Cult of the Lamb – Análise

Cult of Lamb apresenta-se com uma algazarra de ideias – é uma mistura de vários conceitos diferentes que já vimos bem executados em jogos como Hades, Stardew Valley, Animal Crossing ou Binding of Isaac. À primeira vista e de forma isolada, é difícil perceber como todos se vão encaixar, mas Cult of Lamb não perde tempo e poucos minutos após começarmos a nossa aventura, já estamos a liderar um culto sombrio de adoráveis criaturas como se tivéssemos nascido para isso.

Se ainda não estão esclarecidos com a premissa de Cult of Lamb, é simples: imaginem o Tom Nook de Animal Crossing com um toque demoníaco dos deuses de Lovecraft. É mais ou menos isto que a nossa adorável ovelhinha é.

Depois de sermos executados pelos deuses, somos trazidos de volta à vida por uma misteriosa entidade, The One Who Waits, que nos incumbe com a tarefa de liderar um culto e embarcar numa cruzada contra os restantes deuses desta terra. Ora exploramos dungeons ao estilo de um roguelike, ora tratamos no nosso aldeamento e cuidamos dos nossos fiéis seguidores – nunca há um momento morto em Cult of The Lamb, ao longo da sua relativamente curta dimensão, que dura entre 16 a 20 horas.

É impressionante como os vários sistemas de Cult of Lamb encaixam tão bem entre si. Isoladamente, nenhum deles ultrapassa as suas inspirações – nunca poderia dizer que o sistema de combate de Cult of Lamb oferece as mesmas opções ou adrenalina que Hades por exemplo, nem o sistema de crafting e gestão se chega perto de Stardew Valley ou Animal Crossing. No entanto, quando juntos e embrulhados nesta excelente apresentação e premissa, ajudam a elevar a experiência de Cult of Lamb para algo singular.

Imaginem o Tom Nook de Animal Crossing com um toque demoníaco dos deuses de Lovecraft.

O combate é simples, temos um botão para atacar, outro para usar uma magia e finalmente um terceiro para nos desviarmos dos ataques. Há várias armas e magias que vamos desbloqueando ao longo do jogo e sempre que começamos uma nova dungeon é-nos atribuída uma arma e feitiço aleatório. É um sistema simples, mas que nem sempre funciona na perfeição, pois algumas armas são claramente inferiores às outras e começar uma ‘run’ com um martelo, muito mais lento que as outras alternativas, pode condenar desde logo o nosso progresso.

Ainda assim, nunca é demasiado complicado progredir ao longo destes níveis. Ainda que o combate não seja particularmente profundo, também não é demasiado complicado e nunca precisei de mais do que um par de tentativas para derrotar os bosses de cada dungeon.

A aleatoriedade das ‘dungeons’ também ajuda a quebrar a monotonia, com vários tipos de recompensas para desbloquear e segredos sobre os tenebrosos deuses para descobrir. Uma vez derrotado o boss de cada uma das ‘dungeons’, podemos prosseguir para a seguinte, ou repetir a mesma, ao longo de vários ciclos infinitos, progressivamente mais desafiantes e recompensadores, com recursos, ouro e até seguidores à nossa espera.

Claro que não nos podemos esquecer do nosso rebanho, afinal, um líder de culto tem muitas mais responsabilidades do que bater em infiéis e derrotar falsos deuses.

De regresso à nossa aldeia, temos um culto para cuidar e esta vertente do jogo entrelaça-se perfeitamente com o combate e exploração das ‘dungeons’. Resumidamente, quantos mais seguidores tivermos e mais fé tiver o nosso culto, mais rapidamente desbloqueamos novos edifícios e novas habilidades que nos ajudam na exploração e combate.

(…) vão conseguir sacrificar qualquer um dos vossos seguidores, de tão adoráveis que são?

Para progredir, temos de colocar os nossos seguidores a prestar homenagem à nossa fé e a ouvir os nossos sermões. À medida que o culto cresce, vamos desbloqueando habilidades passivas, que nos ajudam a moldar a nossa religião, o que fundamentalmente muda a forma de gerirmos a nossa aldeia. Temos que manter a fé e lealdade dos nossos seguidores em alta e para isso, existem várias tarefas que vamos ter de desempenhar.

Para além de alimentar o rebanho, temos que cuidar do seu bem-estar, garantindo que têm uma cama onde dormir e que a nossa aldeia não está repleta de excremento, poças de vomitado e o ocasional cadáver. Também convém assegurar a lealdade de cada um dos nossos seguidores, que serve como uma barra de experiência. Podemos dançar com eles, elogiá-los, cumprir tarefas que nos propõem e até suborná-los até com ouro e presentes, e para que a sua lealdade suba e se tornem membros mais valiosos.

E já que falámos em dejetos, podemos obrigar os nossos seguidores a comer taças de cocó – quem nunca imaginou um culto destes?

Ora tudo isto culmina num sistema genial, que nos dá vários pratos para equilibrar, sem que nunca se tornar avassalador. Se abandonarmos o rebanho durante muito tempo durante a nossa exploração, a sua fé e lealdade pode baixar o que pode dar origem a hereges, que querem mandar abaixo a nossa fé.

As soluções são mais que muitas, dependendo do nosso estilo – podemos sacrificá-lo em nome dos Deuses por exemplo! Ou se forem mais benevolentes, como foi o meu caso, podem aprisioná-los e mostrar-lhes qual o verdadeiro caminho. A sério, vão conseguir sacrificar qualquer um dos vossos seguidores, de tão adoráveis que são?

Haverá melhor solução para doutrinar os nossos seguidores do que uma trip com cogumelos?

O rebanho está com fome? Que tal um festim com os ossos dos nossos inimigos para lhes encher a barriga e os corações? Ou porque não um dia sabático em que ninguém trabalha? Haverá melhor solução para doutrinar os nossos seguidores do que uma trip com cogumelos que dura dias? E porque não casar com todos os meus seguidores, visto que sou o líder de um culto?

Tenho a certeza que todas estas perguntas vão suscitar respostas diferentes por parte de todos aqueles que jogarem Cult of Lamb, mas uma coisa é certa, se estão à procura de uma nova experiência do género, este Deus é para vocês.

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