Tennis World Tour 2 – Análise

Embora seja, por direito próprio, uma das modalidades desportivas mais populares do planeta, o Ténis raramente conseguiu uma adaptação competente para videojogo, ignorando muito do elemento simulação em nome de um gameplay divertido e capaz de manter algum flow nas partidas.

É um desporto muito agradável da perspetiva do espetador, com elevada tensão e um elemento de risco-recompensa que quando adaptado a videojogo, arrisca fazer-nos cair rapidamente no terreno da frustração. Foi isso que senti ao longo das primeiras horas que passei com este Tennis World Tour 2, sequela do jogo homónimo de 2018, que regressou com um gameplay renovado, inclinado como nunca no sentido da simulação e com mais terrenos e nomes conhecidos no elenco. Falta-lhe Djokovic para completar o trio maravilha.

perdoem-me os deuses dos gatilhos, temos de ser mais penalizados…

Refiro-me em especial aos erros não forçados, bolas que supostamente deveríamos conseguir devolver sem problemas, mas como consequência de uma má pancada, acabamos por atirar para lá da linha. Se jogaram Ténis sabem que estes representam uma grande parte dos pontos de uma partida, num nível amador sobrepõem-se fortemente aos winners, e mesmo que não cheguem a essa separação nos campos virtuais de Tennis World Tour 2, a balança esteve mais equilibrada do que nunca.

É verdade que conseguir um winner é imensamente mais divertido, muito melhor do que a sensação de ver o oponente a atirar uma bola para fora num 30/40 para nós, sim, mesmo quando ganhamos. Se quisermos ir pelo caminho da simulação, os serviços têm de possuir maior preponderância, o ataque à rede deve ser uma opção viável e eficiente e perdoem-me os deuses dos gatilhos, temos de ser mais penalizados do que é costume e mais cuidadosos do que nunca, evitando a corrente de erros desnecessários.

Tennis World Tour 2 oferece-nos as normais opções para bater a bola de forma frontal, cortá-la para diminuir a velocidade do jogo, aplicar top spin para a troca a fundo do court ou fazer um lob quando o oponente se aventura em direção à rede, no entanto, é extremamente sensível com o timing das pancadas, e se quiserem aplicar força, a coisa é ainda pior. Isto para dizer que apreciei a coragem na forma como o gameplay tenta replicar o funcionamento real do desporto, que passa por um misto de capacidade de antecipação, posicionamento, decisão sobre o tipo de pancada a aplicar e finalmente, temporização e direção, uma mescla onde ainda procuram incluir as condições climatéricas e o sistema de cartas, de que falaremos mais à frente.

Um mau julgamento numa das áreas afeta a pancada de forma irreversível, ao contrário de muitos outros jogos de Ténis, devemos bater a maioria das bolas com um input único no momento certo, aplicar força (aka manter o botão premido) apenas quando vamos jogar confortavelmente acima da rede, largando quando é hora do impacto. Um modelo que está a dar os primeiros passos mas tem por onde crescer, acredito que mesmo faltando muito para que a franquia atinja níveis de excelência, é o caminho certo para os adeptos da modalidade, mesmo os saudosos das poderosas trocas de bola de Virtua Tennis.

O nível de entrada paga o preço maior, apesar do tradicional modo de treino, que não há forma de entenderem merecer muito mais do que isto, só a repetição e a frustração nos leva à necessária skill para começar a ser competitivos e a desfrutar do gameplay. Isso não teria problema, é até louvável, não fossem os pilares que sustentam Tennis World Tour 2, tão fracos. O menu inicial é competente e sugere imensas atividades e modos de jogo, mas depois o interior oferece pouca profundidade e a apresentação é fraca, muito por culpa das animações e modelos dos personagens, que conseguem ser piores do que as do jogo original.

A carreira, que é onde tencionam que passemos mais tempo, é também pobre, a maioria das opções apresentadas, como a celebração de contratos com agentes ou o treino, são meros artifícios para criar a ilusão de que existe variedade, quando na realidade vamos apenas saltando de torneio em torneio, com pouco feedback de real progressão ou pertença ao mundo do ténis. O início é particularmente doloroso, pela franca falta de qualidade do nosso jogador de nível 1, mas principalmente, e isto é verdade, pela sua fantástica camisola, que os produtores fizeram especialmente feia para que todos os jogadores quisessem subir rapidamente até nível 3, pelo menos.

Em volta de tudo isto está o sistema de Skill Cards, que parece um protótipo de microtransações que ficou a meio do caminho. Com o progresso vamos conquistando cartas para adicionar ao perfil do nosso jogador, e que concedem vantagens quando ativadas durante as partidas, podem até afectar as capacidades do oponente, dependendo da carta. Podemos adapta-las ao nosso próprio estilo de jogo, mas a forma mais divertida para usá-las é de forma cruzada com um aspeto bastante divertido de Tennis World Tour 2, os objetivos em tempo real. Basicamente, antes de cada jogo apresentam-nos um desafio particular, “ganhar este ponto só com top spin”, ou “não perder nenhum ponto neste jogo”. São micro objetivos que acrescentam imprevisibilidade, variedade, são a melhor forma de educar os jogadores nas várias pancadas e acabam por combinar lindamente com as Skill Cards.

No cômputo geral destaca-se ainda o investimento feito para conseguir a inclusão de mais atletas, 36 tenistas no total, nomeadamente lendas como Gustavo Kuerten ou Marat Safin, embora esses estejam limitados a um pack extra ou à melhor das edições. Os courts sofrem do mesmo problema, os fãs da modalidade vão gostar de saber da inclusão de 3 courts de Roland-Garros: Philippe-Chatrier, Suzanne-Lenglen e Simonne-Mathieu, que sofrem das mesmas limitações visuais e de ambiente do resto do jogo.

O Ténis continua rei dos desportos de raquete, num mundo que parece progressivamente dominado por uma espécie de variante que conquistou os vizinhos espanhóis e tem em Portugal cada vez mais praticantes, o Padel. Apesar de ser o desporto mais antigo dos videojogos, graças à simplicidade do conceito, ainda não foi encontrado um modelo amplamente aceitável para a física da modalidade, que a replique em todas as vertentes e transfira para um verdadeiro simulador interativo. Sim, vamo-nos contentando a viver a fantasia, mas nesse campo, Tennis World Tour 2 podia ter feito bastante mais.

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