Life is Strange: True Colors – Análise

Esta análise não tem qualquer spoiler, todas as informações sobre a narrativa já foram reveladas em materiais promocionais.


A vida não é cor-rosa

Life is Strange: True Colors é mais um jogo que promete tudo aquilo que a assinatura da franquia já tem vindo a habituar os fãs, desde o lançamento do primeiro Life is Strange, em 2015. Desta vez, é-nos apresentada Alex Chen – a personagem principal – e toda a sua história que cruza com a de tantos outros que vivem em Haven Springs. True Colors prometeu e cumpriu! Temos a fórmula “Life is Strange” à nossa frente: uma personagem intensa + um poder sobrenatural incrível + tragédia + superação + decisão final que dita o fim/ começo de uma nova vida. Quem disse que a vida ou é cor-de-rosa ou preta? True Colors mostra que é de várias cores.

Da tela branca ao quadro de Picasso

Podemos e devemos analisar a franquia Life is Strange como uma tela em branco. Todos nós começamos no mesmo ponto de partida e, à medida que vamos desenvolvendo o nosso “Eu”, vamos tornando a nossa tela mais colorida. Quando a partilhamos com alguém – e alguém connosco – somos confrontados com a complexidade que nos resume enquanto seres-humanos: todos temos histórias diferentes. Life is Strange: True Colors remove o pano que cobre todas as telas daquela que é uma exposição aberta em Haven Springs. Cada risco num quadro representa uma fase da vida e desenvolvimento daquela que vai ser a nossa companhia durante [aproximadamente] 14 horas. Compreender e falar sobre sentimentos e emoções nunca foi fácil, mas esta analogia torna qualquer tela tão complexa como as de Pablo Picasso. E se tivesses, dentro de ti, um poder sobrenatural que te ajudasse a decifrá-las?

A esperança não é órfã

Em Life is Strange: True Colors vais vestir a pele de Alex Chen, uma personagem intensa que possui a capacidade de ver as auras das pessoas e sentir as suas emoções. No entanto, este superpoder é muito mais do que o “identificar”: Alex consegue influenciar positiva ou negativamente as pessoas, controlando as emoções de cada um e, inclusivamente, descobrir a verdade por trás de cada sentimento. É com este poder que Alex vai descobrir o segredo que Haven Springs tem guardado há demasiado tempo.

Alex carrega um passado sombrio. Esteve grande parte da sua vida sujeita ao sistema de adoções, tendo crescido com a ausência de figuras vinculares importantes para o seu desenvolvimento. No entanto, a sensação de abandono e rejeição começa a desaparecer assim que chega a Haven Springs, pronta para iniciar uma nova vida.

É precisamente em Haven Springs que se encontra o irmão de Alex, Gabe Chen, com o qual não tinha contacto há vários anos. Alex começa a viver uma vida “normal”, dando-nos conta da sua resiliência. Consegue um apartamento, faz novas amizades, arranja um emprego e, claro… recupera a relação com Gabe. Alex aprende a amar, a cuidar, a assumir responsabilidades, a perdoar, a viver… até que Gabe morre em circunstâncias, aparentemente, acidentais. Alex não fica convencida quanto às causas da morte do irmão e aí começa a grande aventura de Life is Strange: True Colors.

A perda

A morte de Gabe foi avassaladora para todos em Haven Springs, mas para Alex especialmente. Cheia de convicções, Alex decide investigar a morte do irmão e descobre coisas inacreditáveis sobre a história daquela cidade que comprometem, drasticamente, outras personagens. Alex quer justiça e ela vai fazer por isso, no que depender das nossas escolhas, enquanto jogadores.

Ao longo da viagem, vamos interagindo com personagens apaixonantes. É quase como uma viagem ao primeiro Life is Strange em que, após o desaparecimento da Rachel, somos absorvidos por um mundo repleto de vida, relações, emoções, experiências únicas (daquelas que são vividas apenas uma vez na vida).

Enquanto trabalhamos para desvendar o mistério da morte do irmão de Alex, vamos conhecendo a história de outras personagens e lidamos de frente com temas tão sérios como a doença Alzheimer, a obsessão no namoro, a responsabilidade para com as crianças, entre outros. Life is Strange: True Colors traz estes temas tão reais e atuais para cima da mesa e não nos deixa ficar indiferentes, obrigando-nos a tomar decisões que influenciam diretamente cada uma destas problemáticas e, o rumo que a vida daquelas personagens centrais na ação vai tomar. Por exemplo, vais poder ter um impacto brutal sobre Ethan (a criança mais talentosa que Alex vai conhecer em Haven Springs) e viver com ele uma “experiência real” de um RPG, organizado pela Steph e com a participação dos habitantes da cidade, com o objetivo de ajudar a criança a ultrapassar a morte de Gabe e o sentimento de culpa que reside em si. Sim, prepara-te para te tornares numa personagem de um jogo dentro de um jogo!

