Layers of Fear – Análise

A história que Layers of Fear nos conta não é estranha para todos aqueles que iniciaram a aventura em 2016, quando a Bloober Team lançou o primeiro título da franquia. Apesar de ter uma narrativa extremamente impactante, e que suscita interesse e curiosidade nos jogadores, o que é certo é que a produtora sabia que havia mais potencial em Layers of Fear, e que a história não poderia ficar por ali.

No primeiro jogo (fevereiro de 2016) jogamos com o pintor, no segundo (agosto de 2016) vestimos a pele da filha do pintor, e no terceiro (2019) acabamos por descortinar uma narrativa isolada que acaba por estar interligada com os títulos anteriores. A Bloober Team quis certificar-se que 2023 seria o ano em que a franquia receberia uma nova vida, não considerando Layers of Fear (2023) um remake, nem tão pouco um remaster. Estamos perante uma reimaginação, onde as histórias são exatamente as mesmas, mas exploradas de forma diferente. Este ano, vamos poder jogar os três títulos num só, e beneficiar do avanço cultural e tecnológico. Ou seja, não só o terror está mais apropriado às tendências de uma jogabilidade moderna, como foi desenhado com recurso ao Unreal Engine 5, resultando numa experiência que faz muito mais jus ao nome da série.

Mas valeria a pena?

Sempre que existe um esforço por parte de uma produtora em refazer um título, considero importante recuar ao jogo base e, com isso, tentar perceber se o investimento em causa é ou não produtivo. Isto porque, às vezes, há conteúdo que o público considera imaculado, e talvez a ideia de uma sequela seja mais vantajosa. E reparem que a Bloober Team, com Layers of Fear, podia mesmo ter dado continuidade, criando mais uma experiência isolada dos primeiros jogos. No entanto, não foi assim que a produtora pensou, e hoje estamos perante um jogo novo com uma história antiga.

A resposta é sim, valeu a pena. Quem é amante de jogos de terror tem um repertório infindável, e o próprio ano de 2023 tem sido bastante promissor no que concerne a novos títulos. Dead Space Remake, Resident Evil 4 Remake, Outlast: Trials, Amnesia: The Bunker, e estão ainda por sair títulos como Silent Hill 2 Remake ou Alan Wake 2. Apesar de a história de Layers of Fear ser aliciante e suscitar particular interesse, o que é certo é que, por termos de comparação com outros, acaba por não entrar na lista dos melhores jogos, talvez por problemas de execução e game design.

Creio que foi nisso que a Bloober Team pensou, e consciente do potencial que a história de Layers of Fear tem, decidiu que a série de terror ia passar a estar na lista de topo de muitos jogadores. Para isso, a estratégia que desenharam é absolutamente admirável.

Conteúdo antigo Vs. Conteúdo novo

Layers of Fear acaba por ser um conjunto daquilo que foi o melhor de 2016 e a inserção de novo conteúdo, este que serve como uma lufada de ar fresco, e que torna a série mais consistente e conexa. Logo no início, não iniciamos a jornada com o pintor, mas sim com uma escritora – a nova personagem. Na pele desta personagem, encontramo-nos num farol extremamente sombrio e solitário. Esta narrativa é completamente nova, e não querendo aprofundar demasiado para não vos estragar a experiência, é mais um daqueles enredos misteriosos que, aparentemente, não têm qualquer ligação com os acontecimentos originais, mas que vamos descobrindo, à medida que jogamos, todo o elo de ligação. Curiosamente, a experiência com a escritora não acontece de uma só vez, com a história principal a ser intercalada com este novo capítulo. Ao fim e ao cabo, é quase como se fosse a tal sequela que mencionei acima, mas inserida no cenário principal. Além desta, há ainda uma nota final (The Last Note), um novo capítulo que tem reservado um lugar muito especial, onde pela primeira vez, os jogadores podem jogar com a artista musical, numa experiência dividida em “Solidão” e “Aceitação”. É caso para dizer que a Bloober Team matou dois coelhos numa só cajadada.

