Dune – Análise

Dune é um dos cabeças de cartaz do ano de 2021, inspirado na marcante obra literária de Frank Herbert, que serviu de base para grande parte da ficção científica moderna. Denis Villeneuve foi o realizador que aceitou passar este massivo universo para o grande ecrã.

Um desafio de proporções galáticas

À partida, a tarefa não era nada fácil: os livros de Herbert contam a história de uma Humanidade que se expandiu muito para lá dos limites do Planeta Terra, estando espalhada por diversos planetas, divididos de forma feudal entre três Casas Nobres, todas sob o comando do Imperador. No centro de todo o comércio e atividade da sociedade, está a Especiaria (Spice) – um composto químico encontrado exclusivamente no planeta-deserto de Arrakis, que origina dos dejetos de Minhocas Gigantes (Sandworms) que caminham pela areia.

A Especiaria confere ao utilizador um aumento das faculdades psíquicas, possibilitando cálculos a velocidades inalcançáveis para um mero humano. É graças a esta substância que a viagem intergaláctica é possível neste universo, pois permite o mapeamento de percursos de modo a evitar asteroides e outros corpos espaciais.

Agora, note-se: este parágrafo conta uma pequena porção da história de um único planeta, numa infinidade de locais explorados pela história de Dune, cuja totalidade do lore se estende por mais de 30 mil anos. É uma ficção incrivelmente rica e inigualavelmente complexa, mas também representa o maior entrave a um filme que se quer mostrar a um público mais generalizado.

A primeira capa de Dune, ditribuída em 1965.

O filme conta com um elenco de luxo, protagonizado por Timothée Chalamet (Paul Atreides), Oscar Isaac (Leto Atreides), Zendaya (Chani), Jason Momoa (Duncan Idaho), Rebbeca Ferguson (Jessica Atreides), entre muitos, muitos outros. São nomes dignos da dimensão da história, e importantes para aproximar mais pessoas de uma história que, à partida, passaria ao lado de um público mais casual.

Dune, que na verdade se chama Dune: Part One, como podemos ver logo no título de entrada, conta a história da Casa de Atreides, que é destacada pelo Imperador para ocupar Arrakis, substituindo a Casa de Harkonnen, uma linhagem caracterizada pela sua violência e um desprezo pela fraqueza. Cabe aos Atreides continuar a colheita de Especiaria naquele planeta, tentando estabelecer uma relação de amizade com os Fremen, o povo nativo de Arrakis.

Mas as ideias do Duque Leto, líder da Casa Atreides, rapidamente saem furadas, mergulhando a família e o planeta num conflito que pode colocar em causa a ordem do Império.

Sinfonia no ecrã

É precisamente em Arrakis que decorre grande parte da ação de Dune, o que só por si já poderia representar uma dificuldade, uma vez que se trata de um planeta inteiramente coberto por deserto e rochas. Mas Denis Villeneuve é inteligente na forma como lida com este problema, apostando numa rotação entre noite, dia, pôr do sol e nascer do sol, mantendo a palete de cores de fundo diversificada. E, quando pode brilhar, Dune brilha, e de que maneira.

Desde os efeitos especiais do filme, às lutas no solo e no ar, passando pelo design das naves, de outros planetas e dos fatos das personagens, tudo é concebido para dar um verdadeiro espetáculo visual. Além disso, apesar de inventivas, todas as máquinas parecem funcionais, em particular as naves que parecem imitar as asas de uma melga, mas que se movem e são afetadas de forma realista pelas condições exteriores ou quando uma das asas se parte.

Mas Dune acerta, acima de tudo, na sua dimensão e na forma como a transmite. Quando falamos de Sandworms, falamos de criaturas com cerca de 400 metros de comprimento, tidas como verdadeiras divindades em Arrakis, pela sua imponente figura física e também por fornecerem a Especiaria. Se Dune falhasse nesse aspeto, teria um grande problema em mãos, mas tal não acontece. Villeneuve escolhe esconder as criaturas debaixo da areia durante grande parte do filme, sendo raras as vezes em que as vemos a emergir. Mas a aproximação de cada Sandworm é sempre tida como um evento massivo, e não é caso para menos.

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