PlayStation Now: Ambição e o caminho que falta percorrer

Ontem, enquanto navegava pelos menus da PlayStation 5, que não me são tão familiares como os da sua antecessora, ainda tenho alguma “dificuldade” em pesquisar os troféus ou fazer algo tão simples como resgatar um código na PS Store, acabei perdido pelo PS Now, o mal-amado serviço de streaming de gaming da Sony, cujo sucesso está longe da outra assinatura da companhia, o Plus, e nem interessa fazer comparações com um certo concorrente em que todos estão a pensar.

O espaço em disco da minha PS5 está praticamente preenchido, consequência de recusar-me a apagar Spider-Man: Miles Morales, Cyberpunk 2077 ou Assassin’s Creed Valhalla, o que torna o Now ideal para aqueles serões de fim-de-semana, como ontem, em que me apetecia ocupar a cabeça, mas não fazia ideia com o quê. A possibilidade de jogar “em fluxo”, como nos diz a maravilhosa tradução da consola, é excelente porque nos deixa fazer algo que geralmente não é possível no gaming deste nível, testar, voltar a testar, experimentar coisas diferentes que de outra forma, nunca conheceríamos.

O catálogo do serviço tem meses melhores do que outros é certo, falta-lhe consistência, mas ainda lá encontramos propostas muito interessantes, como a coleção Bioshock (que é uma falha que não me canso de admitir), Injustice 2, The Crew 2, Dead Cells ou Horizon: Zero Dawn.

Como a Sony insiste em não me fazer a vontade agregando as vantagens do PS Now ao PS Plus, mesmo que isso signifique um aumento de preço ou uma modalidade premium (admitamos que a manutenção dos servidores custa caro), decidi separar uma lista com pequenas coisas que faltam ao Now para tornar-se um serviço de referência para os jogadores PlayStation.

Interface

A PlayStation renovou recentemente a cara das suas plataformas digitais, tanto no que concerne aos serviços dentro da consola, como via browser (desktop ou mobile). Admito que hoje esteja na minoria a navegar pela internet maioritariamente através do computador, o tráfego está consistentemente a ser engolido pelos smartphones, mas é curioso como ao contrário da PS Store, que não consigo usar via browser e prefiro pesquisar através da consola, o Now funciona em sentido oposto.

Ao visitarmos o website oficial dedicado ao Now, facilmente vemos os destaques que interessam à Sony salientar, mais ou menos separados entre novidades e categorias, seguindo-se a opção para conferir, mesmo que em formato de listagem, todos os jogos do serviço, os tais mais de 700 títulos que os materiais promocionais não se cansam de referir. A experiência na consola é diferente e mais direcionada, enfiando-nos categorias e subcategorias pela garganta abaixo, títulos para jogar em família, destaques Indie, exclusivos, jogos aclamados pela crítica, sendo mais difícil aceder a uma filtragem fina. Quero ver os jogos com co-op local por favor, eu sei que estou sempre a pedir a mesma coisa.

Mais clássicos, mais acessíveis

Bem sei que as pessoas não os jogam, ou pelo menos era esse o argumento sempre que alguém questionava os responsáveis da Sony com a retrocompatibilidade, mas acredito que o serviço ficaria a ganhar muito com a possibilidade de ter uma parte maior da história da PlayStation no catálogo.

Jogaria facilmente títulos como Demon’s Souls e Resident Evil 2 para ter exata noção do salto dado com os remakes, certamente revisitaria Battle Arena Toshinden, o meu primeiro na PlayStation, juntamente com Onimusha, Discworld ou Ridge Racer, o único jogo que me fez partir um comando (também maltratei um router com o WoW ok, admito). E já agora, onde está ICO?

