Star Wars: Andor – Análise

Há uma cena, em Star Wars Episódio VIII, na qual a malfadada personagem de Benicio Del Toro tenta explicar que ambos os lados da luta – Império e Rebelião – têm coisas boas e más, pessoas execráveis e outras que querem fazer o que acreditam estar o correto. Star Wars: Andor é o que aconteceria se essa cena fosse bem pensada.

A dualidade no universo de Star Wars já foi tema noutras películas e séries, com a introdução dos Grey Jedi, os caçadores de recompensas com códigos morais dúbios e, claro, toda a história do grande protagonista dos seis primeiros filmes: Anakin Skywalker.

Andor, porém, prometia mais que isso. Nas entrevistas concedidas pelos atores (na IGN Portugal, falámos com Fiona Shaw, que interpreta a mãe de Cassian Andor), as nuances políticas da história eram quase sempre destacadas, o que foi causa de curiosidade e preocupação. A exploração de uma área cinzenta neste universo tem grande potencial, mas quando mal feita pode tornar-se bizarra e forçada, como é o caso da tal cena de Benicio Del Toro.

Felizmente, Tony Gilroy, juntamente com todo o elenco e equipa por trás de Star Wars: Andor, certificam-se de que este não é o caso. Andor é uma história bem escrita, bem contada e bem executada, que já tem lugar reservado no panteão de contos Star Wars.

Em Andor, seguimos a história de Cassian Andor, o guerrilheiro rebelde que conhecemos em Star Wars: Rogue One, um dos grandes benfeitores por trás da descoberta dos planos da Death Star.

Por falar em Death Star, falemos do retrato do Império. Sim, a Rebelião já foi destacada, aprofundada e explorada noutros conteúdos, mas Andor é a melhor representação alguma vez feita desta força aparentemente imparável.

Não há mudanças súbitas de aliança, não há um stormtrooper que se arrepende e percebe que está no lado errado. Há personagens do lado imperial por quem é possível criar uma empatia, que acreditam piamente no que estão a fazer, apesar de estarem presos numa espécie de diligência desvirtuada.

Não há melhor exemplo disto do que Syril Karn, interpretado por Kyle Soller. É um oficial de segurança corporativa que procura combater a burocracia inamovível dos seus superiores, numa busca pelo assassino de dois oficiais.

O mesmo acontece com Dedra Meero, interpretada por Denise Gough. Vemos uma agente do Imperial Security Bureau, que segue o rastilho de uma potencial rebelião, e que vê as suas sugestões e avisos a esbarrarem constantemente numa parede de indiferença, e os seus ideais a chocarem frontalmente com a realidade da sua função.

Esta representação da burocracia e letargia de vários membros das forças imperiais cumpre vários propósitos: humaniza este lado da batalha; torna viável a queda de um Império às mãos de rebeldes; aproxima-nos de personagens como Dedra e Syril. O Império não deixa de ser retratado como algo fundamentalmente mau, mas desta vez há pessoas reais a caminhar naqueles corredores frios e estéreis.


Continua…

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