5 nem Xbox Series X. Ljungqvist também deu uma explicação para isto.

“Quando desenvolvemos o jogo, fizemo-lo na última geração, e olhando sob uma perspetiva de desenvolvimento, é muito importante, porque é mais fácil subires que desceres”. Assim, a versão para PS5 e Xbox Series X não deixa de ser um plano, e algo em que a Experiment 101 pensa claramente.

Não é por ser lançado apenas na última geração que Biomutant terá limitações: o jogo aproveita hardware mais avançado, e existe uma versão disponível para computadores high-end, garante Ljungqvist.

Bugs corrigidos, guião longo, equipa saudável e descansada. Se tudo correr bem, é assim que Biomutant chegará ao mercado, dia 25 de maio, para PlayStation 4, Xbox One e PC.


Gonçalo Taborda nasceu a chorar, estudou para falar e viveu a jogar. Foi ele que inventou esta frase e orgulha-se muito disso. Adivinhou a plot twist do SW:KOTOR antes do final da história e chegou a Silver V no LoL, por um dia. Podes segui-lo no Twitter: @OMelhorTaborda

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