Knives Out: Todos são suspeitos – Análise

Lembram-se do jogo de tabuleiro Cluedo? Pois bem, Knives Out é uma autêntica homenagem a um dos mais míticos jogos de sempre, envolvendo mistério, investigação, intriga e claro, uma morte por resolver. Bem ao estilo dos clássicos de Agatha Christie, é-nos apresentada uma família extensa, abastada e algo peculiar, que após um dia de celebração conjunta se confronta com a bizarra morte de um dos seus membros mais influentes.

No seio da família todos são suspeitos e todos têm motivos para ter cometido o potencial crime. E como tal, não podia faltar o famoso detetive astuto para resolver o caso, interpretado por Daniel Craig ao melhor estilo de Poirot ou Sherlock Holmes, num registo digno de destaque por parte do actor britânico, com a ironia extra de interpretar um Poirot norte-americano, sendo ele de origem inglesa.

O filme começa de forma curiosa, com um aviso do próprio Rian Johnson, sentado na cadeira de realizador e voltado para o espectador, dando-lhe um toque sobre o que é tratado e fazendo um apelo anti-spoiler para aqueles que têm dificuldade em segurar a língua mal saem da sala de cinema. Isto porque é no mistério e no processo de investigação que está o real prazer da obra. A partir daí é embarcar na viagem do procedimento policial, do jogo do rato e gato e reconstrução de toda a narrativa e acontecimentos, carregados de pistas e de reviravoltas.

Não sendo muito apologista de estar constantemente a tentar adivinhar quem fez o quê e de prever o que vem a seguir quando vejo um filme, aqui isso é inevitável. O enredo é absorvente e acima de tudo, é trabalhado mesmo com esse propósito, de nos deixar a tentar prever e ao mesmo tempo, a duvidar de tudo.

Ao argumento muito bem elaborado, cheio de diálogos interessantes e irónicos junta-se a bela mansão da família, onde decorre a maior parte do filme, um cenário idílico e distante da civilização, para aguçar ainda mais o apetite pelo mistério e emprestar a Knives Out uma atmosfera mais sinistra.

Rian Johnson, que se destacou com o indie “Brick”, deu o salto para o mainstream com o já filme de culto de ficção “Looper”, e mais tarde dividiu o mundo com “Star Wars: Os Últimos Jedi”, faz aqui uma mudança de direção e revitaliza o género “ Whodunnit” com enorme classe e mestria, mostrando que a sua polivalência não se limita à ficção cientifica, criando um jogo que nos puxa e nos prende para descobrir quem fez o quê, como e porquê. E aí reside o maior triunfo desta obra.

Com um elenco cheio de caras conhecidas, onde para além de Craig também se destaca o Capitão América Chris Evans, a atriz espanhola Ana de Armas, que começa a ganhar o seu espaço em Hollywood e brevemente voltará a colaborar com Daniel Craig, como Bond Girl no próximo filme da saga 007. E ainda o veterano Christopher Plummer, que aos 90 anos de idade atravessa uma excelente fase na carreira, cheio de frescura e sem querer mostrar sinais de abrandar.

Knives Out: Todos são suspeitos é um excelente entretenimento, um filme mistério à moda antiga passado na atualidade, algo que lhe confere perspicácia moderna, um ar menos teatral e um tom de comédia negra. Envolvente, divertido e lógico quanto baste para sairmos deste mistério satisfeitos e com uma boa sensação nostálgica de um género de filme já algo esquecido, mas não morto.

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