Não há Life is Strange sem romance

O amor está sempre presente em Life is Strange e, em True Colors, anda no ar! Em Life is Strange tudo se intensifica: cada interação que temos, cada gesto, cada atenção vai fazer-nos aproximar de alguém, de forma romântica. Em True Colors, podemos optar por ter uma relação amorosa com a Steph ou com o Ryan. É importante referir isto porque, mais uma vez, a franquia escolhe quebrar barreiras e retratar com a máxima naturalidade os temas da bissexualidade, heterossexualidade ou homossexualidade.

És livre de amar quem quiseres, sem o julgamento dos que se opõem e a pressão daqueles que exigem que os representes.

Vivemos num mundo frágil, que talvez esteja a passar uma das fases mais sensacionalistas de sempre. Existe uma linha muito ténue entre o bem e o mal; o certo e o errado; entre o ser contra ou ser a favor; etc. Life is Strange: True Colors trata com naturalidade aquilo que é natural: o Amor. És livre de amar quem quiseres, sem o julgamento dos que se opõem e a pressão daqueles que exigem que os representes. Sem qualquer tipo de filtro, True Colors convida-te (apenas) a viver dentro de uma narrativa e a escolheres, com uma liberdade verdadeira, aquilo que queres realmente.

Uma viola, uma voz, um sonho

Na franquia Life is Strange, a soundtrack é crucial para a experiência de gameplay. A música é algo que intensifica cada momento e transmite-nos determinadas sensações e emoções em momentos-chave. Este fator torna-se ainda mais relevante quando sabemos que Alex tem um gosto especial pelo mundo da música, que se faz acompanhar de uma viola, de uma voz, de um sonho. Isto torna a Alex ainda mais real para nós, jogadores. Aliás, tudo em True Colors está meticulosamente desenhado para que nos possamos relacionar com a narrativa, sem darmos por isso. O grafismo e o detalhe são incríveis e Haven Springs está repleta de vida, com cores, texturas e histórias que, ao se cruzarem, dão movimento à cidade e refletem a relação que temos com os nossos amigos, familiares, colegas de trabalho e conhecidos, na nossa vida quotidiana.

(…) quando te perguntarem qual a tua cor, responde que és um arco-íris.

Todos nós associamos, ou já associámos, um cheiro a alguém… um lugar… uma música… uma cor. Life is Strange: True Colors mostra-nos que tudo na vida tem como base essa premissa – esta fabricada pelas memórias que constroem o nosso ser e nos levam a tomar decisões (nem sempre as mais acertadas) e lidar com as respetivas consequências. Todos nós somos uma tela; todos pintamos a tela de alguém; todos temos a nossa tela pintada por outros também. True Colors ensina-nos conceitos básicos que nos permitem interpretar e chamar às cores, nomes. Por isso, quando te perguntarem qual a tua cor, responde que és um arco-íris.

Aspetos menos coloridos

Ainda que Life is Strange: True Colors seja incrível por tudo aquilo que referi acima, existem alguns erros de carregamento, tempos de loading longos e bugs visuais que acabam por comprometer a experiência de gameplay. Porquê? Porque estamos perante uma narrativa que exige que o nível de envolvimento seja constante, e quaisquer tipos de quebras, comprometem esta questão. Por exemplo, no final do jogo acontece uma sequência rápida de imagens, estas marcadas com uma pausa entre si e, cada vez que a cena seguinte começa, a imagem tem um ‘freeze’ de 2-3 segundos. Há tempos de loading que podiam ter sido evitados, ainda para mais quando precedem uma cinemática. Ao longo das cinemáticas, por vezes, também vemos alguns bugs que desviam a nossa atenção durante aqueles segundos.

Life is Strange: True Colors é um ‘must-play’ para todos aqueles que jogaram o primeiro e sentiram a falta de “qualquer coisa” no segundo. É um jogo de acontecimentos marcantes, emoções fortes e decisões difíceis. Prepara-te para conhecer Haven Springs e desvendar o segredo da cidade que oculta a morte de tantas outras personagens. Mesmo correndo o risco de se tornar em mais uma morte, Alex não desiste de trazer justiça e verdade para todos aqueles que a acompanham, incluindo tu.

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