Beautiful Desolation – Análise

O género Point And Click pode estar longe dos seus anos de ouro da década de 90 e início dos anos 2000, mas não perdeu totalmente o seu lugar. A prova disto é Beautiful Desolation. O projeto de Kickstarter é apaixonado no que faz, e importante pelo que tenta fazer.

Antes de começar a jogar Beautiful Desolation, fiquei empolgado pelo ambiente do jogo. Uma África do Sul pós-apocalíptica surgia como uma agradável mudança. Entrei neste título à espera de algo como o filme District 9, onde uma invasão extraterrestre resultou na coexistência entre aliens e humanos – tudo a decorrer, também, na África no Sul.

A história começa em 1976, em Cape Town, onde a chegada de uma nave extraterrestre chamada Penrose provoca uma tempestade. Mark Leslie, o nosso protagonista, tem um acidente de carro, e Charlize, a sua mulher, que também seguia no carro, acaba por perder a vida. O jogo prossegue, com Mark e Don a invadirem a Penrose, mas são capturados e transportados numa nave de prisioneiros. No transporte, a nave deles é abatida, e quando Mark acorda, sozinho, percebe que se passaram várias centenas de anos.

Quando Mark acorda, sozinho, percebe que se passaram várias centenas de anos.

E é assim que entramos em Beautiful Desolation. Perdidos, isolados e sem perceber o que se passa. O primeiro contacto que temos com outra personagem depois do acidente é uma criatura de crânio nu, com o coração exposto, assente num corpo antropomórfico de aranha mecânica. E está longe de ser a personagem mais estranha do jogo.

Esta sensação de desconhecimento, confusão e até frustração é gerida muito bem pela Brotherhood Games ao longo do jogo. Queremos perceber mais sobre o mundo, sobre o que se passou, enquanto encontramos uma civilização desolada, na qual Mark e o seu irmão, Don, parecem ser os únicos sem componentes mecânicos. Perguntamos aos NPC’s o que se passa, em diálogos verdadeiramente nostálgicos que não são incorporados na jogabilidade, mas sim vistos através de um ecrã à parte. Nestes diálogos, percebemos que estamos num futuro suficientemente distante para a pergunta “o que passou?” ser tida como uma sátira, para não ser levada a sério. E, apesar da frustração que isto causa, é algo que faz sentido: se um estranho tivesse viajado para 2021, vindo de um tempo antes da pandemia, fosse ter connosco a perguntar-nos “o que se passou?”, dificilmente iríamos responder de forma séria.

Neste caso, não se trata de uma pandemia, mas sim de um progresso tecnológico desmesurado, que nós próprios temos de compreender na exploração. Beautiful Desolation pede-nos então para compreendermos tanto o mundo que cria como aquilo que os produtores querem que façamos.

“Não entendi”

As mecânicas de jogabilidade traduzem muito bem a confusão que o nosso protagonista sente. No que toca a point and click, o facto de a minha experiência se ter limitado a Pajama Sam, na PlayStation 1, ditou que o meu desconhecimento do género fosse tão grande como o de Mark Leslie quanto a este mundo.

Passei mais tempo do que gostaria de admitir na zona inicial, após o acidente, e durante várias ocasiões no início do jogo temi que esta análise se resumisse a um “Não entendi”. Ainda assim, com o passar do tempo, e olhando para clássicos do género como Monkey Island 2, percebemos que é muito importante encontrar os padrões de um point and click. É necessário perceber como é que os produtores pensam, e o que pretendem que o jogador faça numa dada situação.


Continua…

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