EA Sports FC 24 – Análise

O que fazer quando estás a golear na segunda-parte e os minutos finais do jogo teimam em chegar?

Controlar o jogo e descansar a equipa ou continuar a carregar a baliza adversária, em busca de mais um golo bonito?

A razão por detrás desta pergunta é simples: há muito tempo que a EA está à frente nos relvados virtuais. Sem oposição à altura, a EA Sports está confortavelmente na liderança do marcador, a controlar o resultado sem grande esforço necessário. No ano em que deixa FIFA para trás, o recém batizado EA Sports FC 24 não precisava de fazer muito para se manter na posição que há muito detém – a de melhor simulador de futebol da atualidade.

E como culpar a EA? Época após época, as edições de FIFA são consistentemente dos jogos mais vendidos do ano, com o modo Ultimate Team a faturar milhões. Verdade seja dita, o estúdio também não pode reinventar o futebol, mesmo neste ponto de viragem.

Então o que decidiu fazer a EA?

Controlar o jogo, com um ou outro toque de habilidade. EA Sports FC 24 não foge ao que FIFA 23 era, embora surja em campo com uma nova camisola. Graficamente, o simulador da EA nunca teve tão bom aspeto. Há uma melhoria notável relativamente à edição do ano passado, começando nos estádios e acabando nos jogadores – especialmente nas estrelas do costume – mas também há uma palavra a dizer no que toca aos menus, que curiosamente, são o elemento que mais alterações sofreu desde o ano passado.

As melhorias gráficas de FC 24 tendem a ser relegadas para o banco durante a intensidade das partidas, mas saltam à vista nas suas interrupções. Neste aspeto, a EA caprichou com novas sequências dinâmicas que replicam a intensidade de uma partida de futebol. Há sempre um momento para rever as reações do guarda-redes após uma grande defesa, a conversa entre os futebolistas num lançamento, ou a perspetiva do árbitro quando marca um livre.

A indicação dos jogadores mais fatigados é útil, ainda que não seja a única de perceber a forma dos futebolistas.

A isto junta-se uma série de novos infográficos que surgem durante as partidas, que mostram, entre outras coisas, a fadiga dos jogadores, as zonas de remate, ou a cada vez mais popular métrica de golos esperados (xG). Nada disto é revolucionário, mas ajuda a criar uma experiência visual mais apelativa, que vai além do que estamos habituados a ver na televisão, desde que não estejamos a massacrar os botões para saltar estas sequências.

Os detalhes de Realidade Aumentada dão um bom toque ao espetáculo – cuidado com o Mattheus Oliveira!

Os maiores astros do mundo do futebol como Haaland, Bruno Fernandes, Mbappé, ou Vini Jr, estão replicados ao pormenor, tanto na aparência, como no seu estilo de jogo, graças às novas animações personalizadas e a uma das outras novidades de FC 24 – os PlayStyles, que funcionam como uma espécie de multiplicador das habilidades dos futebolistas.

Há uma longa lista de PlayStyles diferentes, que tornam os futebolistas mais capazes num aspeto em particular. Por exemplo, quando Rafael Leão pega na bola, o seu estilo de corrida é replicado na perfeição, com uma passada larga e rápida – e como se isto não fosse evidente pela forma como deixa os defesas para trás, o jogo também faz questão de assinalar a ativação dos PlayStyles com um diamante em cima da cabeça dos futebolistas, algo totalmente desnecessário e distrativo.

Já os PlayStyles+ estão reservados aos melhores futebolistas, o que ainda os torna mais perigosos em campo. Inevitavelmente, há o risco de se sobreporem a todos os outros comuns mortais nos modos competitivos do jogo, à medida que os jogadores vão descobrindo a melhor estratégia e o meta cristaliza. (Alguém se lembra da febre das trivelas de FIFA 23?)

Bruno Fernandes tira satisfações. Visualmente, EA Sports FC 24 está muito bom.

Mesmo fora dos modos mais competitivos, é notório o impacto acrescido dos jogadores que têm PlayStyles+. Os defesas são mais agressivos e difíceis de bater, os passes ao primeiro toque mais precisos, e os cabeceamentos acabam mais vezes no fundo da baliza. Em termos de gameplay puro, esta é possivelmente uma das maiores diferenças face a FIFA 23, não esquecendo as “grandes” novidades de gameplay de FC 24: O sprint controlado, que se situa entre a corrida normal dos futebolistas e o sprint clássico; e o Precision Passing, que no fundo não difere muito dos passes manuais que já marcaram presença na franquia, mas cujo potencial será certamente explorado pelos jogadores profissionais ou nos habilidosos que tenham mãozinhas para isso.

De resto, as coisas não mudaram assim tanto desde o último jogo. FC 24 continua a privilegiar o ataque, com os defesas a terem menos ferramentas para travar os seus opositores. Já os guarda-redes parecem muito mais ativos e imbatíveis entre os postes, com defesas de encher o olho, mesmo que sejam guardiões com classificações mais humildes. Chegam a parecer imbatíveis, não fosse a sua kryptonite as saídas trapalhonas da baliza e os remates controlados, que mais uma vez, parecem ser o segredo para os golos.

Também há novidades no modo carreira, como a visão de treinador, que muda a perspetiva para o banco e que é muito divertida durante 20 segundos, até te aperceberes que não consegues ver claramente para lá do meio campo; ou os mini-jogos de treino que podes efetuar antes dos encontros, para que os teus jogadores tenham um PlayStyle temporário – algo que até pode ser útil quando enfrentas um adversário mais forte. Fora disto, não há grandes diferenças.

O ponto de vista de treinador é uma ideia engraçada, mas em termos práticos, não acrescenta muito.

Já o modo Ultimate Team continua a ser a jóia da coroa de FC 24, mantendo a base que o tornou num fenómeno de popularidade, introduzindo apenas algumas novas funcionalidades, nomeadamente as Evolutions. Mais uma vez – e esta parece ser a expressão que define o FC 24 – não são uma revolução daquilo que já conhecemos, embora sejam bem vindas.

No fundo, este sistema permite-nos melhorar os jogadores da nossa equipa através de vários desafios, que vão desde coisas simples, como jogar partidas contra a AI até tarefas dentro do relvado, como acertar passes ou remates. Desenganem-se aqueles que por momentos imaginaram que a EA ia alterar o funcionamento dos muito criticados pacotes de carta, nesta galinha de ovos de ouro não há mudanças.

De assinalar que navegar no Ultimate Team é muito mais fácil, graças às alterações no menu e às melhorias de qualidade de vida, introduzidas pela EA, que vão agradar aos veteranos.

As Evolutions permitem melhorar as nossas cartas favoritas. Isto permite tornar os nossos jogadores favoritos ainda mais fortes.

Quanto aos restantes modos de jogo, a conversa é a mesma. O Pro Clubs agora chama-se apenas Clubs e recebeu crossplay, o Volta continua a ser um modo secundário e tudo o resto que já conhecemos de FIFA 23 continua aqui presente. Nota-se claramente que o foco da EA se ficou pela apresentação do jogo, mantendo os serviços mínimos no departamento de gameplay. Com isto, não quero dizer que EA Sports FC 24 é um mau jogo, muito pelo contrário. Mas é impossível olhar para ele num vácuo, sem ter em conta as inúmeras edições que o precederam, e como a experiência pouco mudou, mesmo numa época em que a EA podia (e devia) ter arriscado mais.

Em vez de marcar, deslumbrar e matar o jogo, a EA decidiu ser conservadora e jogar à defesa. A vitória já estava mais do que garantida, mas os fãs mereciam mais.

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