Interligação com utilizador

Só me ocorreram jogos com os quais tive uma relação pessoal, e isso leva-me ao ponto seguinte, talvez o mais importante da relação. Já que não é possível usar a nossa coleção de jogos PS, PS2 e PS3 na PlayStation 5, seria tão difícil assim pelo menos associá-la ao nosso utilizador? Isto está mais relacionado com a área de utilizador PlayStation do que com o serviço em si, mas o Now parece-me o local ideal para mitigar o laço perdido, com a possibilidade de usar os jogos em fluxo quando/se estiverem um dia disponíveis na biblioteca.

Preço

Uma assinatura premium não parece estar no horizonte imediato da Sony, mas pagar duas subscrições não é fácil, nem tão eficaz de comunicar pela máquina de marketing da companhia. Porque não um desconto para aqueles que quiserem manter ambas as assinaturas? Tornar o Now mais barato para os subscritores Plus é uma jogada simples, podiam até adicionar o símbolo do Now ao ícone do utilizador, da mesma forma que acontece com a cruz amarela que nos habituamos a ver permanentemente ao lado do nosso avatar. Status meus amigos, não falta quem viva para ele.

Qualidade do fluxo

Admitamos que a qualidade da transmissão via cloud depende de vários fatores, como a largura de banda disponível ou a quantidade de coisas que estamos a fazer com a nossa internet na altura que decidimos streamar um jogo. É normal ter de parar todos os downloads para conseguir usar os jogos do Now em fluxo, e é bom que tenham a consola ligada por cabo ethernet ou numa posição adequada da casa, se quiserem evitar uma boa dose de frustração.

Foi bom terem incluído o Now na interface da PS5, gosto de me envolver com ele, embora como acontece com os Netflix desta vida, passo mais tempo a pesquisar do que a desfrutar do conteúdo. Nunca foi um serviço de streaming livre de problemas, já me deu algumas dores de cabeça, mas funciona e oferece uma experiência ímpar dentro do universo PlayStation.

Streaming PC

A possibilidade de usar o Now no PC é um dos grandes trunfos do serviço, mas o Mac é uma omissão importante, talvez mais ainda porque não são máquinas direcionadas para o gaming. É o meu laptop de referência, onde me habituei a trabalhar, acredito que como eu, há um universo de utilizadores para quem faria toda a diferença ter o Now disponível, um serviço que lhes permitisse abrir uma janela para o mundo da PlayStation quando estão longe do televisor, ou quando esse é inevitavelmente ocupado por coabitantes de superior hierarquia (aka, filhos).

Parte da insistência em falar do PlayStation Now advém do facto de saber ser um serviço com potencial, que mais uma vez, permite abrir os horizontes dos jogadores PlayStation levando os jogos das gerações da Sony para o PC, ao mesmo tempo que lhes aumenta a conveniência e possibilidade de escolha e descoberta quando estão na consola. Percebo ainda assim porque é mal amado, coisas que não mudaram desde a primeira vez que me envolvi com ele, no já longínquo 2019, quando o valor cobrado pela assinatura era bastante menos convidativo.

Continuo a acreditar firmemente que o futuro dos serviços de subscrição de marcas como Xbox ou PlayStation passa por uma assinatura única, mesmo que em diferentes modalidades, mas já que a convergência tem demorado a avançar, há coisas que podem ser feitas para ajudar a acrescentar-lhes valor. Como acontece com qualquer consola, o sucesso do PS Now está especialmente relacionado com preço e catálogo de jogos disponíveis, é útil e oferece experiências únicas a qualquer jogador, mas continua a parecer um beta test para um futuro que a Sony ainda não descortinou.

O PlayStation Now está disponível em três modalidades, para todos aqueles que tenham uma conta PlayStation Network: 9,99€/mês, 24,99€/3 meses ou o mais vantajoso modelo anual, 59,99€/12 meses. Está ainda disponível um período gratuito de experimentação ao longo de 7 dias, que apenas pode ser usado uma vez para cada perfil PlayStation.


Antigo residente de Azeroth, mudou-se para o mundo real para poder escrever sobre as coisas que o apaixonam. Desconfia-se sonhar ser super-vilão. Podes segui-lo em @Darthyo.

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