Homem-Aranha: Sem Volta a Casa – Análise

No Way Home. Este nome, por si só, é suficiente para despertar sensações em fãs de filmes, fãs de banda desenhada, fãs da Marvel e francamente em qualquer pessoa que tenha passados os últimos meses nas redes sociais. A antecipação para este filme, o seu possível enredo e, acima de tudo, o possível elenco, tem elevado o filme ao estatuto de fenómeno, comparável (quiçá superior) a Vingadores: Endgame.

Mas, daqui a uns anos, quando alguém decidir ler esta análise num ato de arqueologia digital, pouco disto será relevante. O que importa é o que acontece durante os 148 minutos de filme, e a tarefa não era fácil: Far From Home foi alvo de uma receção crítica mista, com os fãs a apontarem o facto de o Peter Parker de Tom Holland estar demasiado vinculado a Tony Stark. Receavam que o aranhiço perdesse a sua identidade, em prol de servir o Universo Cinemático da Marvel.

Parece que Jon Watts ouviu estes receios, e ouviu estas críticas, porque No Way Home regressa àquilo que faz do Homem-Aranha o Homem-Aranha e, mais importante, àquilo que faz de Peter Parker… o Peter Parker.

A história retoma imediatamente após os eventos de Far From Home, com a identidade secreta do Homem-Aranha revelada por Quinton Beck (Mysterio), que consegue convencer o mundo de que Peter se trata de um vilão. Como seria de esperar, a vida do jovem é virada do avesso. Em desespero, pede ao Doutor Estranho que lance um feitiço que faça com que toda a gente se esqueça do sucedido, para que possa voltar a ser anónimo. Mas, ao realizar o Feitiço, Stephen Strange é repetidamente interrompido por Peter, causando uma falha e uma fissura no multiverso, chamado visitantes inusitados de outros mundos…

Pouco mais se pode revelar além desta sinopse sem estragar as grandes revelações, os momentos mais impactantes, os socos no estômago (literais e figurativos) e os punhais nas costas (idem). Mas confesso que, ao ver os minutos iniciais do filme, o pessimista dentro de mim já falava mais alto do que a criança ou o redator da IGN que por cá coabitam.

Se Peter Parker já não pode ser Peter Parker, quem é que ele é? Para onde vai o elemento que o torna tão relacionável: o facto de que, por trás daquela máscara, pode estar qualquer um, mesmo um miúdo do liceu com dificuldades financeiras que só quer fazer o que está certo.

Se Peter Parker já não pode ser Peter Parker, quem é que ele é?

Estamos a falar de um Peter que já se aventurou pela Europa, que já trabalhou com a SHIELD, que já lutou contra um extraterrestre que queria destruir metade do universo, que tem um fato ultra-tecnológico, e que agora se tornou no homem mais famoso do mundo. No meio de tudo isto, podemos pensar: para onde foi o Peter Parker?

Felizmente, Watts responde-nos: mesmo perante uma fama imensurável, mesmo perante ameaças multiversais, Peter continua a ser Peter porque quer fazer o que está certo, quer ajudar pessoas. Face a Far From Home, vemos um Peter mais consistente, mais inteligente, mais bondoso, mas ainda insolente, imaturo e fundamentalmente imperfeito. E é essa a história de Peter – uma com que todos nos podemos relacionar.

Tom Holland cimenta-se como o Homem-Aranha desta geração, e as suas interações com a MJ (Zendaya) estão melhores que nunca. Apesar de o romance ter sido introduzido de forma abrupta na última película do aranhiço, ganha aqui nova dimensão: Peter e MJ têm tempo para respirar, para se darem a conhecer ao público (e, claro, a química entre Tom Holland e Zendaya, que de facto namoram na vida real, ajuda a dar uma dinâmica fantástica a todas as interações).

Jacob Batalan também regressa ao papel de Ned Leeds, que continua a agir como principal elemento humorístico do filme. É de lamentar que Ned não seja mais aprofundado, e se limite ao rótulo (autoatribuído pela personagem, curiosamente) de “Guy in The Chair”. É o carimbo do humor Marvel neste filme, e não mudará as opiniões de ninguém: quem já gostava continuará a gostar; quem não apreciava ficará na mesma.


Continua…

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