O conteúdo novo também passa por novos documentos, notas, fotografias ou objetos que nos dão mais detalhes sobre a vida das personagens; há imensos puzzles novos que marcam um ritmo de jogo mais desafiante – os quais também opto por não aprofundar para que possam jogar Layers of Fear isentos de spoilers; e aquela que, para mim, foi uma reviravolta brutal na jogabilidade: a lanterna. A lanterna vem revolucionar Layers of Fear: não serve apenas para iluminar o caminho naquele que é um ambiente tipicamente escuro e assustador, mas também para enfrentar inimigos, descobrir mensagens ocultas e resolver puzzles. Depois de ter jogado Layers of Fear agora, questiono-me como é que foi possível jogar o título de 2016 sem esta funcionalidade. Mas na verdade, a conclusão a que chego é que a Bloober Team pensou neste novo projeto com maior complexidade. Em 2016 a jogabilidade era extremamente básica e, por isso, não fazia sentido a inserção de elementos como uma lanterna, ou qualquer outro que acrescentasse responsabilidade aos jogadores.

Layers of Fear mantém a linha dos múltiplos finais. Já o título de 2016 tinha três finais possíveis, variáveis consoante as escolhas dos jogadores. Em 2023, a produtora quis manter essa escolha, com os jogadores a serem os únicos responsáveis pelas próprias interpretações dos eventos que vão ocorrendo. Isto significa que a forma como vocês vão reagir às coisas vai ditar o desfecho da história.

Imersão

Assim que entrei no mundo caótico de Layers of Fear, senti que mergulhei de cabeça numa história sombria, em sítios absolutamente melancólicos e assustadores, numa realidade desfigurada, fria e sinistra. Todas estas sensações são fruto de um excelente design de som e ambiente. A Bloober Team aconselha os jogadores, logo no início, a optarem por uma experiência com fones de ouvido, e eu reitero: usem fones de ouvido. É surpreendente e completamente arrepiante toda a informação que nos chega através do som. Passos, portas a abrir e a fechar, madeira a rachar, gargalhadas longínquas, chuva e trovoada, lâmpadas a explodir, objetos que caem no chão, respirações, e tantos outros que nos fazem estar constantemente tensos, na iminência de algum acontecimento fatal.

O ambiente em si também é incrível. Paredes repletas de quadros sinistros, tapetes velhos que associamos a uma decoração mais requintada, velas acesas, relógios avariados, corredores longos cheios de portas trancadas de um lado e do outro, vultos nas paredes ou janelas, entre outros. A própria luz é também um fator muito importante. Layers of Fear habita na escuridão, mas não ao nível do terceiro episódio da última temporada de Game of Thrones. A Bloober Team quis certificar-se que, mesmo no escuro, temos luz suficiente para ver e sentir aquilo que nos persegue. Todos estes elementos são os causadores do medo, pois conferem realismo a um cenário fictício. E mesmo que sejamos meros jogadores a jogar um videojogo, durante aquele período, somos mais umas almas perdidas num universo assombrado.

Erros imperdoáveis

Tal como referi recentemente na análise a Amnesia: The Bunker, erros visuais ou de performance são altamente prejudiciais numa experiência de terror. Se todos os elementos estão a trabalhar para nos causar a sensação de medo, stress ou ansiedade, basta haver uma quebra/falha para que sejamos facilmente distraídos, perdendo alguma imersão. Em Layers of Fear, os erros não são frequentes, mas os poucos que há podem ser bastante frustrantes.

A dada altura, existe um telefone que tive de utilizar, marcando números. Após descobrir os números certos, marcá-los foi um autêntico pesadelo. Trata-se daqueles telefones antigos que implicam o movimento giratório para marcar os números. Para marcar um simples número, estive cerca de 2-3 minutos, isto porque o movimento giratório não parava, fazendo com que eu tivesse de reiniciar o processo.

Ainda assim, não posso dizer que um telefone antigo foi o meu maior desafio. Na verdade, cheguei a estar 30 minutos a tentar descobrir o que me faltava para avançar, até que desisti e repeti o capítulo em questão. Afinal de contas, não passava de um bug. Após ter reiniciado o capítulo, cheguei àquela parte e consegui progredir com sucesso. No final, fica a sensação de que se não fossem estes erros que comprometem drasticamente a imersão e progresso de jogo, Layers of Fear seria, facilmente, um dos melhores remasters/ remakes/ reimaginações de 2023.

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