Conversamos com Joana Ribeiro, Ellie para os amigos

A PlayStation Portugal organizou ontem uma edição especial do MODO PlayStation no seu canal do YouTube para celebrar o lançamento de The Last of Us Parte II, e no qual participaram inúmeros nomes conhecidos da indústria em Portugal.

O IGN esteve representado numa das sessões de gameplay, podem rever toda a emissão aqui, mas ainda antes do “Festival Online” ter início, pudemos conversar um pouco com a “nossa” Ellie, a protagonista do jogo da Naughty Dog, que mais uma vez, tal como sucedeu em 2013, é interpretada pela atriz Joana Ribeiro.

A atriz que este ano fez parte do grupo de 10 atores selecionados para o programa European Shooting Star revelou-se uma adepta do gaming, mas apesar de ter sido uma das primeiras portuguesas a conhecer o final de The Last of Us Parte II, confessou ainda não o ter jogado. Curiosamente, e apesar de ter participado em produções de sucesso como Madre Paula, Paixão, A Teia ou Prisioneira, a maioria dos contactos que recebe online estão relacionados com The Last of Us. Infelizmente, o ambiente tóxico do Instagram levou-a a desativar a conta recentemente.

IGN: Joana Isabel Ribeiro, Ellie para os amigos…

Joana: Ai, não, não, só Joana por favor.

IGN: Não me digas que a tua mãe te trata por Isabel quando está chateada?

Joana: Quando está chateada por vezes trata-me por Joana Isabel, sim. Mas gostava de esquecer essa parte.

IGN: És muitas vezes reconhecida como Ellie?

Joana: Sim. Curiosamente, a maior parte das mensagens que recebo nas redes sociais, é sobre The Last of Us. É algo de que não estava à espera, de repente tenho imensa gente a perguntar sobre o jogo, mesmo para saber que eu iria voltar a fazer a voz da Ellie agora, muita gente a perguntar se o iria fazer, porque tinham gostado imenso.

De todos os trabalhos que eu fiz até agora, curiosamente, a Ellie é a personagens que leva mais pessoa a falar comigo.

IGN: Quanto fizeste a voz dela a primeira vez, era uma propriedade nova, apesar de ser a Ashley Jonhson, imagino que a pressão tenha sido maior desta vez?

Joana: Eu não senti muita pressão porque, não sei, como é uma personagem que eu já tinha feito. E na altura (do primeiro) já havia um grande hype à volta do jogo, por ser da produtora do Uncharted portanto já se estava à espera que o jogo fosse bom.

E sinto uma grande afinidade com a Ellie, é algo natural. É uma das forças deste jogo, o facto das personagens serem tão relacionáveis e tão fáceis de gostar. Isso também é devido aos atores que interpretam a Ellie e o Joel.

É uma das forças deste jogo, o facto das personagens serem tão relacionáveis

IGN: Estou curioso com a questão da linguagem, quantos palavrões achas que gravaste?

Joana: (Risos) Não faço ideia, muitos. Confesso que havia dias, porque houve na altura estava a gravar a dobragem, novela, uma série e um filme ao mesmo tempo, portanto andava assim de um lado para o outro, cansada.

Lembro-me de poder chegar ao estúdio, e ao longo daquelas três horas em que podia gritar os nomes todos, os palavrões todos, era para mim assim um alívio gigante. Quase como ir ao ginásio deitar cá para fora as coisas. Uma das vantagens de dobrar a Ellie.

IGN: Tiveste algum momento que te deixasse particularmente chocada, ao ponto de ser difícil gravar?

Joana: Não porque não penso que o foco seja a violência. Vou dizer algo que foi dito pelo Neil Druckmann, o criador do jogo. “O primeiro foi uma história de amor, o segundo é uma história de vingança.” E não só é uma história de vingança, nós conhecemos a Ellie no primeiro jogo como uma criança que ainda preserva muita coisa da sua inocência, e tens momentos que te transportam para esse lado, como aquela cena das girafas. É incrível, inclusive um dos momentos mais comentados do jogo.

Neste segundo, nós continuamos a ter esses momentos, a encontrar a Ellie, apesar de tudo o que acontece à volta dela, do que acontece no mundo onde vive, consegue sempre arranjar momentos de alegria e de paz, apesar de aos 19 anos já ter perdido parte da inocência que tinha aos 14.

