Uncharted: Coleção Legado dos Ladrões – Análise

O milagre da retrocompatibilidade permitia já desfrutar de alguns dos melhores jogos da geração PS4 na mais recente consola da Sony, no entanto, esta Uncharted: Coleção Legado dos Ladrões representa a primeira vez que uma das franquias mais adoradas pelos fãs da Sony, chega verdadeiramente preparada para aproveitar as potencialidades da PlayStation 5.

Adorei Uncharted 4: O Fim de um Ladrão quando foi lançado em 2016, mas por obra do destino nunca tinha jogado Uncharted: O Legado Perdido, pelo que esta coleção foi uma autêntica bênção que aproveitei como se de um novo jogo da Naughty Dog para a atual geração se tratasse.

Começando ainda assim pelo primeiro, que encerrou com chave de ouro o ciclo de Nathan Drake, personagem que se apresentou na PS3 e que vai em breve dar o salto para o grande ecrã, trata-se de uma apaixonante aventura em busca do tesouro do lendário pirata Henry Avery, apoiado no modelo que a própria franquia celebrizou, com um nível de qualidade das chamadas “set pieces”, a roçar a excelência.

Na pele de Drake vivemos segmentos de infiltração, acrobacias e claro, muitos tiroteios, com algum espaço para exploração, ou pelo menos sensação de exploração, aproveitando um impecável design de níveis mais amplo do que aconteceu nos jogos anteriores.

É notório o salto visual da versão PS5, evidente nos ambientes mas também num dos aspetos mais elogiados no jogo original, as expressões faciais. Confesso que fiquei com a sensação de que têm um nível tão detalhado nesta coleção, que chegaram a fazer-me estranhar a caracterização de Drake. Em certas cinemáticas, parecia uma pessoa diferente.

A jornada mergulha-nos num lado mais íntimo e pessoal do protagonista…

Ao lado do protagonista estão caras conhecidas dos fãs da série, Victor Sullivan, Nadine e principalmente Samuel Drake, o irmão que Nathan julgava ter perdido, e cujas condições incitam a aventura em busca de mais um tesouro, onde todos têm um papel a desempenhar. A jornada mergulha-nos num lado mais íntimo e pessoal do protagonista, ao lado de Elena, uma relação que os fãs viram florescer, mas que só vemos “assentar” verdadeiramente em O Fim de um Ladrão.

Tecnicamente, e até pela proximidade com que chegou originalmente ao mercado, o spinoff O Legado Perdido (“Uncharted: The Lost Legacy”) é em tudo semelhante a O Fim de um Ladrão, ainda que a Naughty Dog tenha tido o cuidado de adaptar as animações das protagonistas, Chloe Frazer e Nadine Ross, distinguindo-as do que era tradicional nos movimentos de Drake.

Aquilo que começa por ser uma caça ao tesouro em busca do Golden Tusk of Ganesh, logo se transforma num título mais intimista, que vê a evolução de Chloe para algo mais próximo de uma protagonista. Com o objetivo de cumprir um dos objetivos de vida do pai, recorre à ajuda da mercenária Nadine Ross, partindo até ao misticismo da Índia, local onde decorre a maior parte da ação e que exibe alguns dos mais belos e impressionantes níveis da franquia. Chega a ser insultuoso, para nós e para outros estúdios que se dedicam a aventuras na terceira pessoa a quantidade de detalhe colocado em cada edifício, em cada quarto, sem sequer lá colocarem um item para apanhar. A audácia.

Uncharted [são] jogos extremamente cinemáticos, sem descurar a necessidade de manter a agência…

Muito bom o trabalho visual, de alternância de ações e posição de câmara, o que aliás é um dos pontos fortes da série e tornam os Uncharted jogos extremamente cinemáticos, sem descurar a necessidade de manter a agência, de modo a dar-nos a sensação de que estamos verdadeiramente no controlo.

O Legado Perdido é um título mais curto do que o predecessor da PlayStation 4, essa foi uma das suas críticas, mas julgo que a sua principal “fraqueza” está mesmo no facto de seguir demasiado à risca a receita da série. Éramos capazes de jogar um Uncharted por ano, mesmo sem inovação? Provavelmente sim, mas ao mesmo tempo, o estúdio é reconhecido pelo risco e por surpreender a indústria a cada lançamento, não por passos ao lado.

Se vale a pena jogar? Totalmente, mesmo para os que são particularmente adeptos de Drake e estranharam a escolha do elenco. Acho que Chloe tem pinta de protagonista, tem um “ar bad girl” reforçado por uma beleza exótica. Amy Henning chegou a descrevê-la como o “lado negro de Nate”, merecia inclusive maior destaque na própria franquia, não é provável, mas tinha potencial para assumi-la se o estúdio assim entendesse.

É difícil contrariar a oferta de não um, mas dois Uncharted num único volume, ainda por cima visual e tecnicamente ampliados pelas capacidades da consola de nova geração da Sony. A coleção é especialmente direcionada a quem nunca os jogou, os veteranos vão retirar prazer em revisitar os protagonistas na PS5 antes de ir ao cinema ver o comportamento de Tom Holland, mas claro, a consola tem vários colossos a caminho neste início de ano, e nem sempre os bolsos têm espaço para tudo.

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