Martha Is Dead – Análise

Martha Is Dead, das LKA e Wired Productions, estreou no dia 24 de fevereiro e apresentou-nos a dramática, misteriosa e chocante história de Martha. O pragmatismo do título e os trailers revelados, até ao lançamento, podiam ter alimentado a sensação de que se tratava de um jogo de terror. No entanto, Martha Is Dead veio surpreender com uma história que se distancia do terror trivial centrado em jump scares, massacres ou atividades espirituais.

Martha Is Dead é categorizado como um thriller psicológico. Passa-se em 1944, em plena 2ª Guerra Mundial e, por isso, quando se menciona o terror, é o terror da guerra e o tormento psicológico em volta de um ambiente hostil que condiciona a realidade do mundo. Neste caso, do mundo de Martha.

O jogo tornou-se, rapidamente, num tópico-destaque quando a PlayStation decidiu que o conteúdo era demasiado ‘agressivo’ e, por isso, necessitava de algumas alterações para ser vendido nas lojas da marca (PS4 e PS5). Independentemente das diversas opiniões, o que é certo é que, após esta decisão, os holofotes ficaram todos virados para Martha Is Dead, aumentando, consequentemente, o reconhecimento do trabalho da LKA e Wired Productions.

Iniciei esta aventura na Xbox Series X, pelo que todas as questões gráficas, auditivas, etc., têm a força de uma consola next-gen que não desiludiu a acompanhar a narrativa que (des)une duas irmãs: Martha e Giulia. O jogo apresenta cenas fortes de violência, automutilação e suicídio.


Duas Caras

Martha Is Dead apresenta-nos duas caras iguais: Martha e Giulia. As irmãs gémeas vivem em Itália e crescem separadamente por motivos alheios à inocência de qualquer criança. Apesar de iguais fisicamente, as irmãs são completamente diferentes. Martha é surda, infértil e digna de todo o amor, carinho e cuidado por parte da sua mãe. Por outro lado, e de forma inexplicável, Giulia é repudiada pela mãe desde cedo – o que a faz crescer forçosamente privada de uma infância saudável e feliz, ao cuidado da sua tata (ama).

Enquanto jogadores, controlamos Giulia e cedo percebemos os efeitos da rejeição, desapego e tristeza, no que concerne a um laço que deveria ser intocável ou preservado: o amor entre pais e filhos. Na ausência de afeto e amor paternal, Giulia só podia amar Martha que, por apresentar tais condições/limitações, era merecedora de toda a sua preocupação e dedicação. Martha Is Dead faz-nos passar (rapidamente) pelos anos de crescimento de ambas as irmãs e, quando nos vemos na linha de tempo jogável, já as irmãs são mais crescidas e, por isso, todo o peso e carga emocional associado entre as duas é impossível de ignorar. Apesar de uma difícil comunicação, as duas irmãs amam-se e são a melhor companhia uma da outra.

(…) uma angustiante viagem de cinco horas que nos faz questionar sobre tudo e sobre nada.

Não sendo spoiler para ninguém, o título do jogo prepara-nos para a inevitável separação. Conduzimos Giulia ao lago de sua casa, onde encontra Martha, morta. Toda a cena em si é pesada emocionalmente. Martha é a irmã de Giulia e, por isso, enquanto jogadores, é a “nossa irmã”. Reagimos a esta morte, imediatamente, com muitas questões “Como?” “Quem?” “Porquê?”. Somos interrompidos pelos pais que se aproximam do lago e, quando Giulia se apercebe da situação, instintivamente retira o medalhão de Martha e coloca-o no seu pescoço. A partir daquele momento, Giulia teve de “morrer”, apoderando-se da identidade da irmã, poupando a mãe ao desgosto de perder a única filha que amava.

O stress de viver uma mentira, aliado à descoberta de detalhes cada vez mais perturbadores em volta da morte de Martha, arrasta Giulia para as profundezas da loucura, transformando-a numa narradora cada vez menos confiável. Assim, partimos para a aventura proposta pelas LKA e Wired Productions: uma angustiante viagem de cinco horas que nos faz questionar sobre tudo e sobre nada.

A Guerra

Martha Is Dead é impactante no que concerne à transmissão de emoções/sentimentos fortes associados a eventos reais, como é o caso da guerra. A narrativa tem como pano de fundo a 2ª Guerra Mundial e faz-nos sentir, automaticamente, toda a opressão vivida na época.

O que a produtora quis criar foi uma experiência pesada e emotiva sobre a superação do luto, problemas parentais e as dificuldades de viver numa época em que o mundo está em guerra. Martha Is Dead é tudo isto, com a promessa de navegar profundamente, na mente da protagonista (Giulia), cabendo ao jogador esta desafiante jornada onde reina o medo, o desassossego e a resiliência para encontrar os assassinos de Martha.


Continua…

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