Este jogo tem uma coisa que o primeiro não tinha, é que os jogadores podem tocar guitarra. No meio de tudo o que está a acontecer no jogo, de repente os jogadores podem decidir, ok vou tocar um pouco, relaxar, acho que isso torna tudo mais realista também, porque nem tudo é sobre os infectados e aquela condição.

faz-nos lidar com as consequências das nossas ações e nos confronta com escolhas difíceis

É um jogo que também faz-nos lidar com as consequências das nossas ações e nos confronta com escolhas difíceis, tal como somos na vida real. E uma ação que nós tomamos não é deixada impune neste jogo. Não é, matei aquela pessoa ok. Não, há uma pessoa que morre, e as consequências que isso tem. Apesar da Ellie ser de certa forma a “heroína”, tem coisas boas e coisas más, ela comete erros como toda a gente, acho isso muito interessante. Já no primeiro tínhamos isso, a escolha final do Joel não é, aquela mentirinha. Nós gostamos de acreditar que não, ‘se eu tivesse no lugar dele, escolhia o bem da humanidade.’ Mas depois quando somos confrontados com o bem da humanidade ou uma pessoa que tu amas, se calhar aí já pensavas duas vezes. É aí que o jogo é tão bom.

IGN: Tiveste referência visual do jogo enquanto fazias as gravações? Quanto tempo demora para gravar uma coisa destas?

Dependia, nas cenas de gameplay tínhamos só os gráficos de som, e eu tinha que cumprir os temos, e depois nas alturas mais cinemáticas tinha mesmo a imagem das cenas.

O meu trabalho, não faço ideia de quantas horas foram no total, mas foi desde pra julho-agosto do ano passado, até março. Aliás, já tínhamos começado a quarentena e ainda fui dobrar a Ellie. Portanto, foi bastante tempo, porque há uma atenção enorme aos pormenores e tem de estar tudo… perfeito. E não é só a questão de cumprir os tempo é cumprir a intenção, ainda por cima é uma personagem que já está definida pela Ashley Johnson, o português é muito diferente do inglês, nós não temos a mesma musicalidade deles, e mesmo o número de palavras é diferente, há todo um trabalho por detrás, que começou antes de eu gravar, porque há a tradução. Não faço ideia de quanto demorou, mas foi bastante tempo.

dos jogos que eu conheço, creio que é o que tem uma personagem feminina mais forte.

IGN: Costumas jogar no tempo livre?

Sim, e isso lembra-me aquilo que gosto neste jogo, que é o facto de ter uma personagem feminina muito forte. Isso é uma coisa que não acontece em todos. Por exemplo eu lembro-me que quando estava a crescer e apareceu a PlayStation e isso tudo, era muito mais direcionado para um público masculino, e hoje sinto que há muito mais abertura. Não só abertura para as mulheres mas para todas as pessoas, sinto que há uma grande vontade de mostrar que há pessoas diferentes e que devem ser representada não só nos filmes mas também nos jogos. E acho que esse trabalho tem sido feito nos últimos anos, especialmente no The Last of Us, assim dos jogos que eu conheço, creio que é o que tem uma personagem feminina mais forte.

Para mim é um orgulho enorme poder fazer parte e também acho que é óptimo para as gerações mais jovens, poderem-se ver reflectidas num jogo desta dimensão, acreditar que não são só os homens ou só os rapazes que podem jogar PlayStation e que conseguem matar infectados e salvar o mundo, as raparigas também o conseguem fazer e por vezes até melhor.

IGN: E a pergunta que importa. Já jogaste?

Não, o segundo não joguei. Gostava de ter tido a experiência antes de responder às questões, mas vou ter que jogá-lo na mesma altura de toda a gente.

IGN: Uma pergunta mais polémica, o que achas que falta até que as dobagens se tornem padrão nos videojogos em Portugal?

Eu sei que nós, comparativamente com Espanha por exemplo, não utilizamos tanto as dobragens. Penso que está relacionado com o facto de a partir do momento em que começamos a ler, habituamos-nos a ver legendas. Por um lado isso dá-nos um nível de inglês superior a outros países, agora para a nossa indústria, era importante haver mais dobagens e mais trabalho nesse aspeto.

IGN: Recentemente publicamos um especial com os atores que deram vos às personagens da PlayStation, e na altura da partilha, não te conseguimos encontrar no Instagram. Não tens Instagram?

Eu tinha, mas apaguei a conta há cerca de um mês. Há muito discurso de ódio neste momento nas redes sociais e quis afastar-me disso. Mas pronto o Instagram também não te deixa apagar a conta, apenas desativa aquilo que fiz.

IGN: Muito obrigado Joana, felicidades!

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Antigo residente de Azeroth, mudou-se para o mundo real para poder escrever sobre as coisas que o apaixonam. Desconfia-se sonhar ser super-vilão. Podes segui-lo em @Darthyo.

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